O povo optou pela mudança em El Salvador
A eleição do candidato da Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN), Mauricio Funes, abre o caminho de um processo de mudanças para o país, com desenvolvimento e equidade. Marca também a ascensão da FMLN, uma força que carrega consigo
Publicado 17/03/2009 16:21
“Estamos iniciando uma nova etapa. Pela primeira vez chegam à presidência e vice-presidência da República os nomeados por um partido de esquerda”, disse Funes em sua primeira mensagem à nação.
O presidente eleito prometeu conduzir El Salvador para a reconciliação, o progresso e a justiça social e favorecer aos setores historicamente excluídos.
Funes, que tomará posse em 1° de junho, tem nas mãos enormes desafios, mas os principais são a redução da pobreza e da violência.
Em 20 anos de políticas neoliberais aplicadas pela Aliança Republicana Nacionalista (ARENA) foram privatizados a eletricidade, o banca e as telecomunicações e a pobreza acentuou, que hoje atinge quase 40 por cento da população.
O país também sofre as consequências do abandono da moeda nacional, o Colón, que foi substituído pelo dólar, o que causou um encarecimento generalizado do custo da vida.
Esta nação, de mal 6 milhões e 800 mil habitantes, é uma das mais violentas do mundo com uma taxa de 12 mortos diários.
A delinquência e a miséria a tornam em uma expulsora nítida de migrantes, quase 3 milhões de salvadorenhos residem no exterior, em sua maioria nos Estados Unidos.
Esta situação motivou à cidadania a votar pela mudança, apesar da campanha propagandista de medo e terror desenvolvida pelo ARENA com o apoio, inclusive, dos recursos do Estado.
De acordo com os resultados do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), Funes conseguiu o triunfo com 51,26 por cento dos votos, contra 48,74 obtido de seu rival, Rodrigo Ávila.
“Apoiamos o candidato do FMLN porque consideramos que é quem recolhe a expressão do povo”, declarou a esta agência Marco Antonio Cativo, do “Movimento de amigos de Mauricio” em Ilopango.
Enquanto, o veterano lutador Roberto Cañas, assinante dos acordos de paz, considerou que, com a vitória da Frente, se abre o caminho da justiça social e da dignidade.
Dentro do programa de governo do FMLN prevê-se gerar empregos, reduzir o custo da vida e melhorar a saúde e a educação, bem como implementar planos de curto, médio e longo prazos para erradicar as causas da violência.
Também se contempla o fortalecimento da institucionalidade do Estado, a luta contra a corrupção, o desenvolvimento rural, a criação de uma rede de segurança alimentar para proteger a grupos vulneráveis e uma economia comprometida com o bem-estar social.
Figuram, ainda, medidas para enfrentar as consequências das atuais turbulências globais, as quais terão um grande impacto aqui pela dependência dos Estados Unidos devido à dolarização, o Tratado de Livre Comércio e as remessas.
O plano para um novo El Salvador tem como principais objetivos tirar o país da crise, pegar o caminho do desenvolvimento e construir e consolidar a democracia e o Estado de direito.
FMLN: uma luta de mais de 70 anos
Durante quarenta anos (1930 – 1970) o Partido Comunista de El Salvador (PCS) foi a única organização de esquerda que lutou pelos ideais de democracia, justiça social e autodeterminação nacional. A luta por esses ideais ganhou um grande impulso nos anos setenta com o nascimento das Forças Populares de Libertação “Farabundo Martí” (FPL).
Em 10 de Outubro de 1980 foi criado a FMLN, e assim começou o desenvolvimento da Guerra Popular Revolucionária.Segundo os analistas, o processo de unidade deveu-se ao ascenso das organizações de massa na cidade e no campo e como uma resposta ao aprofundamento da guerra e às intervenções estadunidense no país.
A luta armada dividiu o país, mas a FMLN não conseguiu seu objetivo de tomada do poder. Depois do longo processo de guerra revolucionária, a tarefa de forjar um novo partido não foi fácil, teve-se que superar o muro do terror levantado por mais de sessenta anos de repressão, as atitudes dos políticos de direita que queriam impedir a legalização da FMLN como partido político e as dificuldades da organização do partido em nível nacional.
O trabalho foi enorme, o processo orgânico multiplicou por várias vezes a quantidade de seus membros e em poucos meses a FMLN se converteu no segundo partido político mais importante do país.
Após superados os obstáculos políticos, em 1 de setembro de 1992, foi assinada a escritura pública de fundação legal da FMLN, mas só no 14 de dezembro desse ano, um dia antes de finalizado formalmente o fim do enfrentamento armado, o Tribunal Supremo Eleitoral admitiu seu registro legal e outorgou à FMLN a pessoa jurídica.
Assim ficavam para trás mais de sessenta anos de luta clandestina dos revolucionários e começava uma nova etapa histórica de lutas no marco da legalidade e da nova institucionalidade gerada pelo Acordo de Chapultepec.
Rapidamente, a FMLN se firmou como a segunda mais importante organização partidária de El Salvador, pleiteando diretamente o poder pela via institucional.
Nas eleições municipais e legislativas, a FMLN ganhou prefeituras e cadeiras no Parlamento, progressivamente, até se constituir, para o eleitorado salvadorenho, em uma alternativa para o país.
Fontes: Prensa Latina e ABN