O Datafolha-Rio olhado de perto, ou o problema de Gabeira
Horas depois que a Folha de S.Paulo chegou às bancas de jornal, nesta quarta-feira (1º), o site do instituto Datafolha pôs no ar as tabelas completas da última pesquisa sobre a eleição. Os cruzamentos, em especial por faixa de renda, mostram q
Publicado 01/10/2008 19:16
Observe o gráfico ao lado, e principalmente a tabela que vem embaixo dele. Este mostra a intenção de voto dos sete candidatos melhor situados na pesquisa estimulada do Datafolha, segmentados por faixa de renda. Infelizmente o Datafolha não separa os eleitores remediados (com renda superior a 10 salários mínimos, ou R$ 4.150 mensais) daqueles realmente ricos, para lá de, digamos, 50 mínimos. Mas os números apresentados já são eloqüentes.
Paes parou de crescer… em 29%!
Note que o candidato Eduardo Paes (PMDB), primeiro colocado nas pesquisas, parou de crescer. Em nenhuma outra capital de estado, exceto Salvador (emboladíssima e completamente indefinida, com chance real de um segundo turno sem nenhum dod dois favoritos de dias atrás) o primeiro colocado está, como ele, abaixo da linha dos 30%. Há portanto um enorme espaço para surpresas.
O espaço é maior na disputa pela segunda vaga em 26 de outubro: Marcelo Crivella (PRB) e Gabeira aparecem em empate técnico, Gabeira e Jandira Feghali (PCdoB) também, já que a margem de erro da sondagem é de três pontos para cima ou para baixo.
Confinamento geográfico e social
Aí, o fato novo na segunda quinzena de setembro foi a ascensão de Gabeira: nove pontos percentuais em três rodadas consecutivas no caso da pesquisa Datafolha, de 8% em 4-5 de setembro para 17% nesta segunda e terça-feira. Porém Gabeira tem um problema eleitoral (para não falar do problema político de quem busca votos à esquerda em coligação com a direita neotucana e com Armínio Fraga como mentor): sua intenção de voto está confinada na faixa de renda mais alta e na Zona Sul.
No caso do Rio de Janeiro os dois confinamentos coincidem em grande parte. Dos institutos de pesquisa que cobrem a eleição no Rio, apenas o IBPS segmenta as intenções de voto por zona da cidade (Oeste, Norte, Sul e Centro). E o IBPS confirma na sua última rodada (coletada dia 18) que o candidato verde-tucano chega a 20,8% das intenções de voto na Zona Sul (13% do eleitorado) mas apenas 6,0% na Zona Oeste (49% do eleitorado) e 8,5% na Norte (33% do eleitorado).
Os números mais recentes do Datafolha mostram o lado econômico-social da mesma realidade que o IBPS capta na sua face geográfica. São números ainda mais impactantes, como mostra a tabela: Gabeira parte de 8%, na faixa mais pobre, para alcançar 31% na mais rica. Nesta última, figura em primeiro lugar, 13 pontos acima de Paes, o segundo colocado.
O “Gabeirão” se aventura nas comunidades?
Para a desdita de Gabeira, porém, a faixa de renda acima de 10 mínimos representa apenas 12,1% do eleitorado carioca, segundo o eleitorado do Datafolha. E o candidato do PV-PSDB tem tido tanta dificuldade para ganhar o voto dos pobres como facilidade de ganhar o dos ricos.
Essa característica aparece quando se compara a série histórica das pesquisas do Datafolha. Nas suas duas semanas de ascensão, Gabeira conquistou apenas três pontos na camada que ganha até dois mínimos, contra oito pontos na de dois a cinco, 13 pontos na de cinco e dez e fantásticos 18 pontos – um verdadeiro fenômeno – na que tem renda acima de dez mínimos.
Nestes derradeiros dias de campanha o candidato verde-tucano passou a se concentrar justamente nessa massa pobre e trabalhadora – das comunidades, como se diz no Rio. Até estreou um novo jipe de campanha, o “Gabeirão”, para se aventurar nas quebradas da Zona Oeste.
O problema é que o eleitorado dessas camadas além de não votar em Gabeira também o rejeita. Na faixa até dois mínimos ele é o primeiro em rejeição, 28%, ultrapassando os 24% de Crivella no mesmo eleitorado (enquanto na de mais de dez mínimos sua rejeição despenca para 11% e a de Crivella dispara para 66%).
Fora Paes, só Jandira tem 1 dígitos em todas
Das outras candidaturas, Paes tem uma distribuição bastante uniforme – oscila entre 25% e 32%. Crivella é o oposto de Gabeira: chega a empatar com Paes entre os mais pobres (27% a 28%) e cai para 4% na faixa mais rica. Jandira Feghali é, afora Paes, e única candidata do Rio a realizar a proeza de aparecer com dois dígitos em todas as faixas usadas pelo Datafolha.
No comando da campanha da candidata comunista, a diretiva é que “agora é que os indecisos estão se definindo [neste Datafolha eles ainda são 30%], a campanha está crescendo na rua, Jandira tem um recall notável e a eleição está longe de estar decidida”.
No Blog do Zé Dirceu o ex-ministro e influente petista dava conselhos à candidata do PCdoB nesta quarta-feira (1º). “Onde Jandira pode e deve crescer é no eleitorado popular. Para lá ela deve dirigir seu discurso e seu programa de campanha final, o trabalho de rua e de visitas. É só ler as pesquisas e constatar o óbvio.”
Clique aqui para ver o relatório em pdf com os cruzamentos do datafolha