De educador a criador – Paulo Freire é lembrado em homenagem na Câmara

“Ele foi quase tudo o que deve ser como educador, de professor de escola a criador de idéias e métodos”. A frase, da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), sintetiza a figura de Paulo Freire, homenageado em sessão solene na Câmara dos Deputados, nesta qua

Essa homenagem, lembrou Alice,  “se dá em um momento especial para a educação no País, quando acabamos de aprovar a criação do Fundeb (Fundo de Educação Básica) e acabamos de definir, já com muitos anos de atraso, que a criança pobre não estará condenada a entrar na escola para se alfabetizar somente aos 7 anos de idade”.



“Hoje, educadores como Darcy Ribeiro, o professor Cristovam Buarque, aqui presente, e outros educadores brilhantes e pouco falados no País, como Luiz Felipe Perret Serpa, também um dos fundadores da UnB (Universidade de Brasília), todos mobilizaram-se pela educação, mas Paulo Freire materializou, em direção à maioria, aos mais pobres, àqueles absolutamente apartados da grande visão que é o saber em nosso País”, afirmou a deputada comunista.



Em seu discurso, ela destacou “o plano ousado de desenvolvimento da educação” apresentado pelo governo, mas lembrou que “apesar dos passos dados com o Fundeb, com a discussão do piso salarial para o educador, precisamos remontar a essa grande onda de alfabetização, remontar à mobilização tão sonhada por Paulo Freire, para que se garanta o saber a todos os brasileiros”.



Nos discursos, os parlamentares destacaram a vida e obra do educador. A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que presidiu a sessão, falou emocionadamente sobre a perseguição a Paulo Freire pela ditadura militar. O golpe militar de 1964 pôs fim a mobilização social empreendida pelo educador na forma de uma Pedagogia do Oprimido. Paulo Freire foi considerado subversivo, foi preso e depois exilado.



Trajetória



Paulo Reglus Neves Freire foi descrito em toda sua trajetória em defesa da educação. Nascido no dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do País, logo cedo pôde experimentar as dificuldades da luta pela sobrevivência das classes populares.



Trabalhou inicialmente no Serviço Social da Indústria (Sesi) e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife.



“Não existe uma educação neutra, toda educação é, em si, política”, dizia o mestre.



Freire aplicou publicamente seu método, pela primeira vez, no Centro de Cultura Dona Olegarinha, um Círculo de Cultura do Movimento de Cultura Popular. Inicialmente com 5 alunos, dos quais 3 aprenderam a ler e escrever em 30 horas, outros 2 desistiram antes de concluir.



Baseado na experiência de Angicos, onde em 45 dias alfabetizaram-se 300 trabalhadores, João Goulart, Presidente na época, chamou Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20 mil círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade. Só no estado da Guanabara, Rio de Janeiro, se inscreveram seis mil pessoas.



Em 1967, Freire publicou seu primeiro livro, Educação como Prática da Liberdade. O livro foi bem recebido e Freire foi convidado a ser professor visitante da Universidade de Harvard, onde iniciava-se sua trajetória internacional.



De Brasília
Márcia Xavier
Colaborou: Gustavo Sousa