Mantega alinhado ao FMI? Não é verdade

O noticiário econômico dos últimos dias tentou mostrar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, completamente alinhado ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Não é verdade.

Por Osvaldo Bertolino

Durante a reunião da primavera do FMI, em Washington, Mantega disse que o Fundo tm hoje “menos instrumentos para lidar com os desequilíbrios mundiais e só pode fazer recomendações”. Ele se referia aos enormes déficits dos Estados Unidos. “É diferente do passado, quando os desequilíbrios ocorriam nos países emergentes”, acrescentou. Mantega discursou para os 24 governadores do Fundo em nome de Brasil, Colômbia, República Dominicana, Equador e Panamá, entre outros. “Os desequilíbrios de então resultaram na necessidade de um apoio financeiro do Fundo. O FMI podia apresentar exigências como a imposição de ajustes fiscais”, lembrou.

O ministro ressaltou a diferença de tratamento entre ricos e pobres. “Agora, sua (do FMI) margem de ação diminuiu e não sabemos se os Estados Unidos pretendem acatar suas sugestões”, disse ele, numa referência implícita à reação irada de Washington às sugestões do Fundo para que reduza seus déficits, em um relatório semestral sobre as perspectivas da economia mundial. As declarações do ministro retrataram o descontentamento de vários países latino-americanos, cujos representantes manifestaram no fim de semana seu incômodo com a impotência do FMI perante os Estados Unidos, em contraste com os severos ajustes que os países da América Latina foram forçados a aplicar há poucos anos.


Quadro político

A ministra da Economia da Argentina, Felisa Miceli, deixou de lado a diplomacia ao criticar uma instituição cujo papel antes e depois da crise que explodiu em seu país, em dezembro de 2001, foi duramente questionado pelo presidente Néstor Kirchner. “O Fundo foi honesto na hora de oferecer aos membros análises adequadas sobre os crescentes desequilíbrios (mundiais), mas foi menos (honesto) ao apresentar-lhes um pacote de políticas para aliviá-los”, afirmou. Houve, também, tentativas de envolver a polêmica sobre o câmbio chinês no debate – fato amplamente explorado pela imprensa pró-Estados Unidos –, sem mencionar que o país asiático trata essa questão como defesa de sua soberania no comércio internacional. Um responsável do Fundo destacou a existência de grandes diferenças entre os dois períodos. No caso sa China, no entanto, ele disse que o país dispõe de reservas gigantescas de 875 bilhões de dólares, sem comparação possível com a dos países latino-americanos.

Diante das pressões, o diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, anunciou que prepara propostas concretas de reforma para setembro próximo. Resta saber se existe meios para o Fundo reafirmar sua legitimidade depois que a instituição assumiu claramente o papel de fiscal das políticas econômicas aplicadas de acordo com o interesse do neurastênico fluxo internacional de capitais especulativos. Como o FMI pretende lidar com os desequilíbrios na conta corrente em nações industrializadas e o alto nível da dívida pública nos países "em desenvolvimento" é questão que merece ser acompanhada com a máxima atenção. Certamente o Fundo prosseguirá com suas pressões por "reformas estruturais" – entre elas a ‘’flexibilização trabalhista” –, principalmente na Europa, Japão e América Latina. Brasil e Argentina anteciparam o pagamento de sua dívida com o FMI no fim do ano passado, livrando-se das condições exigidas pela instituição. Mas a submissão – ou não – à sua cartilha depende da evolução do quadro político na região.

Com agências