França prende mais de mil no quarto dia de protestos

Manifestações ocorrem depois do assassinato do jovem Nahel Merzouk, de 17 anos, por agentes policiais. Nahel tinha ascendência argelina e marroquina

Foto: Reprodução

A França teve a quarta onda de protestos na noite desta sexta (30), depois que um policial matou um adolescente negro de 17 anos com um tiro no peito. Até a noite de ontem, mais de 1.300 pessoas foram presas e 45 mil policiais mobilizados

O policial que realizou o disparo está preso preventivamente e será indiciado por homicídio doloso. A cerimônia fúnebre do jovem Nahel Merzouk, foram realizadas em uma mesquita de Nanterre. Nahel possuía ascendência argelina e marroquina.

A porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani disse que “é hora do país se debruçar seriamente sobre os problemas profundos de racismo e discriminação racial na polícia”.

Na terça (27), em Nanterre, na periferia de Paris, o jovem Nahel estava dirigindo um carro quando foi parado por agentes policiais. Em um vídeo que circula nas redes sociais é possível ver um dos agentes apontando a arma diretamente para o motorista. Nahel recusa as ordens do policial e acelera, neste instante, o policial atira. O jovem morreu ainda no carro.

Após difusão do vídeo, uma série de reações políticas criticaram a atuação da polícia de Nanterre. “A recusa em obedecer não pode ser uma sentença de morte. Para ninguém. Jamais”, publicou Sandrine Rousseau, parlamentar francesa.

O astro do futebol Kyllian Mbappe também foi as redes sociais para se manifestar contra o assassinato do jovem Nahel. “Eu me sinto mal pela França. Uma situação inaceitável. Todos os meus pensamentos vão para a família e entes queridos de Naël, este anjinho que partiu cedo demais”, disse o jogador em suas redes sociais.

Nahel era filho de uma mãe argelina e pai marroquino. Ele fazia parte da chamada segunda geração – jovens de pais imigrantes mas que nasceram na França, em maioria de classe média baixa e que, muitas vezes, vivem em um hiato entre a sociedade em que nasceram e o país de origem de seus país.

O que aconteceu

Na manhã desta quinta (29), o procurado de Nanterre, Pascal Prache, detalhou a cronologia dos acontecimentos em uma coletiva de imprensa.

Às 07h55, a polícia avista uma Mercedes em alta velocidade

Dois policiais do Departamento de Ordem Pública e Trânsito da Prefeitura de Nanterre avistaram um veículo Mercedes classe A, modelo AMG, com placa polonesa, trafegando em uma faixa de ônibus em alta velocidade.

“Com o objetivo de fiscalizar o condutor pela sua conduta, mas também pela sua aparente pouca idade, os dois agentes tentaram abordar o veículo, utilizando as sirenes. O carro desobedeceu a ordem e arrancou “, detalhou o procurador. Os policiais notaram que eram três pessoas no carro.

Às 8:16, perseguição nas ruas de Nanterre

Os policiais perseguem a Mercedes por várias ruas de Nanterre. Durante a perseguição, são constatadas várias infrações de trânsito.

Às 8h19, o carro finalmente é parado pelos policiais

A Mercedes é forçada a parar devido a um engarrafamento causado por um semáforo. “Descendo pela lateral e atrás do veículo Mercedes, os policiais dizem ter gritado para o motorista parar, posicionando-se do lado esquerdo do veículo. Um está na porta do motorista e outro próximo do lado oposto do carro.

Em audiência, os agentes alegam que sacaram as armas e as apontaram para o motorista com a intenção de dissuadi-lo de dar partida no motor, contou o procurador. O veículo reinicia repentinamente. Neste instante, o policial próximo a calçada atira uma vez contra o motorista.

Apesar deste disparo, o veículo segue em frente antes de se chocar contra o mobiliário urbano, na Praça Nelson Mandela, pelas 8h19. Assim que o carro é imobilizado, o passageiro traseiro é preso enquanto o outro passageiro foge.

Às 9h15,

A morte de Nahel é declarada “O oficial que disparou deu os primeiros socorros à vítima”, atingida no braço esquerdo e no tórax, disse Pascal Prache.

Os protestos

As manifestações ganharam força nos últimos dias. Desde o assassinato do jovem Nahel, na terça, multidões ganharam as ruas de todo país. A capital, Paris, é onde os protestos foram mais intensos. No entanto, grandes atos foram vistos em cidades como Marselha, Lyon, Tolouse, Estrasburgo e Lille.

Segundo o Ministério do Interior, as detenções realizadas nesta sexta chegaram 1.311. Cerca de 400 somente na capital. O governo francês enviou cerca de 45 mil policiais para todo país para tentar controlar as manifestações.

De acordo com a pasta, “79 polícias e gendarmes ficaram feridos”, cerca de 1.350 veículos foram incendiados, 234 edifícios foram queimados ou danificados e cerca de 2.560 incêndios foram registados na via pública.

Os dados desmentem a fala do ministro do Interior, Gérald Darmainn, que afirmou que a violência foi “muito menos intensa” do que nas noites anteriores. O número de detidos relatados neste sábado é o maior desde o início dos distúrbios.

O presidente da França, Emmanuel Macron, chegou a suspender uma viagem para a Alemanha e convocou uma reunião de emergência, nesta quinta (29). Macron é o alvo principal das manifestações e enfrenta a terceira insurreição popular desde que foi eleito pela primeira vez, em 2017.

A cólera francesa não poupo nem o Centro Aquático de treinamento que foi incendiado pelos manifestantes na madrugada de sexta (30). O local estava em estágio avançado de obras para os Jogos Olímpicos.

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