Imagens inéditas de Orson Welles em Ouro Preto vêm à tona após 80 anos
Cineasta brasileira descobre filmagens raras da Semana Santa de 1942 feitas por Welles. Material integra documentário que será lançado em 2026.
Publicado 17/06/2025 15:01 | Editado 17/06/2025 17:26

Uma busca que começou como curiosidade virou obsessão e, agora, patrimônio audiovisual. A cineasta Laura Godoy, natural de Ouro Preto, encontrou imagens inéditas feitas por Orson Welles, diretor do célebre longa Cidadão Kane, na cidade mineira durante a Semana Santa de 1942. As filmagens estavam preservadas na Ucla (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e nunca haviam sido exibidas ao público.
O material faz parte do projeto inacabado de Welles, It’s All True (É Tudo Verdade), uma produção que mistura documentário, ficção e etnografia, financiada durante a 2ª Guerra Mundial como parte da “política de boa vizinhança” entre Brasil e EUA. O cineasta, que já havia passado por Fortaleza e Rio de Janeiro para registrar o Carnaval e a saga dos jangadeiros, esteve em Ouro Preto para captar a religiosidade local, em contraste com as festividades cariocas.
Ao longo de mais de uma década, Laura Godoy e seu pai, o memorialista Victor Godoy, mergulharam em uma pesquisa que incluiu hemerotecas brasileiras, arquivos norte-americanos e a consultoria da pesquisadora Catherine Benamou. O resultado: registros em preto e branco da procissão da Sexta-Feira Santa e cenas etnográficas que mostram uma Ouro Preto ainda abalada pela perda do status de capital de Minas Gerais. “Virou uma obsessão mesmo. Eu e ele, uma dupla de detetives com esse tema”, disse ela à BBC News Brasil.



Agora, as imagens devem ganhar nova vida no documentário Welles na Terra do Silêncio, com lançamento previsto para 2026. A produção busca também recuperar a memória afetiva da população local, muitos dos quais nunca tiveram a chance de registrar seus antepassados em foto ou filme.
Além de Ouro Preto, estima-se que existam até 23 horas de material inédito gravado por Welles no Brasil, incluindo cenas do Carnaval carioca e manifestações afro-brasileiras que ajudaram a consolidar a virada estética do cineasta em direção a um cinema mais independente e realista.
A liberação dessas imagens ainda depende de negociações com a Paramount, atual detentora dos direitos. Mas uma coisa é certa: a redescoberta põe Ouro Preto definitivamente no mapa da história do cinema mundial.
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com agências