Crise no movimento indígena e a questão da defesa da Amazônia

“O movimento indígena está quebrado”. Esta é a afirmação do líder indígena da cidade de São Gabriel da Cachoeira, Orlandinho Baré. Em conversa com o Vermelho, ele fez uma avaliação aprofundada sobre a cr

Ativista de longa data da causa indígena, tendo participado das mobilizações deste movimento à época da Constituinte de 1987, Orlandinho afirma que existe um distanciamento entre as organizações representativas do movimento e o povo que está nas aldeias. “As organizações indígenas estão afastadas da base. E isso tem feito com que surjam várias entidades para suprir o que as principais organizações não fazem. Só os Saterês-Maué já organizaram três entidades”, afirma.


 


 


De acordo com ele, a atual gestão da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) dá a sua parcela de contribuição para esse quadro. “A COIAB está vivendo do prestígio internacional que a entidade construiu ao longo de sua história e da pouca sustentação política que vem da região do baixo Amazonas e do Estado do Acre”, ressalta.


 


 


Além desta avaliação crítica de Orlandinho, pesa contra a COIAB seu posicionamento em relação à batalha travada pela demarcação das terras Raposa Serra do Sol, em Roraima. Na ocasião, o comando da Marcha a Roraima, ação de defesa da causa indígena, foi rebater um comunicado divulgado pela COIAB na qual a entidade condenava os protestos e dizia que se tratava de “riscos para a segurança pública”.


 


 


Apoios internacionais


 


Nessa quadra de crise de representatividade e do histórico vazio do Estado no que tange a assistência aos povos indígenas – ainda que esta venha sendo atenuada pelos investimentos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Plano Amazônia Sustentável (PAS) – os maiores auxílios recebidos pelos indígenas são oriundos de recursos internacionais.


 


 


Segundo Orlandinho Baré, São Gabriel da Cachoeira se tornou uma cidade modelo no atendimento as demandas desses povos tradicionais mediante investimentos vindos dos países europeus. Programas como “Aliança pelo Clima” e o Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras Indígenas da Amazônia (PPTAL), ambos de iniciativas européias, propiciaram o desenvolvimento de programas de educação indígena e outros que melhoraram a qualidade de vida do povo daquela região.


 


 


São Gabriel da Cachoeira é a cidade brasileira com a maior quantidade de indígena no seu território. A cada dez habitantes, apenas 1 não é índio.


 


 


Ameaça a soberania


 


Uma das grandes discussões travadas na América Latina em relação a Amazônia é a soberania dos países que são recortados por esse bioma na exploração de seus recursos naturais.


 


 


O testemunho dado pelo indígena da etnia Baré atesta que isso é mais do que uma teoria sobre, e sim um problema grave que já está configurado na região. Mas ele diz que ainda não conseguiu notar uma intervenção estrangeira concreta como conseqüência desses programas.


 


 


O técnico agrícola da mesma etnia, Arustocles Kambeba Baré, diz que a ameaça internacional existe, mas ocorre por meio de outras iniciativas. “As ONG´s que atuam na área de pesquisa é que representam um problema para o país, pois se utilizam das riquezas daqui para gerarem produtos e comercializá-los lá fora sem deixar nada no Brasil”, destaca. “Agora essas que só investem dinheiro, não afetam em nada”, completa.


 


 


Outro dado a ser observado, para além dos recursos, é que eles são provenientes de programas com concepções santuaristas, pois professam a preservação total e absoluta do bioma amazônico e, para isso, direcionam seus investimentos nos povos indígenas. No entanto, a região detém um forte potencial econômico que, uma vez potencializado segundo os critérios da sustentabilidade, podem modificar a configuração social de todos os povos da região amazônica.


 


 
De Manaus,


Anderson Bahia


 


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