Alvo de criminalização, MST explica o ‘Abril Vermelho’
Ao mesmo tempo em que organiza a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, movimento busca agenda com Arthur Lira (PP-AL) para tentar barrar instalação da “CPI do MST”
Publicado 14/04/2023 17:01
Antes de tudo é preciso lembrar que, com 39 anos de atuação, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é uma das maiores organizações de luta pela reforma agrária no Brasil.
O movimento, que surgiu no final dos anos 70, e se consolidou na década de 80 a partir da união de diversas comunidades rurais que lutavam pela terra e melhores condições de vida no campo, tem como objetivo principal a luta pela reforma agrária visando a distribuição de terras para trabalhadores rurais e a promoção de uma agricultura mais sustentável, voltada para a produção de alimentos saudáveis.
Abril Vermelho
Abril é o mês em que o MST promove, anualmente, a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, e o termo “Abril Vermelho” – ou Abril de Lutas – foi criado pela mídia em referência ao período em que a entidade mais realiza atividades públicas relacionadas à pauta agrária.
Essa mobilização tem como objetivo enfatizar a importância da luta pela terra no Brasil e a necessidade de se implantar um projeto de reforma agrária que permita o desenvolvimento do campo, a produção de alimentos saudáveis e a luta contra a fome.
Neste ano o MST organiza a 26ª edição da Jornada, que tem como lema a luta pela “Reforma Agrária contra a fome e a escravidão: por terra, democracia e meio ambiente!” e estão previstas ações em todo o país para denunciar o aumento dos casos de trabalho escravo, honrado principalmente pelo agronegócio, que além de não produzir alimentos para a população brasileira, destrói as florestas e o meio ambiente, com as queimadas e o monocultivo de commodities, usando alta quantidade de agrotóxicos.
Além disso, o dia 17 de abril é, data que marca o ínicio da jornada, é também uma homenagem às vítimas do Massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em 1996. Na ocasião, a Polícia Militar do Pará atacou uma manifestação com 1.500 famílias Sem Terra, onde assassinou 21 trabalhadores rurais e deixou outras 69 pessoas mutiladas. Este ano, o massacre completa 27 anos de impunidade. A chacina se projetou para a história como um dos crimes mais bárbaros já ocorridos contra camponeses no mundo e virou memória no calendário, com o 17 de abril se tornando um marco da luta dos sem-terra.
Alvo de criminalização
Recentemente o MST foi alvo de um pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso Nacional, articulado por parlamentares bolsonaristas que acusam o movimento de irregularidades e desvios de recursos públicos destinados à reforma agrária. O requerimento é encabeçado pelo deputado Tenente-Coronel Zucco e foi apresentado formalmente em março.
Lideranças do movimento buscam agora uma agenda com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, para impedir a instalação da chamada “CPI do MST”.
O MST entende que a instalação da CPI é uma forma de tentar atingir a gestão Lula, que conta com o apoio político da entidade, e seria uma estratégia para frear a pauta agrária da gestão, que tem planos e políticas voltados à agricultura familiar, segmento que disputa espaço na agenda política do país com o agronegócio.
Segundo João Paulo Rodrigues, da direção nacional do MST, a existência da comissão tenderia a paralisar novamente as políticas públicas voltadas ao segmento, que viveu um jejum de ações governamentais voltadas à agricultura familiar nos últimos anos. Ao Brasil de Fato, ele diz que essa seria apenas mais uma CPI contra as políticas e contra o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e que a busca por uma criminalização da entidade se daria também como forma de reação à visibilidade que os sem-terra alcançaram nos últimos anos no país.
“Acho que o objetivo é tentar isolar o MST, tendo em vista o grande apoio que nós tivemos com a produção de alimentos saudáveis durante a pandemia. Além disso, terra no Brasil é sinônimo de poder. Nossa luta foca numa das coisas mais sagradas para o latifúndio, que é terra. Nós estamos propondo reforma agrária, e vamos insistir com essa agenda, por isso eles querem nos calar com uma CPI.”, disse Rodrigues.
Reforma Agrária Popular
O MST defende há 39 anos a Reforma Agrária Popular como um projeto de agricultura sustentável para produzir alimentos para toda a população brasileira, tanto no campo quanto na cidade, e para combater a fome. Ela também é capaz de gerar empregos e trabalhos cooperados, além de democratizar o acesso à terra, fortalecer a democracia brasileira e diminuir as desigualdades sociais.
Em quatro décadas de marchas e mobilizações pelo país, a partir da organização coletiva dos Sem-terra, hoje o MST está presente em 24 estados e organizado nas cinco regiões do país. São cerca de 450 mil famílias que conquistaram a terra, implantando assentamentos com cooperativas, associações e grupos coletivos de famílias que produzem alimentos saudáveis, preservam o meio ambiente e constroem comunidades rurais com vida digna.
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com informações de agências