CPI: tucanos batem boca sobre acordo com governo
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) e o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) protagonizaram um bate-boca em público nesta terça-feira que evidencia a disposição dos tucanos de tentar fazer uso político da CPI dos Cartões.
Publicado 12/02/2008 19:57
Eles trocaram ofensas durante almoço de parlamentares da oposição em uma churrascaria de Brasília. Ao discursar para os colegas, Dias acusou Sampaio de ter fechado um acordo com governistas para evitar investigações da CPI dos Cartões Corporativos sobre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso.
Nervoso, Sampaio reagiu às palavras do colega de partido. “Acordo não houve. Isso não coaduna com a minha história parlamentar”, reagiu. E foi além: “Eu me senti ofendido. Prefiro uma CPI mista que seja chapa-branca, mas que aconteça”, respondeu Sampaio ao mencionar a indicação de deputados da base aliada do governo para a presidência e a relatoria da comissão.
Constrangidos, deputados e senadores da oposição assistiram à confusão, mas evitaram intervir. Após a dura reação de Sampaio, Dias também amenizou as críticas. Inicialmente, o tucano disse que “nunca viu oposição fazer acordo com o governo para investigar o governo”.
O senador chegou a afirmar que Sampaio teria fechado o acordo com o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para garantir que a CPI mista fosse instalada. “Uma CPI que não chega ao centro do poder se desmoraliza e não pode ser levada a sério. Vou continuar dizendo lá fora que não participo de acordo, não fiz acordo”, disse Dias durante a discussão.
A hipótese de um acordo entre Sampaio e Jucá veio à tona na segunda-feira, quando o governista aceitou dar apoio à CPI mista dos cartões –cujo requerimento foi elaborado por Sampaio. Os dois parlamentares defenderam que as investigações não se concentrem sobre o presidente da República, mas sobre os servidores que usaram os cartões corporativos, o que deu margem às especulações sobre o acordo.
A oposição decidiu reunir suas principais lideranças em almoço para discutir a sua estratégia de atuação na CPI dos Cartões Corporativos. DEM e PSDB não abrem mão de ocupar um dos cargos de comando da comissão, embora o governo já tenha afirmado que irá respeitar a tradição do Congresso e o regimento e, por isso, não pretende abrir mão dos postos.
O jornalista-tucano Reinaldo Azevedo, contratado pela revista Veja para atacar o governo Lula em seu blog direitista, acusou o golpe e, num comentário sob o título “CPI – Os tucanos em dia de asnos”, reclamou: “Quem, no PSDB, permitiu que Sampaio negociasse esse desastre sozinho? Por que não foi a tempo impedido de fazer asneiras? Por que o governo FHC está sendo investigado? Qual é o fato determinado? Sampaio caiu no truque mais ordinário dos malandros, que o convocaram a provar que era o bom moço que nada temia. O governo acabou concordando com a CPI Mista e vai ficar com a relatoria e a presidência – além, claro, de ter a maioria dos membros.” (…) “Espero que o DEM não compactue dessa porcaria. Deveria indicar seus membros na CPI e mantê-los lá, presentes, com um esparadrapo na boca.”, concluiu.
FHC incomodado com investigações
Quem também ficou incomodado com o desfecho das negociações pró-CPI foi o ex-presidente Fernando Henrique.Ao jornal O Estado de S. Paulo, ele declarou que não há fato determinado que justifique a apuração de irregularidades durante o seu governo. “As denúncias de mau uso do cartão corporativo foram feitas contra o governo atual. Este é o fato determinado para a criação de uma CPI , como exige a Constituição”, reclamou FHC.
Segundo dados da Controladoria Geral da União (CGU), os gastos do governo FHC com suprimento de fundos (que envolvem os cartões corporativos) foram de R$ 213,6 milhões, em 2001, e de R$ 233,2 milhões, em 2002. No governo Lula, eles foram reduzidos e mantêm-se, nos últimos cinco anos, a média anual de R$ 143,5 milhões.
Além desses números, outro dado incomoda Fernando Henrique Cardoso. É o fato dele também fazer, nos dias atuais, pagamentos com cartões corporativos por intermédio de funcionários da União a que tem direito como ex-presidente. A notícia levou mais constrangimento aos tucanos, já afetados pela revelação, semana passada, do total gasto pelo governo paulista com cartões corporativos (R$ 108 milhões) no ano passado, acima dos R$ 75 milhões da União no período.
Eduardo Maximiano Sacilloto Filho, segurança de Fernando Henrique, foi o pivô da nova polêmica. Ao longo de 2007, os gastos do cartão corporativo do qual é portador somaram R$ 14.792,07. Em apenas um dia de agosto do ano passado, o segurança de FHC encheu quatro tanques de gasolina, no Auto Posto Higienópolis, localizado no bairro de mesmo nome e próximo da residência do ex-presidente. Não se sabe se foram abastecidos quatro carros diferentes, se o servidor usou o cartão corporativo para completar o tanque do seu carro próprio ou se recebeu do estabelecimento algum valor em dinheiro. De qualquer, forma são informações que justificam a inclusão do tucanato no rol de investigados pela CPI.
Da redação,
com agências