Castelo de Areia: DEM, PSDB, PPS e mais quatro partidos são citados
A prática de crimes financeiros por executivos do grupo Camargo Corrêa pode ter motivações eleitorais, segundo afirmou o juiz da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, Fausto Martim de Sanctis, no despacho em que solicitou a prisão de quatro diretores
Publicado 26/03/2009 15:09
No documento, de Sanctis afirma que escutas telefônicas realizadas pela Polícia Federal (PF) identificaram conversas em que diretores da Camargo Corrêa tratavam de doações de dinheiro a partidos como PSDB, PPS, PSB, PDT, DEM, PP e PMDB. Em boa parte desses casos, o repasse dos recursos era intermediado por um representante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na capital federal, ainda segundo seu relato.
“Sob tal enfoque, há indícios de que supostos crimes financeiros, em tese, perpetrados por alguns funcionários da empresa Camargo Corrêa, poderiam ter sido motivados para fraudar de algum modo o sistema eleitoral”, diz o documento assinado pelo juiz.
Apesar disso, as prisões realizadas ontem (25) foram motivadas apenas e tão somente pela prática dos crimes financeiros, segundo enfatizou José Alberto Iegas, delegado regional de combate ao crime organizado da PF, responsável pela operação “Castelo de Areia”.
Em nota, a Camargo Corrêa se disse “perplexa” com a ação da PF e garantiu cumprir “rigorosamente com as suas obrigações legais”.
Partidos se defendem
Os partidos políticos citados na Operação Castelo de Areia também negaram envolvimento com ilegalidades. A justiça desconfia que candidatos destes partidos teriam recebido de forma ilegal recursos da Camargo Corrêa.
A distribuição de dinheiro começou a ser descoberta por meio de telefonemas interceptados pela Polícia Federal com autorização da justiça. Nesses telefonemas, diz uma pessoa familiarizada com a investigação, diretores da Camargo Corrêa falavam abertamente com emissários de partidos políticos para tratar dos pagamentos. Os acertos se deram entre julho e outubro do ano passado – o que indica tratar-se de dinheiro utilizado nas campanhas municipais de 2008, segundo o inquérito.
O DEM é um dos partidos que mais receberam doações da construtora. O presidente do partido, Rodrigo Maia (RJ) e o senador José Agripino (DEM-RN) –que recebeu R$ 300 mil da construtora — negaram que os recursos tenham sido recebidos de forma ilegal. De acordo com Maia, há um uso político da operação por parte do governo.
Devido a esse suposto uso político, o presidente da sigla disse que vai pedir à justiça cópia do inquérito da operação Castelo de Areia, que identificou os prováveis crimes da Camargo Corrêa. Ele pretende processar os responsáveis pela operação e divulgação de informações.
Procuradas pelo portal Terra Magazine, as assessorias das presidências do PSDB, com o senador Sérgio Guerra, e do PSB, com o governador Eduardo Campos, responderam que só vão se pronunciar por meio de nota oficial. As assessorias do PP também enviaram notas. Seguem os pronunciamentos:
PSDB: “Em diversas campanhas eleitorais, o PSDB recebeu doações da empresa Camargo Corrêa. Todas dentro do que determina a lei e declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), conforme prestações de contas que estão disponíveis inclusive na Internet. O PSDB desconhece que qualquer empresa ou doador tenha atuado fora dos limites legais e condena tal procedimento”.
PSB: “O Diretório Nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB) informa que a legenda apenas recebe contribuições do Fundo Partidário, dos seus filiados e de empresas brasileiras, em conformidade com os termos da legislação eleitoral.Todas as doações recebidas constam das prestações de contas remetidas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e disponíveis naquele órgão. O PSB Nacional desconhece qualquer doação irregular e condena este tipo de prática”.
PP: “A assessoria do Partido Progressista informa que toda doação de campanha recebida pelo partido está na prestação de contas encaminhada pelo TSE”.
PPS: “A Direção Nacional do PPS – Partido Popular Socialista – esclarece que não recebeu nenhuma doação da Construtora Camargo Corrêa e repudia o uso político da Polícia Federal pelo governo Lula para tentar atingir os partidos de oposição. Reitera, também, que o PPS não utiliza e não aceita nenhuma doação de “recursos não contabilizados”. Todas as doações recebidas pelo PPS somente são aceitas dentro dos parâmetros legais e suas contas são fiscalizadas pela justiça eleitoral brasileira. O PPS exige o total esclarecimento dos fatos e irá responsabilizar criminal e civilmente os autores dessa leviana acusação”.
PMDB: “A Presidenta do PMDB, Deputada Federal Iris de Araújo, declara que a legenda nacional não recebeu doação da empreiteira Camargo Corrêa. A presidente adverte que toda doação recebida é contabilizada de forma legal e transparente. Dessa forma, o PMDB desconhece que qualquer empresa ou doador tenha atuado fora dos limites legais”.
PDT: O secretário-geral Manoel Dias afirma que “o partido não recebeu nenhum tostão, como nunca recebeu, fora do que é doação oficial. Nunca recebemos contribuição fora da lei. O PDT não tem nenhum envolvimento (com crimes investigados pela Polícia Federal na empreiteira Camargo Corrêa). O que consta é que o partido em Sâo Paulo recebeu uma ajuda, mas oficial”.
Uma sigla identificada como “PS” também foi citada nas escutas telefônicas, mas não é identificada como um partido. Pode ser alguma abreviação de nome próprio ou sigla das negociações.
Da redação,
com agências