Ipec: 45% das mulheres já tiveram o corpo tocado sem consentimento

Levantamento feito com Instituto Patrícia Galvão mostra que 4 em cada 10 mulheres já sofreram importunação sexual e viveram situações de controle e violência

"Não é Não" - Campanha contra o assédio no Carnaval | Foto: Reprodução/Pinterest

Uma pesquisa inédita realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e Ipec (ex-Ibope), com apoio da Uber, revela que 45% das mulheres dizem que já tiveram o corpo tocado sem seu consentimento em local público, mas 5% dos homens admitem já ter feito isso.

O estudo mostra ainda que 41% das brasileiras já foram xingadas ou agredidas por dizer “não” a uma pessoa que estava interessada nelas, 32% passaram por situação de importunação ou assédio sexual no transporte público e 31% disseram que já sofreram abuso sexual ou tentativa.

Em relação aos homens, nenhum deles declarou ter praticado importunação ou assédio sexual no transporte público.

Conflitos nas relações afetivas

A pesquisa revela também que afeto e posse se confundem em parcela significativa dos relacionamentos amorosos: ao término de uma relação, controle, perseguição e calúnia são as agressões mais relatadas.

Mais mulheres (34%) do que homens (25%) declaram terem sido obrigadas, após o fim do relacionamento, a bloquear contato, mudar de telefone (18% das mulheres x 8% dos homens) e registrar um boletim de ocorrência (15% das mulheres x 6% dos homens).

O levantamento mostra que, após o fim do relacionamento, mais mulheres do que homens passaram por situações de perseguição até em casa, trabalho ou local de estudo; entre eles, os não heterossexuais destacam-se como vítimas em todas as situações.

Violência doméstica

As práticas de controle, somadas aos relatos de agressões físicas e verbais, apontam para dinâmicas conflitivas nas relações afetivas de boa parte da amostra, tendo o ciúme como principal catalizador das agressões tanto para homens quanto para mulheres.

  • Segundo a pesquisa, 41% dos brasileiros já sofreram agressão dos parceiros, atuais ou ex, mas penas 26% admitem que já agrediram.

Outro dado mostra que 1 em cada 4 mulheres agredidas declara que a violência doméstica acontece com frequência, enquanto apenas 1 em cada dez homens afirma sofrer violência frequentemente. Além disso, mais mulheres (30%) do que homens (10%) apontam que o parceiro que estava bêbado ou drogado ao cometer a violência.

Os jovens de ambos os sexos, as mulheres e os homens não heterossexuais relatam sofrerem violência sexual dos parceiros.

Percepção sobre a Lei Maria da Penha

“Em briga de marido e mulher todos devem meter a colher” – 93% dos entrevistados consideram que se deve intervir quando se depara com um homem agredindo uma mulher. E maioria (62%) considera que se deve recorrer à polícia, em especial as mulheres; homens citam mais que a interferência deve ocorrer diretamente com o agressor, pedindo ao homem que pare de agredir a mulher.

  • Para 9 em cada 10, amigos e familiares devem intervir se desconfiam ou sabem que a mulher está sofrendo violência doméstica.

A grande maioria considera que a Lei Maria da Penha, que acaba de completar 16 anos de vigência, contribui tanto para que a mulher busque ajuda, quanto para a condenação dos crimes de violência doméstica e a promoção de uma cultura de maior respeito às mulheres.

A pesquisa revela ainda uma visão crítica, além de certa descrença sobre a efetividade da Lei Maria da Penha, que podem ser atribuídas à sensação de impunidade e à percepção de que os representantes da polícia e da justiça dão pouca importância para o problema da violência doméstica:

  • 89% dos entrevistados concordam que os homens que agridem as parceiras sabem que isso é crime, mas não acreditam que serão punidos, e o mesmo percentual avalia que os homens que praticam essa violência também não costumam receber as punições devidas.
  • 76% concordam que a polícia e a Justiça no Brasil tratam a violência contra as mulheres como um assunto pouco importante.

Diante disso, programas de reeducação para homens que cometem violência doméstica são vistos como muito importantes pela maioria da população.

Ainda que grande parte dos homens reconheça positivamente a Lei Maria da Penha, em geral eles concordam mais do que as mulheres com os argumentos utilizados contra a lei. Veja os números.

  • 49% dos homens com 60 anos ou mais e 41% dos homens com ensino fundamental acreditam que a Lei Maria da Penha “interfere em uma questão particular que só diz respeito ao casal”;
  • 38% dos homens com 60 anos ou mais, 37% dos homens moradores da periferia e 34% dos homens com ensino fundamental consideram que a Lei Maria da Penha “é rigorosa demais e prejudica homens que não são criminosos”;
  • 16% dos homens moradores de municípios com até 50 mil habitantes acham que a Lei Maria da Penha “deveria ser anulada, porque bater na parceira pode ser errado, mas não deveria ser crime.

O levantamento faz parte da pesquisa de opinião “Percepções sobre controle, assédio e violência doméstica: vivências e práticas” e tem como objetivo de compreender e analisar as experiências e percepções da população brasileira sobre o recurso à violência, práticas invasivas e de controle e situações de importunação, perseguição, assédio sexual e violência doméstica.

Para tal, foram realizadas 1.200 entrevistas, sendo 800 com homens e 400 com mulheres, entre 21 de julho e 1º de agosto. Todos maiores de 16 anos. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Acesse a íntegra da pesquisa aqui.

Autor