Mídia está distante da realidade, diz jornalista

O distanciamento entre o que dizem as primeiras páginas dos jornais de maior circulação do país, no sábado, véspera de uma das maiores eleições limpas e democráticas do mundo, mostra o distanciamento entre os donos da mídia nacional e a vontade popular

O episódio que culminou na exibição das fotos de uma pilha de maços de dinheiro, parte integrante de um relatório sigiloso, sob a guarda da Polícia Federal – um instrumento de Estado, e não de governo, como é necessário lembrar sempre -, trata-se do maior abuso eleitoral já cometido na história democrática. Acontece ao arrepio da lei, a mesma lei a qual se apegam os únicos interessados no vazamento destas informações, para desancar seus adversários políticos. É muita sujeira. Golpe baixo.


 


Trata-se do exercício do óbvio atribuir o furto das informações divulgadas aos repórteres por um agente da PF, que é mais óbvio ainda não ter preferido se identificar, aos detratores da banda petista que queria, da mesma forma, explodir o petardo das informações contidas no Dossiê Serra, pelo qual disputavam PT e PSDB. Trata-se da compilação de provas e mais provas da corrupção que corroeu o erário no tempo de Fernando Henrique Cardoso presidente e José Serra no Ministério da Saúde.


 


Somente aos tucanos poderia significar alguma coisa o apelo visual de um monte de dinheiro sobre a mesa, destinado à compra de informações tão sigilosas sobre a roubalheira nacional quanto estas expostas, às vísceras, nas páginas de propriedade dos donos da mídia, os mesmos a quem interessa deter o avanço da esquerda brasileira.


 


É certo que a disputa política não é para iniciantes ou sonhadores. O efeito dos imensos interesses econômicos, a força do capital envolvido na batalha sobre o comando desta terra de dimensões continentais, o fator histórico – que assegura aos donos dos meios de produção a propriedade sobre a 'consciência nacional', disseminada culturalmente há séculos – são pesos específicos sobre a questão eleitoral brasileira.


 


Contra esses poderosos vetores da dominação social, no entanto, surgiu há pouco mais de quatro décadas a confluência de opiniões que conduziu ao poder o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Neste domingo ele será reconduzido ao cargo. Ou precisará disputar, em quatro semanas, a Presidência da República Federativa do Brasil com os responsáveis pela divulgação das fotos do dinheiro sujo, o mesmo usado para comprar informações mais sujas ainda, exatamente contra quem divulgou as fotos do dinheiro sujo.


 


Graças aos donos dos jornais, rádios e canais de TV mantidos por imensos conglomerados econômicos e segmentos inteiros do capital internacional foi possível disseminar as tais fotos, em questão de minutos, para milhões de brasileiros. Mas um número cada vez maior de eleitores que têm acesso aos meios de comunicação tem dito, de forma clara e inequívoca – nas pesquisas de opinião e nas urnas – que não adianta mais tentar empurrar a idéia de que as mesmas figuras carimbadas da direita militarista, que se empanturrou do dinheiro público em 20 anos de ditadura militar, hoje são os guardiões da moralidade nacional.


 


Nem que para isso paguem outra montanha de dinheiro, por exemplo, ao ladrão que extraiu as imagens de um processo sigiloso, da sala de um delegado da Polícia Federal, para a mídia publicar. A mesma mídia que já gosta mesmo, por questões práticas e ideológicas, de baixar o porrete nas forças populares e de esquerda no país.


 


Esse movimento de dois pesos e duas medidas para governo e oposição, em período eleitoral, foi identificado e relatado, neste sábado, pela repórter Bia Barbosa, da agência de notícias Carta Maior, na reportagem intitulada “Mídia 'abafa' investigações contra PSDB”.


 


Jornalistas das principais redações do país, ouvidos pela reportagem, são claros em denunciar a existência de uma “ordem velada' para se poupar candidaturas tucanas. Equipes são destacadas para investigar suposta venda do dossiê, enquanto pautas sobre relação de tucanos com sanguessugas são vetadas”.


 


Não há, portanto, nenhuma correlação entre o que dizem esses meios de comunicação e a realidade, posto que os próprios profissionais encarregados de apurar e transmitir os fatos, de maneira isenta, séria e desapaixonada, são obrigados a mancar para não verem perecer os seus empregos.


 


A beleza do processo democrático, no entanto, está na capacidade do brasileiro de ler nas entrelinhas, de ser mineiro, de nem sempre comprar o que lhe oferecem pelo preço ofertado. Mais uma vez, na ponta do dedo, neste domingo, o Brasil de verdade mostrará ao Brasil fictício, fruto unicamente dos interesses desmesurados do grande capital, a força de uma nação que caminha, com suas próprias pernas, rumo ao socialismo.


 


Se foi preciso cruzar o valerioduto, livrar-se das sanguessugas e, agora, mergulhar fundo no Dossiê Serra para que o país expie suas impurezas e siga adiante, revigorado pela força do voto popular já a partir desta segunda-feira, vale a pena enfrentar uma fila democrática e cumprimentar o futuro, a um toque, no número certo do progresso e de uma nova ordem para o Brasil.