Congresso da UNE lançará documentário sobre Honestino

Honestino Guimarães incomodava a ditadura. No final dos anos 60 ocorreu uma invasão cinematográfica dos militares à Universidade de Brasília (UnB) somente para prendê-lo. O ex-presidente da UNE ainda tem muitas de suas histórias desconhecidas. A UNE aprov

“Tudo sobre Honestino Guimarães é muito difícil de ser encontrado, não existem registros oficiais sobre o que aconteceu com ele. Ao mesmo tempo, era um personagem muito falado pela ditadura no período anterior à sua prisão”, conta Paula Damasceno, estudante e diretora do filme que conta a história do último presidente da UNE antes da sua reconstrução.


 


O documentário será lançado durante o 50º Congresso da UNE, em uma solenidade na Universidade de Brasília, a mesma em que Honestino ingressou com o primeiro lugar no vestibular para Geologia e onde se destacou como líder estudantil. Estarão presentes parentes e amigos do estudante, autoridades e ex-dirigentes da UNE.


 


“Vamos fazer uma grande homenagem a esse que é um herói nacional e, talvez, seja o principal herói da UNE, um símbolo, uma referência para qualquer militante do movimento estudantil brasileiro”, ressalta o presidente da UNE, Gustavo Petta.


 


Filme


 


Recuperar, nas telas, a história de Honestino Guimarães é uma idéia do Instituto CUCA (Circuito Universitário de Arte e Cultura ), pensada poucos meses depois da Bienal da UNE, no Rio de Janeiro.


 


“A retomada do terreno dos estudantes na Praia do Flamengo e os 70 anos da entidade nos fizeram concluir que essa era a hora de contar a trajetória de Honestino. Começamos a produção e a UNE nos incentivou para que lançássemos o filme durante o Congresso, na cidade de Honestino, com a presença de seus familiares”, explica o diretor do Instituto CUCA, Luis Parras.


 


Parras, que também assina a direção de arte do filme, diz que a produção realizou pesquisas, visitas e entrevista em São Paulo, Rio e Brasília, na expectativa de juntar informações sobre o ex-líder estudantil: “Conversamos com seus familiares, sua esposa, amigos, foi um processo de investigação. Às vezes uma pessoa dava uma dica que levava a outra e assim recolhemos o material”, descreve.


 


Paula ressalta que esse processo foi mais “afetivo do que objetivo”, devido à ausência de fatos seqüenciais no caso Honestino Guimarães. “Quando tivemos a idéia do filme, conversávamos sobre a importância da abertura dos arquivos da ditadura. Muita coisa está escondida, foi perdida ou destruída”, revela.


 


Mesmo assim, a produção do documentário teve acesso a informações inéditas, como os dados levantados nos arquivos do Dops, em São Paulo e as correspondências entre o reitor da UnB e o governo militar, nas quais Honestino é frequentemente citado.


 


Paula diz que o filme se orientou por um dos eixos principais do Instituto CUCA, o resgate da memória social. “As ações do CUCA precisam dialogar com a sociedade através da história, por isso esse filme é tão importante para nós”, justifica.


 


Honestino: história de vida, história de luta


 


No último dia 28 de março, Honestino Guimarães estaria completando 60 anos, por coincidência na mesma data em que o estudante Edson Luis, outro mártir da juventude, foi assassinado pelos militares no Rio de Janeiro. Assim como o dia de seu aniversário, quase todas outras referências sobre Honestino remetem ao movimento estudantil, sua maior paixão.


 


Líder desde os tempos de colégio no interior de Goiás, sonhava em ser presidente da República. Em brincadeiras de rua, chegou a nomear os dois irmãos ministros da Aeronáutica e da Marinha. Gostava de bolar estratégias, coordenar reuniões e promover mini-comícios. O tempo transformou-o em um ativista.


 


O sonho de mudar o mundo coincidiu com a vinda para Brasília, em 1960. Em meados daquela década, Honestino projetou-se como um dos personagens políticos mais importantes da capital. Alcançou a presidência da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB) e, em seguida, comandou a União Nacional dos Estudantes (UNE).


 


Foi preso pela primeira vez em 1968, em uma operação dos militares na Universidade de Brasília. Foi obrigado a deixar cidade, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde viveu na ilegalidade. Mesmo com toda a repressão ao movimento estudantil e qualquer outra manifestação, Honestino se manteve firme na presidência da UNE. Foi preso em 10 de outubro de 1973 e nunca mais foi visto. Em 1996, sua família recebeu o certificado de sua morte, sem causas apontadas.