Cansei de Ser Sexy: contra música para agradar a intelectual
A fórmula tosca deu certo, mas vai sair de cena. Formado por um marmanjo e seis garotas só para tocar em festinhas de São Paulo, o Cansei de Ser Sexy se tornou o CSS, um fenômeno indie mundial. O despojamento do CD de estréia (2005) foi o que catapulto
Publicado 22/07/2008 20:13
“Metade do CD de estréia foi gravada no computador. Mas não somos electro. Ao vivo, sempre fomos roqueiros, quisemos levar isso a este álbum”, conta Luiza Sá, uma das guitarristas do grupo. “Éramos despretensiosos. Só que fizemos mais de 200 shows pelo mundo. Crescemos como banda e estamos mais comprometidos.”
Eles próprios se assumiam como músicos limitados. Mas a imprensa gringa se encantou com a atitude e o som debochados e com a extravagância da vocalista e showgirl Lovefoxxx. Depois de uma bem recebida turnê nos Estados Unidos (2006), eles se mandaram para Londres, onde caíram nas graças do público – e onde moram desde então. Já no Brasil, teve gente torcendo o bico, questionando o sucesso de uma banda que não sabia tocar.
“Criamos a banda dizendo ‘não sabemos tocar, não enche!’. Parece que música no Brasil tem que ser virtuosa para agradar a intelectual. Mas discos incríveis foram feitos com três acordes. É só ouvir os primeiros do Johnny Cash”, compara a guitarrista.
Parte da crítica no país também pegava no pé deles, dizendo que o grupo queria parecer gringo. As razões? As letras são em inglês, e o grupo não cita o Brasil em shows ou entrevistas. Além disso, Lovefoxxx, Luiza, Adriano Cintra, Carol Parra, Ira e Ana Rezende (Clara Ribeiro saiu antes do primeiro CD) raras vezes voltaram ao país para shows.
“Amo ser brasileira, mas não levantamos bandeira, do Brasil ou qualquer outra”, diz Luiza. “E show no Brasil é complicado. Quando a banda é gringa, fica no pedestal. Quando não, é ‘vem aí tocar…’. As pessoas trabalham por menos no país.”
Picuinhas caseiras à parte, eles seguiram em ascensão. Chegaram a Londres tocando para 500 pessoas, mas fizeram show para mais de 12 mil em 2007. E aí foi como os casos de filmes nacionais premiados lá fora antes do reconhecimento aqui. Na sua única volta a São Paulo, ano passado, o CSS fez milhares de pessoas pularem num festival, em novembro.
Mas rolaram solavancos. Ano passado, a banda demitiu um empresário por razões financeiras, e o caso foi à Justiça. Há quatro meses, antes das gravações de Donkey, a baixista Ira pediu baixa (queria trabalhar com moda). Só que nada tirou o gás do grupo. “Fizemos o disco da forma mais autêntica possível, para mostrar quem somos hoje”, diz Luiza Sá.
O CSS deste álbum está diferente, mas não irreconhecível. A atmosfera eletrônica deu lugar ao dance-rock, e as (muitas) arestas foram aparadas. Mas eles não cansaram de ser sexies. A ótima Left behind é prova disso, assim como Rat is dead (rage) e Move. Entre as 11 faixas, Believe achieve é a mais caidinha.