Lula: Vamos precisar de todo mundo

Sabia, como disse, ter enfrentado a mais dura eleição da vida dele, a colocar frente a frente dois projetos opostos de País

Foto: Ricardo Stuckert

Passou longo tempo na prisão.

Depois de uma impressionante campanha nacional e internacional, acabou solto.

Preso, soube dos esforços decisivos para a prisão dele.

Esforços dos EUA, implacável adversário.

Houve propostas de rendição, jamais aceitadas.

Da prisão, saiu mais forte.

E tornou-se presidente do País.

Voltou aos braços do povo, razão da vida dele.

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Combateu o ódio, a intolerância.

Tornou-se assim um dos maiores líderes da Nação que tanto amava.

E um dos maiores líderes do mundo, admirado por toda a humanidade.

Celebrado pela ONU.

Ao sair da prisão, não saiu destilando ódio.

Pregava o amor.

Não um sentimento piegas, mas sentimento capaz de unir uma Nação.

Sentimento cujas raízes ancestrais podem ser procuradas na origem da civilização.

Sentimento poderoso, capaz de inundar a alma da humanidade, e de invadir os livros sagrados das religiões, daquelas alicerçadas em livros.

Ou daquelas outras, cuja sobrevivência se baseia na história oral, na sabedoria dos ancestrais.

E com tal sentimento, uniu a Nação.

Pra jamais ser esquecido.

Não estou falando de Lula.

Mas, de Mandela.

De Madiba.

Ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela | Foto: Reprodução

Não falo do Brasil.

Mas da África do Sul, onde o racismo era perverso, cruel.

As mãos do Estado caindo pesado nas costas dos negros pelas mãos dos brancos racistas.

Ditou sentença famosa:

Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião.

Para odiar, é preciso aprender.

E se podem aprender a odiar, as pessoas podem aprender a amar.

A confusão do leitor, no entanto, ao começar a ler o texto, justifica-se.

Mandela e Luiz Inácio, tudo a ver.

Madiba e Lula, tudo a ver.

Como Mandela Madiba, quiseram enterrar Lula em vida.

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Acreditaram nisso.

E se juntaram para encerrar a vida política dele.

Como Madiba, ressuscitou.

Na prisão.

Não se acomodou, não se acovardou.

Carregava o sentimento do mundo, tinha causa.

E ao ter o sentimento do mundo e ter uma causa, o País e o povo, o Brasil e a gente do Brasil, enquanto preso, celebrado pela humanidade, visitado por ela, continuou vinculado à Nação.

Certo de que a idade, tivesse causa, sonhasse sonhos, não era nada – sentia-se jovem, muito jovem aos 77 anos.

Certamente, recordou-se, ao saber da eleição na noite de 30 de outubro deste 2022: Madiba tinha praticamente a mesma idade, quando eleito presidente, em 1994, depois de ter saído da prisão.

Nelson Mandela em seu discurso de posse como Presidente da África do Sul | Foto: Reprodução

Por que ele não poderia?

Saiu da prisão sem nenhum ódio, ressentimento, sem qualquer desejo de vingança.

E caminhou pelo mundo.

E recebido com imenso carinho, não obstante sem o cargo de presidente, mas sempre recebido como tal.

Mundo parecia adivinhar.

Adivinhou.

E chegou com um notável discurso, inspirado no amor e no esforço de unir o Brasil.

Sabia, como disse, ter enfrentado a mais dura eleição da vida dele, a colocar frente a frente dois projetos opostos de País.

Venceu o País mais generoso, mais fraterno.

Foi vitória não dele, mas do povo brasileiro.

De um povo a desejar mais e não menos democracia.

Mais liberdade, igualdade e fraternidade – face à barbárie, chegasse a Revolução Francesa à nossa terra, tardiamente fosse.

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O Brasil precisa se reencontrar consigo mesmo.

Combater a extrema pobreza, a fome, a desigualdade.

Restabelecer o diálogo, suprimido pela barbárie.

Baseado na Constituição.

Nada mais de sigilos centenários.

Diálogo.

Não força bruta.

Brasil deve voltar a falar de igual para igual com todo o mundo.

Ombrear-se com a humanidade na defesa do clima, protegendo os biomas brasileiros, todos.

Trabalhar por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira e a esperança seja maior que o medo – e aqui ele se encontra novamente com Madiba Mandela. A maior virtude de um bom governante, dirá Lula no discurso histórico, será sempre o amor pelo seu País e seu povo.

Tanto quanto Madiba Mandela, Lula chega à presidência da República, ciente da magnitude da missão colocada nas mãos dele.

Tanto quanto Madiba Mandela, sabe não poder cumpri-la sozinho.

Disse com todas as letras: vou precisar de todos.

E todos significa partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, governadores, prefeitos, gente de todas as religiões, com brasileiros e brasileiras a sonhar com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno, um Brasil do tamanho dos nossos sonhos, como ele disse.

A mídia tradicional classificou o discurso como uma novidade.

Não era.

Lula Madiba o construíra ao longo dessa caminhada, desde o primeiro turno.

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Ampliou com muita competência o arco de alianças desde o primeiro turno, ao chamar para junto de si a figura, agora simbólica, de Geraldo Alckmin.

E depois vieram Simone Tebet, Janones, Marina Silva, tantas outras personalidades.

Sorte nossa, tenho dito.

Não é qualquer coisa contar com uma liderança como Lula, das mais importantes do mundo.

Como Mandela, jamais desistiu do Brasil.

A prisão só o fez crescer.

As dores e as injustiças aumentaram a resistência.

A inocência, provada.

Pronto para missão épica.

Jornada duríssima de reconstrução.

O oponente dele havia dito da principal tarefa dele: destruir.

Cumpriu.

Mas, Lula Madiba sabe unir.

Vai unir os eleitores dele e os do adversário para recuperar a Nação.

Por isso, ele parecia, com o discurso, lembrar o poeta, recordar Beto Guedes.

  • Anda, quero te dizer nenhum segredo
  • Falo desse chão da nossa casa
  • Vem que tá na hora de arrumar
  • Tempo, quero viver mais duzentos anos
  • Quero não ferir meu semelhante
  • Nem por isso quero me ferir
  • Vamos precisar de todo mundo
  • Pra banir de todo mundo a opressão
  • Para construiu a vida nova
  • Vamos precisar de muito amor
  • A felicidade mora ao lado
  • E quem não é tolo pode ver
  • A paz na terra amor
  • O sal na terra
  • A paz na terra amor
  • O sal da terra
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  • Terra, és o mais bonito dos planetas
  • Tão te maltratando por dinheiro
  • Tu que és a nave nossa irmã
  • Canta, leva tua vida em harmonia
  • E nos alimenta com seus frutos
  • Tu que és do homem, a maçã
  • Vamos precisar de todo mundo
  •  Um mais um é sempre mais que dois
  • Para melhor juntar as nossas forças
  • É só repartir melhor o pão
  • Recriar o paraíso agora
  • Para merecer quem vem depois
  • Deixa nascer o amor
  • Deixa fluir o amor
  • Deixa crescer o amor
  • Deixa viver o amor
  • O sal da terra
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