Polêmica: ''espero que não me apaguem da Ubes'', diz Juca

Em entrevista exclusiva ao Vermelho, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, respondeu aos ex-militantes do movimento secundarista que contestam sua eleição para a presidência da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) em 19

O polêmico congresso da Ubes de 1968 tem duas versões a respeito da eleição para a presidência da entidade. Bernardo Joffily, editor do Vermelho e eleito vice-presidente da entidade no mesmo congresso, escreveu um testemunho sobre o fato histórico que não busca responder a versão de Juca, mas que afirma ter sido Marcos Antônio Melo o presidente eleito no período.


 


O Vermelho publica abaixo a íntegra da resposta de Juca Ferreira à controvérsia e, em seguida, o link para o testemunho de Bernardo Joffily.


      
 
Vermelho: Ex-lideranças do movimento estudantil secundarista contestam a sua eleição para presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) em 1968, em Salvador (BA), alegando que o presidente eleito no período foi Marcos Antônio Mello…


 


Juca Ferreira: Não, não foi. Isso é uma ferida que eu não queria reabrir, mas é o seguinte: eu representava as organizações que estavam rompendo com os partidos de esquerda tradicionais e era a grande movimentação, não só no movimento secundarista, como no movimento universitário e em toda a esquerda, e que mais tarde veio a dar as organizações que fizeram o confronto direto com o regime militar e que geraram cerca de trinta organizações. Nessa época, todas eram descontentes ou dissidentes das organizações tradicionais: Ala Vermelha, PCBR, PCR, Colina, VAL-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), MR8, enfim, era uma infinidade, quase que cada indivíduo era uma organização. Nós dominamos completamente o evento, só que eram dois partidos tradicionais os que dominavam a organização do congresso: o PCdoB e a AP (Ação Popular). Então quando saiu, na parte da tarde, pela rádio, a leitura do Ato Institucional Número 5 (AI-5), faltavam três delegados, um de Brasília, outro de São Paulo e um de outro estado que eu não me recordo, todos os três me apoiavam. Eles (AP-PCdoB) tiveram a intenção de acabar a reunião antes de finalizar a eleição, mas faltavam três e iam encerrar a reunião sem sufragar a minha eleição, que é uma coisa evidente, parte da História. Independente se a nossa linha era correta ou não no momento, ela parte da História e os partidos tradicionais tinham dificuldade de admitir que estava havendo uma certa erupção do mundo da esquerda na América Latina e, particularmente, no movimento secundarista do Brasil. Foi o que ficou: aquela confusão. A assembléia foi em Salvador, na Bahia, eu estava no meu ambiente e fui celebrado presidente, não há contestação disso. Inclusive, eu posso lhe dar nomes de pessoas que participaram desse congresso e que eram da AP, ou do PCdoB na época, e que confirmam esse fato. Eu não gosto de levantar isso porque é secundário, foi uma tentativa de golpe, aconteceu, e se alguém está levantando a tentativa do golpe, é uma tentativa de retomar velhas perebas do movimento secundarista respaldando, inclusive, um gesto antidemocrático de não admitir a perda do controle da instituição. A instituição não pode ser biombo de partido nenhum. Se nós nos afirmamos na base e fomos lá para dentro e conseguimos ser maioria isso tem que ser reconhecido, principalmente depois que passou a conjuntura. Eu topo conversar sobre isso, chamo pessoas que já me disseram: “eu participei da tentativa de golpe”, mas eu não gosto de discutir isso porque diminui a grandeza que do movimento secundarista, isso é uma questão secundária, está tão longe. Agora, eu fui eleito no congresso nacional e é má fé contestar isso. Nós fizemos aliança com os anarquistas, que dominavam uma parte do movimento secundarista de Brasília. Nós éramos a novidade naquele momento, éramos o discurso que galvanizava uma expectativa, ou uma impaciência juvenil, diante da ditadura militar que já estava há meses reprimindo violentamente o movimento secundarista. Isso refletia no fortalecimento de uma visão política que os partidos tradicionais, até por terem mais tempo de serviço, não apoiavam. Contestar esse fato histórico – independente do erro ou acerto de cada posição – parece um pouco aquela coisa que aconteceu na China. Quando a viúva do Mao Tse-tung (Jiang Qing) caiu em desgraça, levaram as fotografias da Grande Marcha para o laboratório e apagaram a presença dela e aí ficou um burrinho sem ninguém em cima, sem carga, e na verdade era o burrinho que vinha logo atrás do Ma Mao Tse-tung com ela, e ela era uma mulher muito influente, tanto do ponto de vista político, como militar, na Grande Marcha. Eu não estou montado em nenhum burrinho, mas eu espero que não venham com a mesma estratégia de apagar a minha presença porque foi uma dedicação muito intensa e muito generosa da minha parte. Eu me joguei de cabeça e acabei marcando toda a minha história de vida em função da participação que tive nesse momento.


 


Leia o testemunho de Bernardo Joffily aqui.