Ao norte, mísseis e incursões terrestres israelenses encurralam palestinos

Morte de 70 pessoas durante ataque a rodovia que israelenses indicaram como segura além da iminente invasão por terra ao norte aumentam o temor dos civis palestinos na região

Foto: Abdelhakim Abu Riash/Al Jazeera

Com o fim do prazo dado pelo exército de israelense, milhares de palestinos se encontram, neste sábado (14), em meio a uma encruzilhada: se tentam fugir em direção ao sul da Faixa de Gaza, através das vias sinalizadas por Israel como “seguras”, podem ser alvos de um míssil. Mas se ficam, podem ser vítimas do ataque massivo que Benjamin Netanyahu está prometendo, inclusive com uma invasão terrestre.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse que a campanha militar de retaliação está apenas começando.

Israel prometeu aniquilar o Hamas depois que combatentes do grupo militante palestino que controla Gaza invadiram cidades e aldeias israelenses no último sábado (7), matando 1.300 pessoas, principalmente civis, e fugindo com dezenas de reféns.

Desde então, Israel colocou a Faixa de Gaza sob um cerco total e a bombardeou com ataques aéreos sem precedentes. As autoridades de Gaza dizem que mais de 2.200 pessoas morreram.

Ainda não está claro quantos civis palestinos ficaram ao norte de Gaza mesmo com as ordens de evacuação do exército de Israel, dadas nesta quinta (12). Cerca de um 1,1 milhão de pessoas vivem na região, dividida em dois bairros: norte de Gaza e Cidade de Gaza.

As duas vias propostas por Tel Aviv como caminhos seguros para o sul, as rodovias Salah Al-Din e Salah Al-Bahr, foram bombardeadas nesta sexta (13), deixando ao menos 70 pessoas mortas. Um comboio de veículos atravessava a via Al-Din quando o exército israelense atacou.

Enquanto isso, os hospitais da região recebem centenas de feridos a cada nova onda de bombardeios israelenses. O hospital Al-Shifa anunciou que 95% de seus suprimentos já se esgotaram, segundo o diretor Mohammed Abu Selmia. “A situação dentro do hospital é miserável em todos os sentidos da palavra”, disse ao Times of Israel. “As salas de cirurgia não param”.

O diretor afirma que é impossível obedecer às ordens do exército israelense e deslocar todos os pacientes e equipe do local.

A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que o pedido de Israel para que os civis de Gaza deixassem o território era impossível de ser realizado “sem consequências humanitárias devastadoras”, o que provocou uma repreensão de Israel, que disse que a ONU deveria condenar o Hamas e apoiar o direito de autodefesa de Israel.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que seria impossível para as organizações de ajuda auxiliarem “um deslocamento tão grande de pessoas em Gaza” enquanto o local permanecer sob o cerco israelense.

“As necessidades são impressionantes, e as organizações humanitárias precisam ser capazes de aumentar as operações de ajuda.”

Os Estados Unidos, que pediram a Israel que protegesse os civis, não hesitou em apoiar publicamente seu aliado. O porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que uma retirada tão grande era uma “tarefa difícil”, mas que Washington não questionaria a decisão de dizer aos civis para saírem.

Afora da fronteira ao norte de Gaza já é possível observar uma massiva movimentação terrestre do exército israelense. Nesta sexta, a infantaria fez seus primeiros ataques à região. O porta-voz militar israelense, contra-almirante Daniel Hagari, afirmou que tropas apoiadas por tanques realizaram incursões para atacar as equipes de foguetes palestinas e buscar informações sobre a localização dos reféns tomados pelo Hamas.

Em uma breve declaração transmitida pela televisão de forma incomum após o início do sábado judaico, Netanyahu afirmou: “Estamos atacando os nossos inimigos com uma força sem precedentes”. E acrescentou: “Enfatizo que este é apenas o começo”.

Ao canal Al Jazeera, Rami Swailem, um morador do norte de Gaza, disse que ele e pelo menos cinco famílias de seu prédio decidiram ficar em seu apartamento. “Estamos enraizados em nossas terras”, disse. “Preferimos morrer com dignidade e enfrentar o nosso destino”.

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