Discurso do presidente Lula no Complexo do Alemão
Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de assinatura de ordem de início de obras do PAC na comunidade do Complexo do Alemão – Rio de Janeiro. ( 07 de março de 2008)
Publicado 07/03/2008 18:33
Meu querido companheiro Sérgio Cabral, governador do estado do Rio de Janeiro e sua companheira Adriana Ancelmo,
Nossa querida ministra Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil,
Nosso querido companheiro Tarso Genro, ministro da Justiça,
Nosso querido José Gomes Temporão, ministro da Saúde,
Nosso querido ministro Márcio Fortes, ministro das Cidades,
Companheiro Franklin Martins, ministro da Secretaria de Comunicação Social,
Nosso companheiro Edson Santos, da Secretária Especial da Igualdade Racial,
Minha querida companheira Marisa,
Meu querido companheiro Luiz Fernando de Souza, vice-governador do estado do Rio de Janeiro, mais conhecido como Pezão,
Deputado Jorge Picciani, presidente da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro,
Nosso querido companheiro senador Marcelo Crivella,
Nossos queridos companheiros deputados federais,
Secretários de estado,
Meus companheiros e minhas companheiras,
Eu quero, primeiro, dizer a vocês da minha alegria de estar aqui presente com os moradores da comunidade do Complexo do Alemão.
O Jorge Teixeira Gomes, da Associação de Moradores do Morro da Baiana,
A (inaudível) Maria de Jesus Gonçalves, da Esperança,
O (inaudível) Florença da Silva, Fazendinha,
Jane Lúcia de Sousa Salvador, da Palmeirinha,
Lourival Messias da Silva, da Associação dos Moradores de Mineiros, Edmar Lopes, de Nova Brasília,
José Augusto Francisco, do Alemão,
Nilcéa Rocha da Conceição, do Deus,
Renato dos Santos, do Morro do Itararé,
Luiz Carlos de Oliveira Silva, do Reservatório de Ramos
Reginaldo Gabriel Lima, porta-voz das Associações
Companheiro (inaudível).
Minhas queridas companheiras e meus queridos companheiros,
Eu acho que é importante fazer alguns agradecimentos. Esta obra não seria possível se não houvesse… se nós não tivéssemos arrumado o Brasil entre 2003 e 2006. E foi importante, Governador, que nós não anunciássemos o PAC antes das eleições de 2006 porque senão vocês iriam ler, em manchete de jornais, que nós estaríamos lançando um programa apenas com interesse eleitoral. E Deus é tão justo e tão grande que abriu a minha consciência para começar essa obra do PAC exatamente no momento em que eu não disputo mais eleições no Brasil, porque o mandato termina em 2010. Mas isso não seria possível sem a parceria com o nosso querido governador Sérgio Cabral.
Eu dizia para o Sérgio durante a campanha: Sérgio, é possível construirmos, pela primeira vez na história do estado do Rio de Janeiro, uma parceria entre estado e governo federal, para que a gente possa devolver em benefício aquilo que o povo do Rio de Janeiro e o Rio de Janeiro representam para o nosso País. E eu dizia para o Sérgio: eu estou cansado, Sérgio, de ver o Rio de Janeiro aparecer nas primeiras páginas dos jornais e na televisão, todos os dias, como se o Rio simbolizasse violência, como se o Rio simbolizasse bala perdida, como se o Rio simbolizasse bandido e criminalidade, quando 99% deste povo é honesto, decente, trabalhador e quer viver condignamente. Então, é importante agradecer ao companheiro Sérgio por essa parceria despojada, companheira, em que a gente pode construir e assinar aqui, hoje, a ordem de serviço do Complexo do Alemão.
Eu queria agradecer à nossa Dilma Rousseff – ela precisa vir aqui, para perto do Sérgio Cabral – a Dilma é uma espécie de mãe do PAC, é ela que cuida, é ela que acompanha, é ela que vai cobrar junto com o Márcio Fortes se as obras estão andando ou não estão andando. O Pezão é grandão, mas ele vai saber o que é ser cobrado pela Dilma: por que a obra atrasou, por que a obra não andou, por que a empresa parou, por que atrasou? Se não for assim, muitas vezes a coisa não acontece, se não for assim, a gente anuncia, o Governador fica feliz, eu fico feliz, depois a gente volta para casa e as coisas continuam como antes. A Dilma é a companheira que coordena o PAC, por isso eu disse que ela é a mãe do PAC. Ela coordena as ações do companheiro Márcio Fortes, que é o ministro das Cidades e, diretamente, é quem tem que acompanhar; da presidente da Caixa Econômica Federal, a Maria Fernanda, que é a companheira que vai cuidar das habitações aqui; e de todos os ministros que têm alguma coisa a ver; a questão da saúde, com o ministro Temporão.
Então, essas pessoas merecem vigilância de vocês, vigilância minha e do Sérgio Cabral: ele fiscalizando os secretários dele, eu fiscalizando os meus ministros. Eu disse ao Sérgio, e ele assumiu o compromisso: eu quero vir inaugurar essa obra no Complexo do Alemão, eu quero andar no teleférico uma vez para saber se ele vai ser bom ou não vai ser bom. Mas, Sérgio, é importante a gente lembrar de outra coisa. O Complexo do Alemão, na década de 40, era uma fazenda, era a fazenda de um polonês. O nome Alemão surgiu porque o polonês era galego, dos olhos verdes e do cabelo loiro. Então, isso aqui ficou chamado Complexo do Alemão, porque era uma fazenda. Vejam o resultado do Milagre Brasileiro. Isso aqui foi ocupado mais massivamente nos anos 80, quando o Milagre Brasileiro não tinha sido, na verdade, um milagre brasileiro. O que resultou foi que milhares de chefes de família que, na medida em que a cidade do Rio ia progredindo lá para as bandas das praias boas, os pobres eram afastados e iam procurando as encostas dos morros para morar.
Pois bem, isso aqui, desde 1940, se cada prefeito que passou de lá até agora, tivesse feito um pedacinho, a gente não teria que estar, hoje, anunciando uma coisa que poderia ter sido feita em 1950, em 1960, em 1970, em 1980, em 1990, em 2000. Eu sei que muita gente não gosta que eu fale assim, mas a verdade é que tem um monte de políticos no Brasil que só gosta de pobre no dia da eleição, porque é o dia em que o pobre é maioria, é o dia em que o pobre vale mais do que qualquer outro. Ninguém fala mal de pobre na televisão. Fala mal de banqueiro, fala mal de empresário, mas de pobre ninguém fala mal. Mas quando chega a época em que eles vão governar, eles preferem governar para os ricos que para os pobres, e os pobres vão ficando apinhados.
Essa não é uma coisa que eu estou dizendo, essa é a realidade do País. Se não fosse assim, não tem explicação ficar tantos anos permitindo que as pessoas se amontoem em cima de barracos, sem rua, repartindo espaço com tudo que é coisa ruim. E daí começa a surgir a criminalidade. Nós sabemos que o cidadão que já é bandido não tem que ser tratado com pétalas de rosas, mas nós sabemos que a polícia, para entrar aqui, precisa saber que antes do bandido, tem mulheres, homens e crianças aqui, que querem viver condignamente. Por isso é que amanhã o governador estará com o Ministro da Justiça assinando um programa de formação da polícia do Rio de Janeiro. Uma bolsa para melhor preparar o policial do Rio de Janeiro. Nós vamos dar essa contribuição.
Eu quero, Sérgio, repetir uma coisa que o nosso companheiro Pezão falou aqui. Deixem-me dizer uma coisa para vocês, que é importante e o Sérgio esqueceu de falar. Oitenta por cento dos trabalhadores que vão trabalhar no PAC, 80% – você disse – serão daqui. O que você esqueceu é que 20% serão mulheres trabalhadoras do Complexo do Alemão. Isso é extremamente importante. O que vai ser feito aqui, Pezão, você me corrija, você que controla aqui. Serão 2.620 novas unidades habitacionais, e melhorias em mais 4 mil unidades. Serão duas escolas de ensino médio, com salas de aula, salas de informática, sala de múltiplos usos, laboratórios, biblioteca e auditório. Terá um centro de apoio psiquiátrico, para recuperar pessoas que sejam viciadas em drogas ou em álcool, pessoas que precisem de atendimento especializado. Terá um centro de referência para a juventude, para capacitação profissional, atividades culturais e esportivas, pré-vestibular, informática e auditório. Terá uma biblioteca pública com salas para oficinas de arte e videoteca. Terá um centro de atendimento jurídico, incluindo Juizado de Menores, Juizado de Pequenas Causas, Tribunal de Justiça e Defensoria Pública. Centro de serviços com posto policial, correios e salas para programas sociais, e até banheiros públicos vai ter aqui no Complexo do Alemão. Mais ainda, escola técnica para jovens de 15 a 17 anos; centro integrado de atenção à saúde; atendimento odontológico; Unidade de Pronto Atendimento (UPA); policlínica com diagnóstico por imagem, laboratório e centro cirúrgico. Terá uma escola de música, terá um centro de geração de renda, e vamos capacitar profissionalmente o pessoal, criando incubadoras e agências de crédito. Criação do PAC da Serra da Misericórdia, com reflorestamento de vegetação nativa, 1 milhão e 200 mil mudas, área de lazer e esportiva, implantação de um lago com 77 mil quadrados. O que é o lago, Sérgio? É um lago artificial? Não é o piscinão de Ramos, não?
Companheiros, tudo isso que está sendo feito é por uma única razão: o Brasil, definitivamente, se encontrou consigo mesmo. Vocês estão lembrados dos anos 80 e dos anos 90, em que a gente só falava da dívida externa. O Brasil, hoje, não tem nada com o FMI e não queremos o FMI dando palpite no Brasil, porque nós somos donos do nosso nariz. Pela primeira vez, em 500 anos de história, o Brasil não é devedor, o Brasil é credor. Nós temos mais reservas do que a dívida que nós temos hoje, pública e privada. Isso é motivo de orgulho porque significa a conquista de andar de cabeça erguida pelo mundo afora sem estar de cabeça baixa, como o Brasil andou durante muito tempo. E nós, depois de construirmos isso, temos autoridade política, temos dinheiro e temos moral para vir aqui e dizer para os moradores: essa obra começa na segunda-feira. Por mim, já começava fazendo hora extra amanhã, mas não pode. Tudo bem. Por mim, já começava amanhã. Mas, vai começar segunda-feira.
E podem ficar certos, companheiro Pezão, companheiro Márcio, companheira Maria Fernanda, companheira Dilma, que Sérgio Cabral e eu viremos aqui sistematicamente visitar a obra, para saber se ela está andando ou se não está andando. Eu quero contribuir para mudar a imagem do Rio de Janeiro, contribuir para quando um pobre, seja branco ou negro, dos morros do Rio de Janeiro, descer para ir à praia de Copacabana, não inventem que ele está fazendo arrastão, não inventem que ele é bandido. Ele é um homem que tem direito a tomar banho na praia de Copacabana e em qualquer praia. Não pode ficar segregado no Piscinão, vai ter que ser tratado com decência porque este País é de todos, nós governamos para todos. Agora, entre todos, nós temos que dar preferência para a parte mais pobre da população deste País, secularmente esquecida.
Por isso, meus companheiros e companheiras do Complexo do Alemão, quando eu vi o Reginaldo fazer o discurso aqui, e ontem à noite, quando eu cheguei às 10h no hotel Glória, para vir para cá, eu fiquei emocionado. Fiquei emocionado porque nós estamos fazendo isso em todas as capitais do Brasil. Em todas as capitais do Brasil nós estamos investindo 40 bilhões de reais para cuidar dos pobres, sim. Tem gente que não gosta, tem gente que acha que eu deveria estar fazendo outra coisa.
Quando nós criamos o ProUni e colocamos pobres da periferia na universidade, diziam: “O Lula está nivelando a educação por baixo”. Ou seja, os pobres vão baixar o nível das universidades. O que aconteceu, dois anos depois? Na pesquisa feita pelo MEC, em 14 áreas, os melhores alunos eram os pobres da periferia que estavam no ProUni.
Agora, Reginaldo, estamos criando o Reuni. O Reuni é uma outra revolução. As universidades federais vão aumentar de 12 alunos, em média, por professor, para 18 alunos por professor. Isso significa que nós vamos colocar, até 2010, além dos 400 mil alunos do ProUni, mais 400 mil alunos nas escolas federais deste País. Além disso, Sérgio, você que me acompanha bem sabe, nós vamos inaugurar, até 2010, 214 escolas profissionalizantes no País, vamos inaugurar 10 universidades federais novas neste País, para que os governos que vierem depois de nós saibam que não tem retrocesso.
Nós respeitamos os outros países, respeitamos os Estados Unidos, respeitamos a Europa, respeitamos todo mundo, respeitamos os ricos, mas a nossa prioridade – e é importante ficar claro – é cuidar dos pobres deste País, para que eles possam conquistar a cidadania. É por isso que tem gente que critica o Bolsa Família, nós vamos continuar fazendo o Bolsa Família. Tem gente que critica o microcrédito, nós vamos continuar fazendo o microcrédito. Tem gente que critica o crédito consignado, nós vamos continuar fortalecendo o crédito consignado.
Antigamente um carro, para ser vendido, era em 24 meses. Só um pequeno setor da sociedade podia comprar. Agora, está em 72 meses, 82 meses, para o pobre também ter acesso ao direito de ter um carro. Por que pobre só tem que andar de ônibus? Agora, talvez vocês nem queiram mais ter carro, porque depois do teleférico, nem vão querer mais carro. Mas eu digo sempre o seguinte: tudo o que uma mulher quer, o que é? Ela quer uma casinha para morar, ela quer estudar, quer ter um namorado ou um marido bonito e um carro. Tudo o que o homem quer é trabalhar, ter uma casinha, poder estudar, ter uma mulher bonita e ter um carro. Agora, imaginem se vocês podem ter tudo isso e, além disso, ter um teleférico, ter aqui na comunidade biblioteca, correios. Se além disso vocês puderem perceber que vai mudar a vida de vocês, porque muitos jovens que estão sem esperança hoje vão voltar a ter esperança. Vai ter escola para cuidar deles, vai ter assistente social para cuidar deles. Nós temos que acreditar que tanto o ser humano, como qualquer outro animal vivo do Planeta, a única chance que nós temos de não permitir que eles se tornem violentos, é tratá-los com muito carinho e com muito respeito, e ao mesmo tempo, dar esperança de futuro para essa gente.
Por isso, meus companheiros todos das comunidades aqui do Complexo do Alemão, meu querido companheiro Sérgio Cabral, meus ministros e secretários do Sérgio Cabral, companheiros, companheiras e mulheres que estão aqui desde às 8h30 da manhã, tomando um sol desgraçado na testa, não deram água ainda para vocês. Eu tenho Manguinhos e Rocinha ainda hoje. Eu quero, do fundo do coração, agradecer a vocês, agradecer a paciência por terem esperado tanto tempo para que a gente pudesse ouvir vocês e fazer aquilo que vocês há muito tempo reivindicam. Se depois de tudo isso, a gente diminuir as manchetes negativas no Rio de Janeiro… Tem coisa ruim? Nós sabemos que tem. Mas não é porque você encontra um grão de feijão estragado, que você vai jogar o prato de comida fora, não é. Não é porque fritou um bife e queimou a beirada dele, que a gente vai jogar o bife fora. Aqueles que, efetivamente, não prestam para viver com a gente, a gente faz como faz com a laranja podre, vai tirando do pé, mas vai fortalecendo e adubando as outras que estão boas. Eu quero que a imprensa brasileira e a imprensa do Rio de Janeiro um dia publiquem uma manchete: “ainda há esperança de o Rio de Janeiro voltar a ser, de fato e de direito, a cidade maravilhosa, com muita paz que todos nós almejamos”.
Muito obrigado e parabéns a todos vocês, e parabéns ao Governador, que sabe ser companheiro e sabe trabalhar em parceria. Um abraço.