UE aprova retaliação e mira redutos eleitorais de Trump nos EUA

Medida atinge cerca de €21 bilhões em exportações dos EUA e incide sobre setores agrícolas e industriais de estados republicanos.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, encontra-se com o presidente dos EUA, Donald Trump, no Fórum Econômico Mundial em Davos, em 21 de janeiro de 2020. Foto: União Europeia, 2020/EC - Serviço Audiovisual/Stefan Wermuth

A União Europeia aprovou nesta quarta-feira (9) seu primeiro pacote de retaliação contra as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A resposta atinge cerca de €21 bilhões (US$ 23 bilhões) em produtos americanos e tem como alvo central os redutos eleitorais de Trump, sobretudo os estados agrícolas que exportam para o bloco.

A medida foi adotada no mesmo dia em que começaram a valer os “tarifas recíprocas” anunciadas por Trump sobre quase todos os parceiros comerciais dos EUA — incluindo tarifas de 104% sobre produtos chineses e 25% sobre aço, alumínio e veículos europeus, além de uma alíquota universal de 20% sobre bens em geral.

Entre os produtos afetados pelas novas taxas europeias estão soja, carne bovina, tabaco, alumínio, aço, frango, peças de automóveis, sorvete, produtos de higiene, roupas íntimas e até gravatas e cobertores elétricos — itens com forte presença nas exportações dos chamados “estados vermelhos” (republicanos). A soja é o item mais visado, com 82,5% das exportações americanas à UE vindo da Louisiana, estado natal do presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson.

Segundo a análise do Politico, até US$ 13,5 bilhões em exportações de estados que votaram em Trump podem ser impactadas. Os dados revelam que 61% dos produtos agrícolas afetados vêm de estados republicanos, contra 39% de democratas.

As tarifas europeias serão aplicadas em três etapas:

  • A primeira começa em 15 de abril, sobre produtos como suco de laranja e frutas vermelhas;
  • Em 16 de maio, entram carnes, plásticos e aço branco;
  • E a partir de 1º de dezembro, as tarifas incidirão sobre soja e amêndoas.

A Comissão Europeia afirmou que as tarifas podem ser suspensas a qualquer momento, desde que os EUA aceitem negociar “um acordo justo e equilibrado”. Uma proposta de “zero para zero” em tarifas industriais foi enviada a Washington, incluindo setores como automóveis, produtos farmacêuticos, plásticos e maquinaria. Trump, porém, rejeitou a oferta e exigiu que a UE comprasse US$ 350 bilhões em energia dos EUA, como contrapartida.

Nos bastidores, França, Alemanha e outros países pressionam para que a UE utilize o chamado “instrumento anti-coerção”, uma ferramenta legal criada para reagir a países que usam o comércio como arma de chantagem. Segundo a Bloomberg, o bloco também estuda atingir empresas de tecnologia e serviços dos EUA, como medida extrema.

Trump tem repetido que a UE foi criada para “prejudicar” os EUA no comércio, e que os regulamentos europeus são “armadilhas” para barrar produtos americanos. “Não vamos mais permitir isso”, disse o republicano.

A guerra tarifária reacende uma disputa que começou ainda no primeiro mandato de Trump, em 2018, quando os EUA taxaram as exportações de aço e alumínio da UE alegando razões de segurança nacional. Na ocasião, Bruxelas respondeu com tarifas sobre jeans, uísque, motos Harley-Davidson e outros produtos simbólicos. Uma trégua foi firmada em 2021, mas agora o conflito comercial volta a escalar.

Além da União Europeia, China e Canadá também anunciaram medidas retaliatórias, elevando o valor total das exportações americanas atingidas para cerca de US$ 90 bilhões.

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