O principal desafio da crise é o crédito, diz Lula em NY
O presidente Luiz Inacio Lula da Silva disse em Nova York que o principal desafio enfrentado pela economia mundial é manter o acesso ao crédito, apesar da crise. ''Temos um problema no mundo chamado acesso ao crédito'', disse Lula durante um encontro o
Publicado 16/03/2009 21:24
Lula informou que o assunto será uma das questões cruciais a serem tratadas na reunião do G-20 prevista para Londres no próximo 2 de abril. Segundo o presidente, a “classe média” é a principal vítima da crise. ''São os que mais se beneficiaram com o boom, melhoraram seu nível de vida e ganharam direitos em geral, mas são os mais expostos a perder o conquistado'', afirmou. O presidente brasileiro também disse, no seminário para investidores ''Brazil Global Partner in a New Economy'', que o Brasil vai crescer este ano, embora com taxas reduzidas.
O crescimento será menor do que o previsto, disse o presidente. “Nós vamos crescer menos do que gostaríamos em 2009, menos do que poderíamos crescer se não houvesse crise externa. Mas nós cresceremos”, afirmou. Ele estava acompanhado dos ministros Guido Mantega (Fazenda), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Celso Amorim (Relações Exteriores). E afirmou também que o governo vai manter o estímulo ''responsável'' do consumo doméstico, enquanto realiza os investimentos necessários mesmo com a queda das receitas.
Desgraças do setor bancário
Segundo o presidente, não haverá corte nos investimentos sociais e em infraestrutura em hipótese alguma. “Eu não vou cortar um centavo dos gastos sociais, nem dos investimentos em infraestrutura”, disse, acrescentando que tais medidas vão assegurar uma recuperação rápida da produção industrial e a manutenção dos atuais níveis de emprego. Após o seminário, o presidente disse que os Estados Unidos devem superar o preconceito sobre a nacionalização de instituições financeiras e procurar agir rapidamente para restaurar o fluxo de crédito do consumo e das empresas. Lula afirmou que nos Estados Unidos a palavra nacionalização é tabu. “Mesmo que esta palavra seja proibida aqui, é necessário restaurar o crédito para sustentar o comércio”, enfatizou.
Em entrevista ao jornal Wall Street Journal, o presidente afirmou também que os governos do G-20, que reúne as 20 maiores economias do mundo, estão estudando formas de reforçar o Fundo Monetário Internacional (FMI) para que a instituição multilateral possa ajudar os países diretamente. Durante o fim de semana, autoridades econômicas dos governo do G-20.
Lula referiu-se às desgraças do setor bancário nos Estados Unidos e em outras nações desenvolvidas e disse que o encontro do G-20 deve chegar a uma solução para o problema. O presidente afirmou que a falta de ação poderá resultar no mesmo que aconteceu com o Japão na década de 1990, quando o país levou um longo período para resolver os problemas em seu sistema bancário, perpetuando uma crise econômica à qual se seguiu o estouro da bolha no mercado imobiliário.
No sábado, Lula se encontrou com o presidente americano, Barack Obama, na Casa Branca. Após a reunião, os dois anunciaram a criação de um grupo de trabalho bilateral que vai apresentar propostas comuns sobre como restabelecer o crédito internacional, aumentar a confiança no sistema financeiro e recuperar as economias afetadas pela pior crise econômica vivida pelo Planeta desde a década de 30. As sugestões serão apresentadas na reunião de chefes de Estado e governo do G-20.
Medidas ofensivas
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, também no seminário sobre as estratégias brasileiras para enfrentar a crise financeira internacional e destacaram as condições econômicas que, segundo eles, permitirão ao Brasil manter o crescimento em 2009 apesar da recessão global. Mantega também afirmou que o Brasil terá saldo positivo na criação de empregos neste ano. “O Brasil espera ter saldo positivo na geração de empregos em 2009. Claro que não criaremos um milhão e meio de empregos como em outros anos, mas abriremos vagas”, disse ele.
O ministro comemorou a possibilidade de tomar medidas ofensivas num momento em que, em outras crises, a prática era se defender. “Em outros momentos de crise, precisávamos subir juros para conter a saída de capitais, o que aumentava a dívida e baixava investimento e emprego. Hoje, não precisamos fazer isso. Estamos em condições de tomar medidas anticíclicas: baixar juros, aumentar crédito e baixar tributos e subir investimentos públicos”, disse.
Segundo Mantega, o panorama da economia mundial está piorando. “Até agora não houve solução para crise'', afirmou. Ele disse ainda que o Brasil tem ferramentas para abrandar os efeitos da crise internacional no país, acionando o que classificou como círculos de proteção da economia. ''Ainda temos bala na agulha, ainda não esgotamos as políticas'', afirmou. Ele reiterou a avaliação de que o Brasil foi um dos últimos a ser afetado pela crise e disse que acredita que ''será um dos primeiros a sair dela''.
Saldo positivo de empregos
Entre as ''munições'' descritas pelo ministro, ele citou que o país tem R$ 160 bilhões em depósitos compulsórios. Mantega disse que o Brasil nas décadas anteriores tinha comitê de credores. “Agora talvez precise de comitê de devedores do Brasil, pois hoje somos credores. Não sei se Bill Rhodes se habilita a tomar este papel'', alfinetou o ministro, olhando para o executivo, que é presidente do Citibank.
Sobre a crise mundial, Mantega reiterou que é preciso enfrentar rapidamente o problema da fragilidade de bancos, principalmente, nos Estados Unidos. ''Enquanto esta questão não se resolve, a economia real vai se deteriorando. Cada vez que o FMI faz uma previsão fica pior que a anterior. Na penúltima previsão ainda esperávamos crescimento positivo para 2009 (da economia mundial). Agora na ultima já estamos abaixo de zero'', acrescentou. O ministro ponderou que o Brasil é um dos países que reúnem as condições mais favoráveis para enfrentar a crise. ''Isto não quer dizer que não vá sofrer as consequências desta crise, mas vai sofrer de forma menos intensa'', afirmou.
Ele acrescentou que as medidas do governo têm suavizado os efeitos da crise. O ministro disse que, enquanto a maioria dos países está esperando uma grande diminuição do emprego, haverá um saldo positivo de empregos em 2009 no Brasil. Ele exemplificou que, em 2008, a diferença entre admissões e demissões ficou em 70%, ou seja, ''70% a mais de admissões do que de demissões'', disse. “Em 2009, esperamos 20% a mais de admissões do que demissões”, destacou.
Renda doméstica
Já o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, destacou a “solidez” das contas brasileiras, em especial o volume de reservas internacionais. Meirelles informou que desde o início da crise econômica internacional o Banco Central (BC) vendeu cerca de U$ 14, 5 bilhões de reservas no mercado a vista. Mesmo assim, continua com as reservas internacionais em U$ 199,9 bilhões, de acordo com a posição do último dia 12. Segundo ele, nas demais operações com compromissos de recompra foram injetados U$ 26 bilhões das reservas de setembro para cá. Para aumentar a liquidez em moeda estrangeira foram emprestados recursos aos bancos para repasse às empresas.
O país também tomou medidas para financiar empresas que tinham dívidas no exterior e sofriam com falta de crédito, que, segundo ele, recupera-se gradualmente. Meirelles informou que média mensal de financiamento de exportações tem volume similar ao ano anterior (excluída a sazonalidade). Ele disse que o Brasil entrou melhor que outros países no ápice da crise por causa da boa quantidade de reservas e fortalecimento prévio do mercado interno (41 milhões de pessoas entrando no mercado de consumo).
Para a plateia, que incluía o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, além de Mantega, Meirelles acrescentou que o ''Brasil não precisa criar demanda doméstica para substituir demanda externa'', agora com a crise. ''Este é o primeiro ponto de diferenciação do Brasil (em relação a outros países)'', acrescentou. O presidente do BC ponderou que ''o mais importante'' é que o crescimento da demanda doméstica é ''impulsionado pela renda doméstica, e isso é o fator que deve ser levado em conta quando a demanda internacional está caindo'', afirmou.
Com agências