Lula anuncia plano para retomar aliança com Argentina

Terceiro maior parceiro comercial do Brasil, Argentina vive crise econômica severa com a inflação anual superando os 100%.

Foto: Ricardo Stuckert

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu, nesta segunda (26), com o presidente da Argentina, Alberto Fernández. Após o encontro, Lula disse que os dois países vão elaborar um plano com “quase 100 ações” para retomar uma “aliança estratégica”.

Com o plano, o governo brasileiro busca socorrer a economia argentina, terceiro maior parceiro comercial e responsável pelo superavit de US$ 2,2 bilhões na balança comercial no ano passado. Em 2022, foram US$ 15,3 bilhões em exportações para o país vizinho e US$ 13,1 bilhões em importações de mercadorias argentinas.

Em seu discurso, Lula ressaltou a importação da integração econômica entre os países. “Nossa integração econômica significa interdependência. A Argentina é o terceiro destino de nossas exportações, enquanto o Brasil é o principal mercado para os produtos argentinos. Nosso intercâmbio comercial pode superar a cifra de 40 bilhões de dólares que atingimos em 2011. Construímos uma relação baseada na troca de bens de alto valor agregado e na integração produtiva de nossas economias. Nossos investimentos recíprocos são responsáveis por quase cem mil empregos”, disse Lula.

A Argentina vive uma crise econômica severa nos últimos anos. A desvalorização do peso pulveriza o poder de compra dos argentinos, com a inflação chegando a mais de 100% ao ano. A taxa de pobreza saltou 15 pontos percentuais em dez anos, levando 19,7 milhões de argentinos a essa condição social. Já a dívida externa bruta fechou 2022 em US$ 276,7 bilhões.

O receio do governo brasileiro é que o colapso do vizinho possa contaminar a economia local, dada a importância do comércio bilateral. A indústria automotiva, um dos setores que mais geram empregos, e o trigo são dois dos principais negócios entre Brasil e Argentina.

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“Estamos trabalhando na criação de uma linha de financiamento abrangente das exportações brasileiras para a Argentina. Não faz sentido que o Brasil perca espaço no mercado argentino para outros países porque esses oferecem crédito, e nós, não. Todo mundo tem a ganhar: as empresas, os trabalhadores brasileiros e os consumidores argentinos”, disse Lula.

Segundo o Itamaraty, o convite foi feito no contexto de celebração dos 200 anos das relações diplomáticas entre os países, uma vez que a Argentina foi o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil e, assim, o primeiro a estabelecer relações diplomáticas.

Para a celebração, se reuniram à agenda os chefes dos poderes, a presidente do Superior Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, e o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Discurso na Europa

Na Cúpula sobre Novo Pacto de Financiamento Global, realizada na França, na semana passada, o presidente brasileiro fez críticas ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no contexto da governança mundial.

“Vamos ter claro que o Banco Mundial deixa muito a desejar naquilo que o mundo aspira do Banco Mundial. Vamos deixar claro que o FMI deixa muito a desejar naquilo que as pessoas esperam do FMI”, disse.

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Lula citou empréstimos feitos pela Argentina, e disse que o FMI agiu de forma “irresponsável”, e que essas instituições “não podem continuar” atuando de “forma equivocada”.

“E muitas vezes os bancos emprestam dinheiro e esse dinheiro emprestado é o resultado da falência do Estado. É o que estamos vendo na Argentina hoje, Argentina, da forma mais irresponsável do mundo, o FMI emprestou 40 bilhões de dólares, 44 bilhões de dólares, para um senhor que era presidente. Não se sabe o que ele fez com o dinheiro. e a Argentina hoje está passando uma situação econômica muito difícil, porque não tem dólar nem para pagar FMI.”

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