A luta de Jô pelo segundo turno em BH
A democracia precisa do segundo turno em Belo Horizonte. O governador Aécio Neves (PSDB) e o prefeito Fernando Pimentel (PT) selaram um pacto que só serve à ambição política de ambos. Essa dupla – com base na força do dinheiro, na brutal desigualdade d
Publicado 08/09/2008 15:13
Aécio, Pimentel e a campanha laranja ostentam força, esbanjam recursos e, em desprezo ao eleitorado, já proclamaram a vitória. Essa arrogância palaciana, todavia, pode ter um efeito contrário. Esse esbanjamento de poderio lembra o poder demolidor da Coroa. E isso mexe com os brios democráticos dos mineiros. Talvez Aécio tenha se esquecido de que governa um Estado em cuja bandeira está gravado o compromisso com a liberdade. Sem senso de perigo e cego na força de seus plenos poderes, faz da eleição de BH uma espécie de “vale-tudo”.
Pimentel aparece no vídeo com um terno de fino corte e o rosto impecavelmente barbeado. Mas, tal aparência escorreita não consegue ocultar a nódoa da traição. Ele representa, para o verdadeiro PT e para a consciência democrática da cidade, o mesmo que Joaquim Silvério dos Reis significa para a história de Minas e do Brasil. Ademais, quem leu João Guimarães Rosa sabe da repugnância que a cultura mineira reserva aos que bandeiam de lado, aos que traem seus companheiros. Em Belo Horizonte, as administrações de Patrus Ananias e Célio de Castro, abriram um ciclo de desenvolvimento e justiça social. Esse ciclo ajudou a eleger Lula em 2002. Pimentel, em troca da promessa de Aécio de elegê-lo governador de Minas em 2010, busca entregar a prefeitura de BH de mão beijada para os tucanos.
A consciência democrática da cidade se sente ultrajada e reage. Resiste. A campanha de Jô Moraes é a expressão dessa resistência. Em torno dessa mulher guerreira, duas vezes vereadora de BH, deputada estadual, hoje deputada federal, líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, formou-se um campo político progressista. Esse campo tem como legenda coligada o PRB, do vice-presidente da República, José Alencar, tem o apoio do autêntico PT de Minas Gerais, tem a simpatia dos ministros Patrus Ananias e Luis Dulci, de setores do PMDB, do PTB, entre outros. E a família do ex-prefeito Célio de Castro montou um comitê de apoio a Jô.
Artistas, intelectuais, lideranças empresariais e de vários setores da sociedade mineira também apóiam Jô – embora constrangidos, pois se vêem impedidos de divulgar seus nomes por receio de perseguições e represálias.
O Brasil precisa saber disso. A unanimidade tão falada em torno de Aécio em Minas é uma unanimidade forjada e forçada. Mais uma vez se comprova que o compromisso com a democracia não decorre de linhagem hereditária. O governador no afã de conquistar a qualquer preço a prefeitura de BH vai revelando sua verdadeira face. “Moderno” na aparência e conservador, caudilho na essência. Quem dera ao menos tivesse a ética sertaneja de Joca Ramiro.
A campanha de Jô, os demais candidatos que resistem, todos os setores democráticos de Minas Gerais têm um desafio comum: levar a disputa para o segundo turno em BH. O segundo turno permitirá mais debate, mais reflexão, diminuirá a enorme desigualdade de condições reinantes no primeiro turno. Não cabe omissão. A bem da democracia é preciso derrotar a arrogância de Aécio e Pimentel que, antecipadamente, se vangloriam de serem capazes de eleger “um poste” para prefeito de BH. Nesse sentido, a candidatura de Jô é uma nova inconfidência. Um levante democrático e popular para que a democracia não seja esquartejada na terra dos Inconfidentes.
* Jornalista e poeta, presidente da Fundação Maurício Grabois.