SOS Amazônia: uma proposta de representação com legitimidade

“Fundação SOS Mata Atlântica. Rede de ONGs da Mata Atlântica. São nomes que imediatamente nos vêm à mente quando pensamos em proteção da Mata Atlântica. Eu pergunto. Quais são as entidades que nos vêm à mente quando a questão é Amazônia? Tente responder r

SOS Amazônia: Uma proposta de representação com legitimidade


 


Por Edgar Werblowsky*


 


Fundação SOS Mata Atlântica. Rede de ONGs da Mata Atlântica. São nomes que imediatamente nos vêm à mente quando pensamos em proteção da Mata Atlântica. Eu pergunto. Quais são as entidades que nos vêm à mente quando a questão é Amazônia? Tente responder rapidamente.


 


Não há. Isto é um problema e é o reflexo da falta de unidade nesta questão. Diversas ONGs atuam na região. Empresas públicas. Fundações. Universidades. Ministérios. Organismos nacionais e internacionais. Para ilustrar ao leitor, listo uma série destes organismos. IPAM, JAIKA, INPA, NAEA, NUMA, Museu Emílio Goeldi, Instituto de Madeiras, Greenpeace, WWF, ADA, Ministério Público, Ministério da Marinha, IBAMA, Ministério do Meio Ambiente, Polícia Federal, FUNAI, e quantos outros mais.


 


Há inúmeros pesquisadores trabalhando na e para a região, seja no Brasil, seja no exterior. São milhares de teses, estudos, pesquisas, muitas delas sobrepostas, mas normalmente vozes individuais. Percebe-se a falta de um fio condutor, um eixo central, em torno do qual toda esta energia e produção intelectual devem gravitar. Urge a coordenação destes esforços, desta comunicação. Ressentimos-nos de uma entidade que centralize os esforços de conservação e que possa ser rapidamente identificada pelo público como a voz que fale pelo ecossistema.


 


O mais complexo e importante ecossistema contínuo do planeta necessita de um porta-voz. Alguma entidade que seja identificada pela sociedade como a fiel depositária de nossas inquietações, angústias e propostas. Um repositório com as mais lúcidas e coerentes soluções para esta região sem tutela nenhuma. Infelizmente a Amazônia se encontra a 4000 km de nossas casas (aqui no sudeste) e a maioria de nós se importa mais com o buraco no asfalto da rua do que na sobrevivência de algo que é muito nosso e esta sendo vilipendiado a olhos vistos.


 


A sociedade brasileira precisa se mexer. Queremos uma política clara para a região, e que seja respeitada. Exigimos o respeito às leis. Não aceitamos que o descaso, a inépcia, a acomodação a uma situação de total leniência sejam a prática corrente e aceita. Política de conservação não deve ser apenas atribuição de um dos órgãos do governo. Que tem que duelar com outros. Tem que ser política de estado.


 


Não podemos deixar que uma minoria se aproveite de um bem que é de todos, e pior, ao arrepio da lei, sem sofrer as sanções previstas em lei, por absoluta vontade política. Que país estamos legando a nossos filhos? Com que direito? Com que direito? Recorro a Emile Zola e valho-me de seu libelo:J’ Acuse.


 


Conclamo os homens de bem, as organizações comprometidas, a dar um basta nesta festa mórbida. Se não o fizermos por bem, acabaremos por ter que fazê-lo por mal. A natureza é impiedosa quando vilipendiada. Urge a convocação dos homens de bem, das entidades comprometidas, para a criação de um porta-voz da floresta.


 


Chamemos as universidades a saírem de seu papel passivo na geração do conhecimento, na avaliação de teses, para adotarem uma postura pro-ativa de conservação e fiadora de uma política responsável. Gravíssimo erro é deixar continuar como está para ver como é que fica. Fatal é deixar a chave do galinheiro na mão da raposa.


 


Quando a maioria da sociedade acordar será tarde. As florestas e rios já terão se ido. Para desgraça de nossos filhos e netos. Será que não vamos nos mexer, sair das nossas cadeiras ?


 


Há exatos 20 anos atrás um grupo de ambientalistas, empresários, jornalistas, publicitários e homens de visão criaram a Fundação SOS Mata Atlântica. Neste momento é imperioso que este espírito reúna novamente as pessoas deste calibre e que juntos eles abracem este desafio.



 


(*) Edgar Werblowsky é diretor de inovação e ações sócio-ambientais da Freeway Brasil e diretor do TOI (UNEP – UNESCO – UNWTO), a comissão de turismo sustentável da ONU. (http://www.freeway.tur.br e http://www.toinitiative.org).