Militantes pró-Lula e até bebê são alvos de violência no RJ e na PB
Por André Cintra e Cláudio Gonzalez
Os apoiadores de Geraldo Alckmin (PSDB) estão em guerra campal, literalmente, para impedir a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seus apoiadores nos estados. Na
Publicado 16/10/2006 23:03
Dois episódios de violência urbana motivada por razões políticas acrescentaram um ingrediente novo e preocupante à disputa eleitoral de 2006.
Um dos episódios ocorreu na madrugada desta segunda-feira, no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, onde quatro militantes petistas foram espancados por uma turma de cerca de dez pessoas que se identificaram como apoiadores do candidato à presidência, Geraldo Alckmin.
A fúria foi tanta que uma das agressoras – não conseguindo acertar os olhos da publicitária Danielle Correia Tristão – arrancou-lhe um dedo à base de dentadas. ''Segundo um médico do Hospital São Lucas, a mordida foi muito violenta e decepou até o osso'', relatou o marido de Danielle, Juarez Brito de Vasconcellos, ao site do PT. ''O médico disse que só em casos de mordida de pittbull tinha visto coisa parecida.''
Principal vítima do ataque, Danielle teve de amputar parcialmente o dedo anular da mão esquerda. Ela e o marido fizeram boletim de ocorrência, acionaram um advogado e programaram exame de corpo de delito. Dois amigos do casal o acompanhavam, sendo também alvos de hostilidades e agressões.
Como foi o crime
Depois de participarem de uma caminhada da campanha Lula pela manhã e de irem à tarde para a praia, Jurez e Danielle encontraram os amigos e se dirigiram ao bar Jobi. O casal vestia uma camiseta com a inscrição ''Lula, Sim!'' – o que fez cerca de dez apoiadores de Alckmin começarem a xingar e destilar ódio, tentando impedi-los de permanecer no estabelecimento.
Quando se sentaram, os petistas sofreram mais ameaças e provocações. ''Eles atiravam bolinhas de papel e nos chamavam de ladrões, de corruptos, de bandidos, de filhos da puta. Impressionante o ódio que saía dos olhos daquelas pessoas'', comenta Juarez. Sentindo o clima anunciado de terror, eles decidiram antecipar a conta e deixar o bar à 1 hora da madrugada. ''Tinha um senhor de uns 60 anos que ameaçava jogar um prato em cima da gente. Eles iam linchar a gente.''
Próxima à porta, porém, uma das agressoras pegou um adesivo de Alckmin e o esfregou no rosto de Danielle. Outra mulher atirou para longe o chapéu de palha usado pela petista. O grupo tentou correr até o carro, mas as agressões se multiplicaram, como relata Juarez: ''De repente, alguém me jogou no chão. Vieram outras pessoas. Foi uma grande confusão. Quando consegui me desvencilhar, já tinha sangue para todo lado''.
Responsabilidades
''As pessoas que estavam naquele bar não eram delinqüentes nem estavam bêbadas. Eram integrantes da classe média carioca e estavam ali jantando'', afirma. ''Quando nos viram entrar, reagiram ensandecidas. Elas não querem mais discutir, dialogar. Já partem direto para a agressão gratuita.''
Apesar de mais essa demonstração de ódio de classe, a mídia segue priorizando sua campanha anti-Lula e omite o crime do noticiário. Até as 21h40 desta segunda-feira, o iG foi o único dos grandes portais a veicular a informação. Mesmo assim, a matéria ficou na home page do site por apenas 20 minutos.
Na Paraíba, até bebê sofre com a violência
Outro episódio, igualmente chocante, ocorreu no domingo em João Pessoa, na Paraíba. Desta vez o jornal local, Correio da Paraíba, registrou o episódio.
Segundo o jornal, o técnico em eletrônica Tibério Modesto, de 21 anos, militante do PMDB, foi agredido a socos e pontapés, teve o aparelho celular roubado e o parabrisa do carro quebrado durante carreata do PSDB realizada na tarde de domingo (15), no bairro de Mangabeira. A esposa do Tibério, Fânela Peres, e sua filha, de apenas nove meses de idade, também foram agredidos. O bebê ficou com hematomas em um dos braços que, segundo ele, foram causados pelos participantes da carreata.
Tibério disse que chegou a chamar uma viatura da Polícia Militar ao local, mas os policiais alegaram que nada podiam fazer e sugeriram que ele prestasse queixa em uma delegacia. O fato ocorreu por volta das 14h, próximo à ladeira que liga os bairros de Mangabeira e Valentina de Figueiredo e causou revolta em moradores locais que presenciaram a cena e socorreram a família.
A causa do vandalismo, de acordo com Tibério, foram adesivos do candidato José Maranhão e do presidente Lula que estavam afixados em seu carro. O militante peemedebista contou que vinha da praia com a família e pretendia visitar um primo que mora em Mangabeira.
Uma onda de ódio
Tanto o ataque do Leblon quanto a violência em João Pessoa, não são casos isolados. Em entrevista concedida ao Vermelho há uma semana, a filósofa Marilena Chauí alertou para uma onda de ataques contra apoiadores de Lula. Com oito dias de segundo turno, já havia duas acusações gravíssimas.
''Uma menina que tinha o adesivo do Lula no carro foi apedrejada. Um rapaz que estava usando um distintivo levou soco na cara e no estômago'', disse Marilena, que comparou a situação atual com o pleito de 1989: ''A gente saía e levava pancada. Riscavam o carro da gente, quebravam a janela, batiam nas portas das casas. Foi uma coisa terrível.''
Apesar da contundência das denúncias – mais do que nunca confirmadas -, a entrevista da filósofa irritou anti-petistas como o jornalista da Folha Online, Josias de Souza. Ao ler a matéria no Vermelho, o jornalista postou, em seu blog, uma nota intitulada ''Marilena Chauí prepara-se para a invasão dos hunos''.
O texto carrega no tom jocoso e conservador: ''A filósofa protopetista Marilena Chauí acha que as eleições presidenciais deste ano da graça de 2006 realizam-se em cenário pré-medieval. Diz que apoiadores de Lula são 'apedrejados' nas ruas, 'levam soco na cara e no estômago'''.
Como se vê, profissionais como Josias de Souza vão além da omissão. Desdenham do tom -e agora dos atos- agressivos da campanha tucano-pefelista e, com isso, incentivam ainda mais a propagação do discurso e das atitudes preconceituosas contr ao presidente Lula e seus apoiadores.
O PT já se desculpou publicamente pelo simples fato de citar familiares de Alckmin em uma matéria. Já os tucanos, amparados pela cumplicidade da mídia, nem sequer se pronunciaram sobre os cruéis ataques dos últimos dias.
Leia também no Vermelho:
– Entrevista: Marilena Chauí acusa onda de violência contra pestistas
– Artigo: Discurso preconceituoso e racista ganha força na campanha anti-Lula