Porto de Chancay gera lucros recordes e consolida presença estratégica da China

Seis meses após a inauguração, megaprojeto chinês no Peru já movimenta mais de US$ 290 milhões; Brasil negocia ferrovia para ligar Ilhéus ao Pacífico

Foto: Reprodução

O porto de Chancay, ao norte de Lima, no Peru, já movimentou mais de US$290 milhões em cargas e criou 8 mil empregos diretos no Peru. Inaugurado em novembro de 2024, o projeto foi estruturado no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota da China e consolida-se como uma plataforma logística entre a América do Sul e a Ásia.

O porto fortalece a presença chinesa num momento em que a América Latina enfrenta as consequências da nova rodada de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos.

Localizado a cerca de 80 km da capital, Chancay é o primeiro porto inteligente da América do Sul, equipado com operações automatizadas, guindastes controlados por IA e conexão 5G.

Sua infraestrutura permite operar 24 horas por dia com eficiência e segurança. Desde sua inauguração, a rota direta Chancay–Xangai reduziu o tempo de transporte de 33 para 23 dias, o que representa uma economia de mais de 20% ao ano nos custos logísticos para exportadores peruanos.

Os resultados econômicos têm sido significativos: na primeira fase do projeto, a expectativa é que o porto gere até US$ 4,5 bilhões anuais em exportações. Até março de 2025, mais de 60 mil contêineres já foram movimentados, e a projeção é que esse número alcance 500 mil até 2027.

Segundo o Banco Central do Peru, o porto contribuirá com 0,3% do PIB nacional em 2025, podendo chegar a 0,9% até o fim do ano.

Expansão chinesa ganha trânsito com tarifas de Trump

A nova guerra tarifária imposta pelos Estados Unidos desde o início de 2025 está acelerando o reposicionamento geoeconômico da China na América Latina. Enquanto Washington impõe medidas unilaterais e imprevisíveis, Pequim mantém sua estratégia de longo prazo, focada em estabilidade, previsibilidade e cooperação Sul-Sul.

A cúpula China-CELAC, realizada em maio em Pequim, reuniu lideranças de diversos países da América Latina, incluindo os presidentes Xi Jinping e Luiz Inácio Lula da Silva, e reafirmou a disposição chinesa de aprofundar laços comerciais e diplomáticos.

Para países como Brasil, Colômbia e Venezuela, que enfrentam os efeitos das tarifas norte-americanas, a China representa uma alternativa estável e vantajosa.

Brasil quer se conectar ao Pacífico via Chancay

Durante a visita oficial à China em maio, o governo brasileiro anunciou avanços nas negociações para a construção da Ferrovia Bioceânica, que ligaria Ilhéus (BA) ao Porto de Chancay. A proposta, articulada pelo ministério do Planejamento, prevê a integração das ferrovias Fiol e Fico, cruzando regiões estratégicas como o Matopiba e o Centro-Oeste.

A ministra Simone Tebet classificou o projeto como uma “revolução logística”, com potencial de transformar o Brasil em uma nova potência exportadora voltada para o mercado asiático.

A China State Railway Group, empresa estatal responsável pela operação e gestão da malha ferroviária da China, realizou uma série de visitas técnicas a pontos-chave como Mara Rosa (GO), Brasília e o Porto de Santos, demonstrando interesse no financiamento e participação do projeto.

Segundo Tebet, “sem capital externo, esse projeto é inviável”, e apenas a China tem condições técnicas e financeiras para impulsioná-lo neste momento.

Mais do que um porto, Chancay se tornou a vitrine do modelo de “globalização inclusiva” promovido pela China. Com base no princípio de “consulta, construção conjunta e compartilhamento”, o projeto gerou transformações visíveis na região: crescimento do turismo (com destaque para o Castelo de Chancay), valorização imobiliária e fortalecimento do comércio local.

O governo peruano estima que mais de 800 mil turistas visitem Chancay anualmente e planeja 21 projetos sociais na região com recursos da arrecadação do porto. Além disso, discute-se a criação de uma Zona Econômica Especial para atrair indústrias de alto valor agregado. A estrutura logística de Chancay, conectada às redes terrestres chinesas e peruanas, reforça sua posição como um dos hubs comerciais mais promissores da América do Sul.

Autor