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Economistas criticam critérios para laurear prêmios nóbeis

Reclamar de vez em quando sobre a injustiça ou política de uma premiação em particular do Nobel da paz ou literatura é esperado. Mas quando se trata de economia, é o prêmio em si que às vezes é criticado; mesmo alguns de seus laureados sugeriram que fo

Diferente dos cinco prêmios originais citados no testamento de Alfred Nobel há mais de um século, o prêmio de economia -formalmente chamado de Prêmio de Ciências Econômicas o Banco da Suécia em Memória de Alfred Nobel- foi criado em 1968 pelo banco central do país em comemoração ao seu 300º aniversário. Mas não é associação contestada com o Nobel que provoca consternação, mas o tipo de trabalho que freqüentemente é homenageado.


 


“Eles não tratam dos problemas do mundo real”, disse James K. Galbraith, um economista da Escola de Assuntos Públicos Lyndon B. Johnson da Universidade do Texas, em Austin, expressando uma queixa muito comum que grande parte dos trabalhos econômicos reconhecidos pelo Nobel parece fora de contato com a realidade.


 


As queixas em relação aos vencedores do prêmio geralmente se enquadram em uma de três categorias: ideológico demais; preocupado demais com teoria e matemática; voltado demais aos problemas enfrentados por Wall Street em vez de questões globais urgentes como desigualdade, pobreza e meio ambiente.


 


“Historicamente, há muita justificativa à crítica de que era um tanto ideológico em sua natureza”, disse Joseph E. Stiglitz, que venceu o prêmio em 2001 juntamente com George A. Akerlof e A. Michael Spence por sua análise de mercados nos quais pessoas são informadas de forma desigual.


 


Ele se referia ao período de seis anos nos anos 90 no qual economistas da Universidade de Chicago -o quartel-general de Milton Friedman e o templo da economia laissez-faire- conquistaram cinco prêmios. Alguns daqueles trabalhos, ele se queixou, “claramente não representavam um avanço em nenhum senso fundamental”.


 


Este não é mais o caso, ele disse; de fato, o problema agora deriva do comitê ir ao extremo oposto.


 


“A principal crítica agora é por penderem mais para modelos mecânicos e avanços técnicos”, ele disse. “É possível entender isto em parte como uma resposta às críticas de que eram ideológicos demais”, ele explicou, mas o problema é que não é devidamente analisado “quão substancial é o trabalho”.


 


Não é como vê Gary S. Becker -um economista da Universidade de Chicago que conquistou o prêmio de 1992 pela aplicação da teoria econômica a uma grande variedade de comportamentos humanos, incluindo a criminalidade e a discriminação racial.


 


“As pessoas têm julgamentos diferentes sobre o que constitui a maior contribuição”, ele disse, mas defende que os vencedores “refletem o trabalho mais importante em economia” e que os trabalhos homenageados são “úteis para o entendimento de como as sociedades funcionam”.


 


Amartya Sen, um dos poucos vencedores cujo trabalho se concentra no bem-estar social, disse que ele também considera os vencedores “muito dignos” do prêmio. Ele ficou particularmente satisfeito com o prêmio desta semana ter ido para Leonid Hurwicz, 90 anos, e Roger B. Myerson e Eric S. Maskin, ambos com 56 anos -três economistas americanos que ajudaram a criar e desenvolver uma explicação sofisticada para a interação entre indivíduos, mercados e instituições.


 


Apesar de “ter existido uma quantidade justa de críticas” sobre inclinações ideológicas há mais de uma década, ele disse, este não tem sido o caso recentemente. Muito trabalho está “ligado ao raciocínio técnico”, disse Sen, mas isto está “relacionado à natureza da matéria”.


 


Becker comparou o campo da economia à química ou física, nos quais há “uma maior inclinação para a teoria” para tratar de questões mais fundamentais. Ele também desdenhou a idéia de que a série de prêmios da Universidade de Chicago tenha exibido uma inclinação política, dizendo que o trabalho premiado daqueles acadêmicos “não tinha nada a ver com ideologia”.


 


Os prêmios para ciência “hard” certamente serviram de modelo para o mais recente Nobel. Como Burton Feldman explicou em seu livro “The Nobel Prize: A History of Genius, Controversy and Prestige” (o prêmio Nobel: uma história de genialidade, controvérsia e prestígio), o prêmio de economia foi criado em uma época de riqueza exuberante, quando matemática e estatística tinham colonizado a economia e seus praticantes alegavam que seu campo estava mais ligado à física do que à sociologia.


 


Mas a noção de que a economia é científica, disse Jeff Madrick, diretor de pesquisa de políticas do Centro Schwartz de Análise de Política Econômica da Nova Escola em Nova York, é “altamente exagerada”.


 


Madrick não apenas duvida que contribuições significativas ao campo podem ser limitadas àquelas baseadas em econometria, mas também questiona se tal tipo de trabalho é tão isento de inclinação quanto é freqüentemente alegado. “O prêmio Nobel se tornou um animal político disfarçado de cientificamente puro.”


 


Esta era a essência da queixa de Gunnar Myrdal, vencedor do Nobel. Em uma carta de 1977 a um jornal sueco, ele rejeitou a idéia de que o campo da economia poderia reivindicar um Nobel com base em rigor científico. A economia precisa se preocupar com necessidades políticas e sociais, ele argumentou, e pediu pelo fim do prêmio de economia.


 


O defensor conservador do livre mercado, Friedrich von Hayek, que dividiu o Nobel de economia com Myrdal em 1974 apesar de ser seu oposto ideológico, concordou neste assunto. Se lhe tivessem consultado, disse Hayek, ele teria “certamente aconselhado contra” a criação de um prêmio de economia.


 


Barbara Bergmann, uma professora emérita da Universidade Americana e da Universidade de Maryland, disse que o mesmo problema que aflige o prêmio aflige a profissão como um todo: teoria demais e pesquisa concreta insuficiente.


Apesar de todo seu prestígio, a maior falha do prêmio, reclamou Galbraith, é que “certas áreas da economia são mais ou menos excluídas”, citando como exemplo o trabalho sobre pobreza, desigualdade, os aspectos econômicos da mudança climática, o colapso dos sistemas econômicos comunistas e as crises de dívida.


 


Galbraith não precisou olhar muito além de sua própria mesa de jantar em busca de evidência. Seu pai, John Kenneth Galbraith, um dos economistas mais influentes do século 20 mas sempre um forasteiro para as fileiras acadêmicas da profissão, nunca recebeu o prêmio.


 


Sen também mencionou John Kenneth Galbraith como alguém que poderia ter sido homenageado mas foi ignorado. Trabalho que lida com desemprego, desigualdade e pobreza, concordou Sen, não costuma ser citado com freqüência em Estocolmo.


 


Segundo Sen, “estes também exigem reconhecimento, mas isto não significa que aqueles que foram reconhecidos não mereçam”.


 



Fonte: The New York Times
Tradução: George El Khouri Andolfato / UOL Mídia Global