Anti-Bush, filme de Brian DePalma vê Iraque como novo Vietnã
Estréia neste fim de semana nos Estados Unidos o filme Redacted — que traz histórias sobre a atuação dos soldados norte-americanos na Guerra do Iraque. Dirigido por Brian de Palma, o longa-metragem está no meio de uma polêmica: cenas consideradas
Publicado 19/11/2007 18:10
Segundo Sérgio Dávila, do UOL News, o filme de DePalma se apóia “na tese de que a guerra está sendo editada não como ela é no solo — mas como o governo quer que ela seja mostrada”. Segundo o jornalista, Redacted “pega vários casos que pipocaram nos últimos quatro anos e junta tudo em uma história só. Por isso o nome Redacted, que quer dizer reeditado — um termo muito comum no jornalismo”.
Para isso, disse Dávila, o cineasta lançou mão de uma “técnica chamada mocumentário, que é um falso documentário. O filme tem narrativa de documentário, mas é uma história teoricamente de ficção.” Teoricamente porque, apesar de o filme não mencionar nenhuma personagem real diretamente, vários fatos de “barbárie e selvageria” foram usados como base para o filme.
Algumas das histórias envolvem marines (fuzileiros navais) acusados de matar civis, estuprar mulheres e exterminar pessoas que não estavam envolvidas diretamente no combate. Na vida real, algumas dessas pessoas foram condenadas ou até mesmo expulsas das Forças Armadas norte-americanas. “Mas isso é mais uma exceção do que uma regra.”
Mesmo com toda essa polêmica, Dávila acredita que o filme não se sairá muito bem nas bilheterias norte-americanas. “Ninguém mais agüenta o Iraque. Há uma overdose de notícias da guerra do Iraque. É tanta desgraça que, quando o americano vai ao cinema, ele quer ver outra coisa.”
Novo Vietnã
Redacted deu a Brian DePalma o Leão de Prata no Festival de Veneza. Em entrevista à Efe, o diretor afirmou que a realidade da Guerra do Iraque é “um conflito que tem muitas semelhanças com o do Vietnã” e lamentou que os Estados Unidos “não aprenderam a lição”. Além de denunciar os excessos dos soldados americanos no Iraque, o filme aborda também a censura à imprensa.
DePalma utilizou atores desconhecidos para mostrar o dia-a-dia dos soldados na sua relação com a população iraquiana. São os militares americanos, com suas câmeras, que rodam o filme, como num documentário caseiro. Sua intenção era “aproveitar as vantagens da era digital, gravando tudo sem grandes preparações e com baixos custos, para refletir uma história de um modo mais real”.
Os papéis principais ficaram nas mãos de Lawyer McCoy, Angel Salazar, Reno Flake e Farah. “Foi uma premissa básica para que o filme parecesse um documentário real, ganhando um maior impacto”, explicou DePalma. Ele passou vários meses procurando jovens que “pudessem representar este material, tão duro, de maneira realista”.
O material veio “principalmente da internet, onde há muita informação de pessoas que viveram a guerra e contaram a sua história”, revelou. O criador de Dália Negra (2006), Vestida para Matar (1980) e A Fogueira das Vaidades (1990) tem muito clara sua avaliação sobre a intervenção do seu país no Iraque. “Está muito ruim. Está morrendo muita gente. Acho que as tropas deveriam sair dali o mais cedo possível.”
Pai de dois clássicos do cinema de terror, Carrie, a Estranha (1976) e A Fúria (1978), DePalma reconhece que a forma de rodar Redacted lembra muito a de A Bruxa de Blair. Mas lembra que já nos anos 60 fazia este tipo de cinema muito real, retratando de forma documental as ruas de Nova York em Wotan's Wake (1962) e Festa de Casamento (1969).