Sorrentino: capitais e grandes municípios são prioridade do PCdoB para 2008
Em artigo dirigido especialmente às direções municipais do PCdoB nas capitais, Walter Sorrentino, secretário de Organização do partido, fala sobre a necessidade de se firmar o partido no cenário nacional. E isso, diz, “é particularmente exigido nas c
Publicado 11/06/2007 11:58
Às direções partidárias das capitais
Debatendo pelo país a questão da organização do PCdoB, neste momento em que apontamos para uma mudança de fase na estruturação partidária, deparamo-nos freqüentemente com um argumento de muitos companheiros e companheiras. É o de que os rumos indicados não são propriamente novidade. Alguns chegam a dizer ser mesmo uma velha verdade dizer que é preciso enraizar mais o partido pela base, conferir maior capilaridade às organizações partidárias entre os trabalhadores e o povo.
Bem, nada contra as velhas verdades. Já argumentei, em outro lugar, que elas precisam ser insistentemente repetidas, porque sempre haverá um número substancialmente grande de pessoas que a ouvirão pela primeira vez. Felizmente, o PCdoB está em expansão e há de fato um número grande de novos e novas militantes sequiosos de sanar o que se julga, corretamente, ser uma debilidade do partido. E a construção de um partido comunista de fato é uma tarefa perene e complexa.
Mas a questão é outra. É que a busca desses objetivos se altera positivamente pelas novas possibilidades. Ou seja, a escala traz diferenças; busca-se o mesmo por novos caminhos. Temos hoje um repertório muito mais amplo para enfrentar essa velha questão, porque já há uma base inicial mais forte de estruturação partidária. Os investimentos que estão sendo preparados para maior comunicação com o povo facilitam esse caminho. O Estatuto também, porque flexibilizou o modo de conceber o funcionamento das organizações partidárias. E, ainda, a perspectiva política vem em apoio a isso: as chapas próprias de vereadores podem conferir muito mais capilaridade ao trabalho partidário e maior penetração de sua identidade eleitoral junto a camadas extensas do povo. Por isso, a repetição é apenas a aparência do fenômeno.
Isso tudo a propósito de mais uma dessas questões “antigas” que é a das direções partidárias nas capitais. Enumerar as fases que atravessou esse debate entre nós ocuparia muitas páginas. Mas a questão se repõe, sob a mesma aparência, e novas conformações.
Está claro entre nós que o impulso decisivo para afirmar mais o papel do PCdoB no atual cenário, disputar para ele um lugar político mais amplo, dependerá centralmente de se preparar para disputas majoritárias em 2008. Deve estar claro também que esse impulso é particularmente exigido nas capitais e maiores municípios do país, para dar ensejo a um novo ciclo de acumulação político-eleitoral dos comunistas. Naturalmente, isso representa maiores exigências de fortalecimento do Partido nesses municípios e, particularmente, das direções municipais.
A questão é que nas capitais se concentra o grosso da dinâmica política, o centro nevrálgico da luta política-eleitoral dos Estados e, por isso, carece de atenção especial. Será preciso conferir maior representatividade política a elas, legitimidade interna e externa aos seus dirigentes, e força à direção de conjunto para construir e dirigir o projeto político eleitoral. Serão eles que negociarão com as demais forças políticas e conduzirão o difícil desafio de montar uma chapa própria de vereadores e coordenar as metas eleitorais almejadas. Seria até estranho, nessas circunstâncias, que as lideranças mais visíveis do PCdoB nas capitais não viessem a cumprir papéis dirigentes formais, inclusive de presidentes de seções. A questão aí é de métodos – organizar a atividade dessas lideranças em função das exigências e sempre conceber um papel coletivo à direção.
Superar visões condicionadas
Estaríamos repetindo questões nesse terreno? De modo algum. Esta é a primeira vez em que, de forma mais extensiva, vamos dar esse passo. Mas há um outro motivo para destacar a questão das capitais. É que, de certa forma, no debate sobre o caráter dessas direções será preciso superar condicionamentos mais ou menos fortes, próprios de nossa trajetória. Não é justificável encará-las como meras extensões das direções estaduais. Tampouco se justificam receios de que direção forte nas capitais possa fazer sombra à direção estadual. Será necessário superar, de fato, a noção de direções de capitais subsumidas às direções estaduais, ou mera extensão organizativa delas, sem prejuízo da necessária interação entre elas assegurada pela institucionalidade partidária. De outra parte, não fará sentido uma forte direção na capital se não for para organizar e dirigir um partido mais estruturado em comitês intermediários e bases que penetrem no cotidiano dos trabalhadores e do povo, ou seja, ser uma forte direção organizativa. Mas o vetor predominante do seu fortalecimento é essencialmente de capacitação política e de intervenção político-social. É preciso ainda atenção especial para a necessária incorporação de mais mulheres às direções das capitais e de delegadas às suas conferencias pois para se chegar a um mínimo de 30%, deverá ser precedido de esforços dirigidos.
O que se quer indicar é que mais uma vez é necessário voltar a esse debate, agora em condições mais elevadas. Como se vê, trata-se sempre de formular estratégias de construção partidária, entre as quais hoje acertar na medida das direções das capitais é muito importante. Opções organizativas têm raízes políticas, e hoje impulsionar a votação do PCdoB nos grandes municípios é central. O problema entre nós é que muitas opções organizativas adotadas no passado e prevalecentes por um longo período, justificadamente ou não, parece transformarem-se em concepções imutáveis, à margem das opções políticas.
Considere-se lançado o debate. Provavelmente um rumo desse vai exigir uma reconformação da alocação dos quadros partidários. Diferentes arranjos poderão ser feitos, em correlação com as características de cada Estado e de cada seção estadual partidária. Há um rol de opções, mas se precisa estar consciente e de fato caminhar no sentido de fortalecer muito as direções de capitais. Começar pelo principal ainda é a melhor estratégia.
* Walter Sorrentino, médico, é secretário de Organização do PCdoB