Controladores estão mais cautelosos, dizem comandantes
Os comandantes dos Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindactas) 3 e 4, coronéis-aviadores José Alves Candez Neto e Eduardo Antonio Carcavallo Filho, afirmaram que o acidente entre o Boeing da Gol e o jato Legacy no ano pas
Publicado 03/07/2007 17:50
Em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Crise Aérea, Carcavallo disse que algumas “flexibilidades de procedimento” consideradas toleráveis antes do acidente hoje são evitadas, uma vez que o controlador poderia ser acusado judicialmente de irregularidades. Ele citou como exemplo os controladores aceitarem um aumento de tráfego acima do máximo de 14 aviões porque sabiam que o tempo de duração desse tráfego era curto.
Contribuiu para a mudança de atitude o fato de o Ministério Público ter denunciado o controlador Jomarcelo Fernandes dos Santos, que estava em serviço no momento do acidente, por crime doloso (com intenção). O Cindacta 4 fica em Manaus e manteve contato com o avião da Gol até ele passar para o controle do Cindacta 1 em Brasília.
Já o comandante do Cindacta 3 informou que houve um expressivo aumento dos relatórios de perigo realizados após o acidente, o que não significa aumento na quantidade de incidentes efetivamente ocorridos. Em 2005, por exemplo, o Cindacta 3, sediado em Recife e que cobre uma área de mais de 15 milhões de km² no Nordeste brasileiro e no Oceano Atlântico, registrou 72 relatórios de perigo. Em 2006, foram 152, a grande maioria depois do acidente (setembro). Entre janeiro e junho deste ano, foram registrados 133 relatórios de perigo. “Certamente vamos superar o registrado no ano passado”, considerou Candez Neto.
Falta de pessoal
Apesar de garantirem que o espaço aéreo brasileiro é seguro, os dois comandantes admitiram que faltam controladores de vôo no Brasil. “A falta de gente é nosso problema básico”, declarou o comandante do Cindacta 3. Já Carcavallo acrescentou que essa demanda não é só de controladores, mas de outros profissionais também. “Eu posso citar claramente que, desde o momento em que eu assumi o comando, em janeiro de 2006, até hoje perdi oito engenheiros para o mercado externo, que paga mais”.
Questionado pelo relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), Carcavallo reiterou que manteve um diálogo com o comandante do Legacy, Joe Lepore, após o avião ter pousado na Serra do Cachimbo (divisa entre Pará e Mato Grosso), depois do acidente.
O comandante admitiu que não fala fluentemente inglês, mas disse que, durante o diálogo, o piloto mudou sua resposta ao ser questionado se o TCAS (Sistema para Evitar Colisão Durante o Vôo, na sigla em inglês) estava ligado. Inicialmente, Lepore afirmara que o aparelho estava desligado. Em seguida, após consultar alguém que não foi identificado, disse que o aparelho estava ligado.
Desmilitarização
Os comandantes também se disseram contrários à desmilitarização do sistema, por considerarem parte “da segurança nacional”, e criticaram a proposta de oferecer remuneração diferenciada para os controladores. “Se privilegiarmos um setor em detrimento de outro que trabalha tanto quanto o primeiro estaremos sendo injustos”, definiu Neto.
Marco Maia considerou que os depoimentos dos comandantes ajudaram a demonstrar a segurança do espaço aéreo brasileiro, apesar de eventuais falhas, que ainda não estariam claramente identificadas. Para Maia, no entanto, a Aeronáutica não é a origem desses problemas.
Relatório da primeira fase
O deputado anunciou que, na próxima semana, provavelmente na quinta-feira (12), apresentará seu relatório referente à primeira parte da investigação, que foi o acidente e suas motivações. Ele já adiantou que o documento vai apontar os pilotos do jato Legacy, Joe Lepore e Jean Paul Paladino, como os maiores culpados pelo acidente. Além dos pilotos, Marco Maia adiantou que os controladores também serão acusados, mas em grau menor.
Amanhã, Maia e o presidente da CPI, deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), farão visita pela manhã à sede da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em Brasília. À tarde, a CPI votará requerimentos.
Fonte: Agência Câmara