PF na campanha eleitoral: aumentaram os crimes ou as investigações?

As operações da Polícia Federal têm sido objeto de debate na campanha eleitoral – o governo apresenta os números como obra de atuação cada vez mais eficaz da PF – e não mente -, a oposição se apropria dos fatos para demonstrar que os casos de corrupção

A Polícia Federal, que se nega a falar sobre o assunto, declarando por meio da Assessoria de Imprensa que não vai entrar na disputa eleitoral, parece blindada. As investigações não têm poupado políticos de oposição e de situação, nem o poder econômico e nem os seus próprios funcionários. Em cada uma das grandes operações desfechadas pela PF, são indiciados policiais e funcionários públicos.


 


A operação mais recente – que recebeu o nome de “Dilúvio” -, investigação de quase dois anos da Polícia Federal (PF), é a 11ª desencadeada nas últimas três semanas e pode ter alcançado a marca de uma centena de presos. No ano, elas somam 71.


 


Ela e a Operação Sanguessuga podem ser colocadas na lista de exemplares: uma, desbaratou um esquema que envolvia parlamentares, prefeitos, funcionários públicos e empresários; na outra, interrompeu-se uma fraude gigantesca de sonegação de impostos que incrimina empresários e grandes empresas. Na última operação – Dilúvio, foram presos nove funcionários da Receita e um do Ministério do Desenvolvimento, além de um funcionário da Secretaria de Fazenda de Santa Catarina.


 


O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) estranhou as reações negativas de políticos e de setores da mídia às últimas operações da Polícia Federal. Ele disse não entender as reações iradas de setores da mídia e de políticos, que acusam a PF de estar fazendo um trabalho de conteúdo político.


 


No dia seguinte às prisões, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, veio a público negar que a operação tivesse sido desencadeada em função da campanha eleitoral. O próprio diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que a corporação tem agido de forma republicana e impessoal nas suas investigações.


 


Lacerda garantiu que a PF não se prestará a qualquer tipo de exploração política e subordinará sua atuação, neste período, à Justiça Eleitoral. “A PF não agiu nem agirá sob pressão ou influência política. Ao contrário, atua com imparcialidade e impessoalidade.”


 


De acordo com o delegado, a Polícia Federal tem seus atos rigorosamente submetidos a controles institucionais do Poder Judiciário e do Ministério Público, que “não iriam permitir práticas ilegais ou arbitrárias”. Para rebater as acusações de que a PF seria parcial, observou que é necessário examinar os dados das centenas de investigações e prisões realizadas pela corporação nos últimos anos. “É fácil constatar que entre as figuras públicas envolvidas estão tanto pessoas vinculadas a partidos de oposição como do próprio governo, ou de partidos da base aliada” .


 


Elite incomodada


 


O deputado Dr Rosinha defendeu a continuidade dos trabalhos da Polícia Federal, acrescentando que as operações da Polícia Federal têm incomodado a elite brasileira.


 


“Lembro que, em julho de 2005, foi presa a senhora Eliana Tranchesi, dona da Daslu, loja onde os ricos de São Paulo efetuam suas compras. A loja foi inaugurada pelo (então) governador Geraldo Alckmin”, que tem uma filha que trabalhava na loja. À época, alguns empresários e autoridades reagiram à operação policial.


 


O petista lembrou que, naquela ocasião, houve até um ato de protesto onde compareceram inúmeros representantes de entidades, como Fecomércio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), representantes da BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) e, também, a Força Sindical. “Até o presidente da Associação Paulista do Ministério Público, João Antonio Garreta, questionou a ação da PF contra os ricos”.


 


Algumas autoridades também condenaram a ação da PF e defenderam a dona da Daslu, como foi o caso do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), ao afirmar no jornal Folha de S.Paulo que a prisão tinha o objetivo de desviar a atenção de outros casos de corrupção. Além de José Serra, atual candidato tucano ao governo de São Paulo, também se manifestaram políticos como o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) .


 


Medo dos ricos


 


Para o deputado petista, que ainda se recupera de uma cirurgia no coração, a PF, com autonomia e independência, “continuará suas investigações e o combate, como nunca feito antes, do crime organizado e da corrupção”. Para ele, o “medo dos ricos, principalmente os representados pelo PFL e PSDB, é cair nas malhas da Polícia e da Justiça”. A autonomia e a independência fazem com que a PF atue com mais efetividade e combata o crime em todas as áreas e classes sociais, disse o parlamentar.


 


Rosinha lembrou que somente neste ano, a PF desencadeou 71 operações. Nos dois últimos anos do governo FHC, foram realizadas apenas 20 operações, com a prisão de 54 pessoas. Em três anos e meio de governo Lula, foram realizadas 183 operações, com a prisão de 2.961 pessoas.


 


“A Polícia Federal tem combatido com efetividade, como nunca, o crime organizado. E essa ação não interessa a alguns setores da sociedade , que por isso querem derrotar o Lula e fazer da PF um órgão de defesa de interesses de determinados grupos”, ponderou Rosinha.


 


Marca do governo


 


O deputado Fernando Ferro (PE), vice-líder do PT na Câmara, também destaca como ação positiva da gestão do presidente Lula os números de operações de repressão ao crime. “O combate à corrupção é uma das marcas do atual governo. Isso nos diferencia dos tucanos. Eles hoje fazem um discurso oralista, mas é um discurso que não se sustenta no passado de impunidade e omissão”.


 


Para Fernando Ferro, o esforço do governo Lula no combate à corrupção “é infinitamente superior” ao da gestão passada. “Primeiro, pelas próprias ações da Polícia Federal, que tiveram extensão e quantidade muito superior no nosso governo. Depois, porque o atual governo não tem poupado aliados – diferente do que ocorreu no governo passado, quando delegados eram afastados de casos quando tentavam investigar tucanos”, afirmou. Ele citou os números que provam que as ações Polícia Federal no combate ao crime cresceram 815% entre 2002 e 2005.


 


Esquema antigo


 


“O governo Lula deu total independência ao Ministério Público, reforçou a CGU e deu uma nova dinâmica à Polícia Federal”, lembram, acrescentando que “Graças aos investimentos na Polícia Federal durante o governo atual, a instituição descobriu vários esquemas de corrupção com o dinheiro público.


 


Desde 2003, a PF realizou 75 operações relativas à corrupção. Dessas, só nove das quadrilhas começaram a agir durante o seu governo. As demais 66 eram anteriores, sendo que 61 quadrilhas começaram a atuar na época de FHC. Ou seja, as redes de corrupção não proliferaram no atual governo, fazendo parte da herança maldita”.


 


Para desmentir o discurso da oposição de que a corrupção aumentou neste governo, os resultados das investigações são destacados pelos parlamentares governistas. O esquema desbaratado na Operação Dilúvio funcionava há cerca de 10 anos, nvolvendo casos de sonegação de impostos, falsidade ideológica, evasão de divisas e cooptação de servidores.


 


Pelos cálculos da Receita Federal, as empresas do grupo movimentaram mais de US$ 1,1 bilhão e sonegaram pelo menos US$ 500 milhões em tributos federais aduaneiros nos últimos quatro anos.


 


“Se fizermos o raciocínio inverso, vai mostrar quantos empregos deixaram de ser gerados por conta disso. São 20 mil empregos pelo menos”, destacou o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na entrevista coletiva sobre o caso.


 


Em compensação, as investigação começaram há dois anos, quando a operação identificou o grupo que fraudava o valor das mercadorias importadas, sonegando impostos, entre outras ilegalidades. Entre os “clientes” do grupo estariam a botique de luxo Daslu e o empresário Law Kim Chong, que já foram apontados como sonegadores em investigações anteriores.


 


De Brasília
Márcia Xavier
Com agências