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Crise amadurece contradições do sistema, diz secretário do PCdoB

Prestes a embarcar para mais um evento do movimento antiimperialista – a reunião do Grupo de Trabalho do Fórum de São Paulo, marcada para dia 18 na Cidade do México – José Reinaldo Carvalho falou ao Vermelho. Na entrevista, o secretário de Relações Intern

A relevância internacional do 12º Congresso


 


“O Congresso do PCdoB, além de seu significado nacional, é um grande evento político também na esfera internacional pela importância que tem o nosso país e pela magnitude  dos processos em curso na América Latina. Além disso, o PCdoB tem papel relevante no quadro do movimento comunista. O partido mantém relação com mais de duas centenas de organizações políticas de todos os continentes, organizou há poucos meses o 10º Encontro de Partidos Comunistas e Operários e desenvolve intensa atividade internacionalista tanto no âmbito do movimento comunista como no movimento antiimperialista. O PCdoB tem posições claras sobre os acontecimentos internacionais, uma identidade classista e comunista bem marcada e uma posição nítida no que diz respeito à luta pelo socialismo, da mesma forma que condena todas as políticas de guerra do imperialismo e todas as que visam manter a hegemonia estadunidense e das potências do mundo. Portanto, o 12º Congresso é uma oportunidade para reafirmar e atualizar essas posições e certamente terá impacto no seio do movimento revolucionário e comunista internacional”.


 


Atividade internacionalista


 


“O ano mal começou e a atividade internacional do PCdoB tem sido bastante intensa. Participamos dos congressos dos partidos comunistas da Turquia, da Grécia, do Líbano e do Congresso do Pólo Democrático Alternativo da Colômbia. Também estivemos presentes em reuniões multilaterais, como a do Grupo de Trabalho do Encontro dos Partidos Comunistas e Operários e da New European Left Forum (NELF), sediado em Roma e patrocinado pelo Partido dos Comunistas Italianos (PDCI). Foi extraordinário porque tivemos a oportunidade de conhecer a opinião dos partidos comunistas e progressistas europeus sobre as alternativas à crise, a reestruturação das forças de esquerda naquele continente, a cooperação entre as forças internacionais etc. Esses encontros nos acrescentaram muitos elementos que servirão para a interpretação e a análise da realidade. O intercâmbio de experiências e de ideias e a cooperação multilateral entre comunistas, progressistas e socialistas são fatores muito úteis para nós, latinoamericanos, uma vez que vivemos aqui um processo de transformação nesse sentido”.


 


Opiniões fantasiosas sobre a crise


 


“O 12º Congresso do PCdoB também será impactante porque analisará com mais profundidade a crise do capitalismo e tomará posição sobre ela. A opinião que o Comitê Central tem emitido é de que a crise não é meramente financeira – como muitos erradamente afirmam –, mas do capitalismo; portanto, não é episódica e abala todos os fundamentos do sistema. Hoje, entre os partidos comunistas, há uma convergência crítica sobre a crise, especialmente com relação às opiniões fantasiosas presentes em algumas academias, na mídia burguesa, em governos reformistas, entre os círculos conservadores e mesmo em correntes políticas de esquerda que, em geral, pautam sua atuação pelo que classicamente o leninismo chama de oportunismo. Tais interpretações fantasiosas consistem em atribuir a causa da crise apenas aos fenômenos da esfera financeira, como se houvesse um desligamento entre o que se passa nessa esfera e o que se passa na economia real. Posições estrambóticas como essas são muitas vezes envernizadas com uma aparência de marxismo. Mas, não resta dúvida – e essa é a posição da esquerda internacional consequente – de que essas opiniões são expressões do marxismo vulgar. E são oportunistas porque conduzem a soluções reformistas e parciais e, portanto, são soluções falsas. A formulação dos partidos comunistas e revolucionários é de que a crise faz amadurecer as contradições insanáveis do sistema e, por isso, não há alternativa para a crise dentro do capitalismo. A saída é o socialismo”.


 


Plataforma de resistência


 


“Ao reafirmar a alternativa socialista, os partidos comunistas e de esquerda elaboram plataformas em dois níveis. Primeiramente o de resistência. A primeira coisa que os capitalistas fazem numa crise é atacar os direitos dos trabalhadores; por isso, nosso papel é defender os trabalhadores de maneira que eles não paguem pela crise. Neste sentido, também é preciso defender os países dependentes, que lutam pela sua autonomia no cenário internacional e sobre os quais o sistema capitalista atira as conseqüências da crise. Ligado a isso, não devemos aceitar as soluções protecionistas que os países imperialistas estão nos impondo e refutamos a ideia de entendimento entre as classes. Não é possível haver colaboração entre uma burguesia decadente que está atacando os direitos dos trabalhadores e os trabalhadores, que defendem seus direitos e procuram se salvar dessa situação. Outro ponto dessa mesma plataforma é questão do uso do dinheiro público na crise. Criou-se uma onda neo-keynesiana que consiste em jogar dinheiro público para salvar os bancos e empresas monopolistas. Tais medidas não têm surtido os efeitos propalados. De setembro de 2008 para cá, quantos pacotes de salvamento já houve? O dinheiro público tem de ser usado para manter as conquistas sociais e incrementar o desenvolvimento, respondendo aos interesses da maioria da sociedade e não aos de um punhado de gente que só quer saquear o Estado nacional”.


 


Plataforma de organização da luta política


 


“Há uma outra esfera que trata de como organizar a luta política pelo socialismo, uma luta de médio e longo prazo que não tem um caráter conjuntural. O partido vai procurar equacionar essa questão durante o congresso, quando aprovará um novo programa socialista que trate do que é a luta pelo socialismo no Brasil nas condições atuais depois de duas décadas da derrocada nos países do Leste europeu, numa situação de avanços da luta democrática, popular e revolucionária na América Latina e num momento em que o país vem se democratizando, desde o início do governo Lula. Esta luta passa pela defesa do aprofundamento da democracia, pela defesa da soberania nacional, das conquistas sociais e do progresso social”.


 


Lições da experiência socialista


 


“Dentre as principais lições extraídas pelo PCdoB da experiência socialista, destaco primeiramente o fato de não haver um modelo único de socialismo. O partido defende o conjunto da experiência que construiu o socialismo no século 20 e o legado da revolução russa e de todas as revoluções democráticas e populares do século 20. Consideramos que rejeitar esse legado é uma forma de liquidacionismo. Mas, ao mesmo tempo, o partido fez um balanço dessas experiências e constatou que ocorreram muitos erros. Ao lado das vitórias, houve também atitudes falsas, dogmatismos e a tentativa de impor um modelo único, o que causou prejuízos ao movimento revolucionário e à construção do socialismo, resultando na fragilização da corrente revolucionária num momento de enfrentamento do inimigo. Outra conclusão a que chegamos é que as classes trabalhadoras não vão ao socialismo isoladas politicamente. Elas precisam forjar sistemas de alianças democráticas, populares, patrióticas e isso depende das condições de cada país. O partido comunista não pode conduzir essa luta se não for profundamente ligado às massas. Lênin dizia que os partidos devem se fundir com as massas porque enfrentar as classes dominantes – que são reacionárias, poderosas e inimigas do progresso – demanda força política”.


 


Luta concreta pelo socialismo


 


“Outro ensinamento que tiramos é o de que a luta pelo socialismo não se faz apenas pela propaganda e nem é este o aspecto mais importante. A luta pelo socialismo é concreta e só pode ser feita se os partidos interessados em conduzi-la forem capazes de descobrir quais são as grandes questões políticas que mobilizam o povo. Em nosso caso, tais questões são a luta nacional antiimperialista, contra o poder político da classe dominante e a luta pelo progresso social. Hoje, esta luta se desenvolve em melhores condições políticas e nisto encontra-se a peculiaridade da situação brasileira. Temos um Estado dominado pelas forças retrógradas da sociedade, mas temos um governo democrático e patriótico, com o presidente Lula. Isto nos dá melhores condições de abrir caminho para a luta por soberania, por democracia, por justiça social e, portanto, pelo socialismo”.  


 


 


De São Paulo,
Priscila Lobregatte