PT lança Chinaglia na Câmara, para negociar
A bancada do PT na Câmara decidiu na tarde desta terça-feira (5) apresentar o nome do atual líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), para concorrer à presidência da Casa em 1º de fevereiro. O anúncio foi feito pelo líder da bancada, Henrique
Publicado 05/12/2006 19:20
A ressalva é um esforço para não contrariar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prefere a reeleição do atual presidente, Aldo Rebelo (PCdoB). Nesta segunda-feira, em audiências com dirigentes do PCdoB e do PSB, Lula voltou a argumentar a favor da permanência de Aldo, dizendo que “em time que está ganhando não se mexe''. Dois peemedebistas, Geddel Vieira Lima (BA) e Eunicio Oliveira (CE), também disputam o cargo, que é o terceiro na hierarquia da República.
“Queremos oferecer o nome”
“Queremos ressaltar que, ao oferecer o nome do Arlindo Chinaglia para essa construção de uma candidatura única à presidência da Casa, não estamos desvalorizando nenhum outro nome que pode ser oferecido no debate”, afirmou o líder do PT na Câmara dos Deputados.
Chinaglia, por sua vez, afirmou que, além de parlamentares petistas, já conversou com líderes de outros partidos governistas e, por isso, descarta possibilidade de racha na base aliada. “Esta é uma decisão que já vem permeada com opiniões de vários líderes de várias bancadas. Já conversei com líderes do PMDB, inclusive pré-candidatos citados pela imprensa e não tenho nada a reclamar”, disse o deputado.
Chinaglia não quis comentar a preferência de Lula pela reeleição de Aldo, alegando que em nenhum momento Lula defendeu publicamente algum candidato. Disse que teve “uma conversa tranqüila e leal, com o atual presidente da Câmara sobre a disputa ao cargo”.
A conversa com Aldo foi nesta segunda-feira. O petista saiu dizendo: “Temos (ele e Aldo) a dimensão do processo e estamos construindo de uma maneira adequada uma solução. Coma a amizade e lealdade que temos. Na conversa, fizemos uma análise do quadro. Temos a mesma responsabilidade, vamos trabalhar de maneira adequada”, contemporizou.
“Não é para cumprimentar a platéia”
De acordo com o presidente interino do PT, Marco Aurélio Garcia, a decisão do PT não impede que outros partidos da base aliada proponham outros nomes. “Se outros partidos oferecerem candidatos, vamos discutir. O importante é que seja um nome de consenso”, afirmou, “um nome que dê estabilidade à base aliada e que a composição da Mesa represente o espectro das forças que sustentam o governo Lula”, ressaltou Marco Aurélio.
Mas Marco Aurélio Garcia afirmou também que a disposição do PT é fazer prevalecer a sua indicação. “O nome não é para dar uma passeada na pista para cumprimentar a platéia. É para valer. E agora vai buscar apoio nas outras bancadas”, adiantou.
“A situação agora é outra”
O presidente do PT desmentiu que seu partido tenha restrições a Aldo Rebelo. “O PT não está insatisfeito com ele. O partido abriu mão de uma candidatura quando Severino Cavalcanti renunciou para apoiar o Aldo, que naquele momento nos parecia com maior amplitude, mas a situação agora é outra”, argumentou.
Aldo elegeu-se presidente da Casa em setembro do ano passado, quando o cargo ficou vago devido à renúncia de Severino Cavalcanti (PP-PE). A eleição foi a primeira vitória parlamentar do governo após meses na defensiva devido à crise do Valerioduto.
Segundo Marco Aurélio, Lula nunca explicitou nenhuma preferência por Aldo ou por qualquer outro nome. “O presidente acompanha o processo da eleição para a Câmara com interesse geral. Ele não está alheio, mas essa é uma decisão que está centrada nos deputados. O presidente pode até ter suas preferências, mas nunca as explicitou”, disse.
Para o dirigente petista, a decisão facilita um acordo, porque permite que os aliados comparem seus candidatos. “Os nomes são de altíssima qualidade e vão ter de ser comparados. Para isso, é preciso que sejam explicitados”, comentou Marco Aurélio.
Fontana quer um só candidato em fevereiro
Henrique Fontana também se cercou de cautelas: “Nós queremos, no dia da eleição, chegar com um só candidato. Os petistas consideram que não só a candidatura do PT é legítima, como a do PMDB é legítima, como a de Aldo Rebelo é legítima.”
Fontana argumentou que seria impossível uma base governista de mais de 300 deputados ter um único candidato a dois meses da eleição. Mas disse que o objetivo é chegar ao dia da eleição, 1º de fevereiro, com um único candidato da base.
O deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente licenciado da legenda, disse que o nome de Chinaglia apenas abre o debate para que os demais partidos se posicionem: “O PT não pode se omitir. Estamos oferecendo um nome para abrir o debate”, disse Berzoini, que não foi chamado à mesa da reunião e sentou-se numa das últimas cadeiras.
Rands advoga “postura humilde”
O deputado Maurício Rands (PE) defendeu que, numa “postura humilde” para não acirrar a disputa, o PT apenas submeta a candidatura de Arlindo Chinaglia para avaliação da base governista. O receio expresso por Rands e outros membros da bancada é que se repita o traumático racha na base governista, que desembocou na eleição de Severino Cavalcanti em 2005. “O caminho vai ser trazer para cá (Câmara) a coalizão que está sendo montada pelo governo”, diz Rands.
“É o momento em que a unidade se sobrepõe à idéia da disputa. Reconhecemos que não é possível repetir o episódio de 2005”, reforçou Tarcísio Zimmermann (RS).
“É fundamental que a base aliada esteja unida e estável para dar tranqüilidade ao governo. O PT quer buscar o consenso em torno de um nome para evitar anomalias como na eleição passada”, disse também o presidente do PT.
Chinaglia nega influência de Dirceu
O deputado Paulo Rubem Santiago (PE), ligado ao Coletivo Florestan Fernandes, afirmou que não há restrições ao nome de Chinaglia, mas defendeu um maior debate sobre a presença do PT na presidência da Câmara. Santiago disse considerar que o lançamento de Chinaglia é o resultado mais da vontade pessoal deste e da articulação de um grupo de São Paulo do que do desejo da bancada petista. Nos últimos dias circulou na imprensa a versão, desmentida, de que o ex-ministro e ex-deputado José Dirceu (SP), ainda influente no PT, estaria articulando o lançamento de Chinaglia. Este negou.
Antes da bancada petista, o Conselho Político do PT reuniu-se em Brasília em conjunto com a coordenação da bancada. A decisão foi que o partido proporia um nome para concorrer à presidência da Câmara, mas sem explicitar nomes. Além de Chinaglia, foi citado nos últimos dias o deputado Walter Pinheiro (BA).
Da redação, com agências