Arte contemporânea latino-americana se valoriza em 2007
As vendas de arte contemporânea procedente da América Latina e da Rússia superaram as previsões das casas Sotheby's e Christie's, mas ainda não se comparam com a arrecadação obtida por obras de artistas consagrados. As principais casas de leilões buscaram
Publicado 26/12/2007 12:56
Um dos destaques foi a venda em Nova York do quadro “Tres Personajes”, de Rufino Tamayo. O quadro, que estava desaparecido há 20 anos, foi recuperado do lixo e vendido por US$ 1 milhão (R$ 1,7 milhão).
As peças que bateram recordes foram, entre outras, um ovo com um relógio de diamantes fabricado por Carl Fabergé para os Rothschild (US$ 18,5 milhões ou R$ 33,1 milhões) e o “Estudo para Inocencio X” (US$ 52,6 milhões ou R$ 94,3 milhões), de Francis Bacon.
Outra aposta dos especialistas da Sotheby's foi no mercado da pintura espanhola do fim do século 19 e início do século 20. “Fuensanta”, de Julio Romero de Torres, foi leiloada por US$ 1,7 milhão (R$ 3 milhões) em Londres.
Mas um dos circuitos de arte moderna e contemporânea mais interessantes foi no meio do ano, na Europa, com a realização ao mesmo tempo de quatro feiras: a Bienal de Veneza, a Documenta de Kassel, o Skulptur de Münster e a feira da Basiléia, também conhecida como Art Basel.
Além dos leilões, os artistas latino-americanos foram protagonistas no mercado asiático e europeu, com sua participação em Veneza, Kassel e na Bienal de São Paulo.
Em Nova York, um dos focos mais importantes para a difusão e criação de novas tendências, foi organizada a primeira feira de arte latino-americana contemporânea, a Pinta. Além disso, o escultor colombiano Fernando Botero escolheu a cidade para mostrar 45 obras, que não estão à venda, inspiradas nas torturas na prisão iraquiana de Abu Ghraib.
Na escultura, a galeria Tate Modern, de Londres, contribuiu com duas mostras. Uma retrospectiva foi dedicada à prestigiosa franco-americana Louise Bourgeois. E a obra “Shibboleth”, da colombiana Doris Salcedo, apresentou uma renovação da linguagem, a caminho da instalação.
Em fotografia, a corrente russa, com o grupo AES+F e o artista Dimitri Gustov, continuou influenciando o mercado e as tendências da Europa.
Furtos
Mas os ladrões de obras de arte e de peças arqueológicas também foram notícia em 2007. Entre os furtos, que são mais freqüentes do que o público acredita e que nem sempre são divulgados, o destaque foi o desaparecimento de umas obras de Pablo Picasso da casa de uma de suas netas, em Paris.
Também desapareceram obras de Fernando Botero, em Pietrasanta (Itália), da Biblioteca Nacional de Madri. A boa notícia foi a recuperação de importantes obras furtadas, como “A Madona do Fuso”, de Leonardo da Vinci, telas do espanhol Pablo Picasso e os famosos quadros “O Grito” e “A Madona”, do norueguês Edvard Munch.
Na madrugada de 20 de dezembro, uma quadrilha invadiu o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e furtou os quadros “O Lavrador de Café”, de Portinari, avaliado em US$ 5,5 milhões (9,8 milhões), e “Retrato de Suzanne Bloch”, de Picasso, de US$ 50 milhões (R$ 89,6 milhões).
Celebridades
Além disso, como sempre aconteceu ao longo da história, as celebridades foram fonte de inspiração para os artistas. O polêmico escultor americano Daniel Edwards mostrou em Nova York uma escultura do cadáver da atriz Paris Hilton, insinuantemente nua durante uma autópsia. Já o britânico Jonathan Yeo, em Londres, retratou o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, usando uma colagem de fotos pornográficas.
Em 2007 o circuito artístico também procurou incorporar a história em quadrinhos, a “street art”, o grafitti e a culinária, apesar das reservas dos artistas e marchands mais puristas. A Documenta de Kassel chegou a programar para a sua inauguração uma criação culinária do chef espanhol Ferrán Adriá.
A tendência da arte ao longo do ano foi de continuidade das vendas e compras, principalmente do que já é conhecido, devido à incerteza financeira. No nível criativo, uma renovação profunda da linguagem artística, com um novo movimento forte, ainda não se consolidou, devido à especialização cognitiva e conceitual cada vez maior dos circuitos artísticos.
Fonte: Folha Online