Ataque contra sem-terra deixa dois mortos no Paraná
Durante um ataque de uma milícia com cerca de 40 pistoleiros ao acampamento do campo de experimento da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste, às 13h30, de domingo (21), dois morreram e oito ficaram feridos. O líder sem-terra Valmir M
Publicado 21/10/2007 20:58
A Polícia do Paraná prendeu, neste domingo (21), sete seguranças particulares que trocaram tiros com sem-terra que voltaram a ocupar a fazenda experimental de transgênicos da multinacional Syngenta Seeds, no cinturão de proteção ecológica do Parque Nacional do Iguaçu, em Santa Tereza do Oeste, no Oeste do Paraná. Os seguranças particulares foram autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões, na delegacia de Cascavel. A Secretaria de Estado da Segurança Pública determinou que policiais fiquem de prontidão nas imediações da fazenda para evitar novos confrontos.
A fazenda, que tinha sido desocupada em julho deste ano, foi reocupada na madrugada por homens e mulheres ligados ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST). À tarde, os seguranças particulares expulsos na madrugada pelo MST voltaram ao local. Houve, então, o tiroteio, no qual duas pessoas morreram e pelo menos seis ficaram feridas.
Os seguranças presos confirmaram ter participado do ataque aos sem-terra. Eles afirmaram terem sido contratados pelo Movimento dos Produtores Rurais para retirar pessoas que tentassem invadir a área. Os seguranças, que teriam chegado num ônibus escolar à fazenda, teriam fugido a pé após o tiroteio. Eles foram encontrados e presos num barracão abandonado a cerca de seis quilômetros da fazenda.
No tiroteio morreram o segurança Fábio Ferreira de Souza, da empresa NF Segurança e o líder sem-terra Valmir Mota de Oliveira, conhecido como Kenun. Ficaram feridos e foram encaminhados ao Hospital Universitário os seguranças Vanderlei Giraldi, Rodrigo Oliveira Ambrósio e Marcelo Victor Stevens, e a integrante do MST Izabel Maria Nascimento Souza. Também receberam atendimento médico os integrantes do MST Adilson Alves Cartin, Jonas Gomes de Queiroz, Gentil Couto Vieira e Udson Alves Cardin. Segundo informações da Via Campesina, Izabel está em coma e corre risco de morte.
Versão da polícia
Na ocupação ocorrida durante a madrugada, não houve confronto. Apenas um dos sem-terra, Domingos Barreto Junior, que tem mandado de prisão em aberto por furto pela comarca da Catanduvas, foi baleado. Ele teria sido ferido pelos próprios integrantes do movimento. De acordo com as informações levantadas pela polícia, no momento da invasão os seguranças que estavam na fazenda teriam sido expulsos da área.
Por volta das 13 horas, um grupo de seguranças num ônibus escolar teria voltado para a frente da fazenda. A intenção deles seria reintegrar a área por conta própria. Foi quando aconteceu a troca de tiros entre os sem-terra e os seguranças. Da troca de tiros resultaram dois mortos e várias pessoas feridas. A Polícia Militar e o Siate foram acionados para prestar atendimento às vítimas e evitar a continuidade do tiroteio. Os feridos foram encaminhados para hospitais de Cascavel. Eles estão sob escolta policial e devem ser ouvidos na delegacia de Cascavel assim que forem liberados.
Versão da Via Campesina
A área da Syngenta foi reocupada na manhã de hoje, por cerca 150 pessoas da Via Campesina. O campo de experimento da empresa havia sido ocupado pelos camponeses em março de 2006, para denunciar o cultivo ilegal de reprodução de sementes transgênicas de soja e milho. Após 16 meses de resistência no dia 18 de julho, deste ano, as 70 famílias desocuparam a área, se deslocando para um local provisório no assentamento Olga Benário, também em Santa Tereza do Oeste.
Na reocupação os trabalhadores rurais soltaram fogos de artifício e os seguranças, que estavam na fazenda abandoram o local. Por volta da 13h30, um microônibus parou em frente ao portão de entrada, uma milícia armada com aproximadamente 40 pistoleiros fortemente armados, desceu atirando em direção as pessoas que se encontravam no local. Arrombaram o portão, executaram o militante Valmir Mota com dois tiros, balearam outros cinco agricultores e espancaram Isabel do Nascimento de Souza, que encontra-se hospitalizada gravemente ferida.
Na última quinta-feira (18), a denúncia da atuação de milícias armadas ligadas à Sociedade Rural da Região Oeste (SRO) e ao Movimento dos Produtores Rurais (MPR), com participação da Syngenta, foi reforçada durante uma audiência pública, com a coordenação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), em Curitiba.
PCdoB repudia morte de sem-terra
Em nota, o PCdoB do Paraná lamentou a morte do trabalhador rural sem-terra, ocorrida neste domingo, e exigiu ''punição rigorosa aos assassinos e aos mandantes deste odioso crime''.
Veja abaixo a íntegra da nota:
NOTA DE REPÚDIO
O diretório estadual do PCdoB do Paraná vem por meio desta repudiar veementemente bárbaro assassinato de trabalhador sem-terra, ocorrido neste domingo, na unidade do campo experimental da multinacional Syngenta Seeds [sementes], em Santa Tereza do Oeste, no interior do Paraná.
O PCdoB do Paraná exige punição rigorosa aos assassinos e aos mandantes deste odioso crime.
O PCdoB do Paraná solidariza-se com os companheiros sem-terra que lutam contra a violência no campo e pela reforma agrária.
Curitiba, 21 de outubro de 2007.
Milton Alves
Presidente do PCdoB/PR
Da redação,
com agências