Após 20 dias, Folha reconhece que publicou ficha falsa de Dilma
A Folha de S.Paulo demorou nada menos que três semanas para admitir dois erros em sua matéria dominical do útlimo dia 5 de abril sobre a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff e a luta armada travada 40 anos a
Publicado 25/04/2009 21:42
Em seu material o jornal tentou associar a ministra principalmente a um sequestro do ministro da Economia da ditadura, Delfim Netto, supostamente tramado pela VAR-Palmares em que ela atuou e que Dilma já provou nem ter tido conhecimento.
Só hoje, exatos 20 dias depois da dominical a Folha admite ter cometido dois erros no material: o primeiro foi levar para a 1ª página a afirmação de que obtivera no antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS-SP) a ficha criminal que publicava – hoje explica que não foi, recebeu a ficha por e-mail; o segundo foi publicar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, admite, não consegue agora provar.
Mas, a FSP presta seus esclarecimentos ao leitor de forma absolutamente relutante. Fica claro que só dá as explicações porque foi obrigada a fazê-lo, não faz uma única menção sequer na 1ª página aos esclarecimentos que publica internamente, ao contrário do dominical sobre Dilma Rousseff, que escrachou na 1ª do jornal.
Jornal acusa na 1ª, mas esconde admissão de erro
Sua relutãncia é tamanha que embora a ministra Dilma e apurações do próprio jornal tenham provado que a ficha ''fornecida pelo antigo DOPS'' não é autêntica, o jornal diz: a autenticidade ''pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada – bem como não pode ser descartada''.
O jornal, no entanto,é obrigado a reconhecer e a publicar que a ministra quando militante da VAR-Palmares e de outras organizações nos anos 70, não participou de nenhuma ação armada. Esse esclarecimento é prestado mais uma vez pela ministra na carta da qual a FSP publica trechos hoje.
''Apesar da minha negativa durante a entrevista telefônica de 30 de março (…) – diz Dilma em um trecho de sua mensagem – a matéria (de 05.04) tinha como título de capa 'Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim'. O título, que não levou em consideração a minha veemente negativa, tem características de 'factóide', uma vez que o fato, que teria se dado há 40 anos, simplesmente não ocorreu''
Dilma não participou de ações armadas
Em outro trecho a ministra acentua: ''cabe destacar que os assaltos e ações armadas que constam da ficha veiculada (…) foram de responsbilidade de organizações revolucionárias nas quais não militei. Além disso, ocorreram em São Paulo, em datas em que eu morava em Belo Horizonte ou no Rio. (…) todas essas ações foram objeto de processos judiciais nos quais não fui indiciada e, portanto, não sofri qualquer condenação. Repito, sequer fui interrogada, sob tortura ou não, sobre aqueles fatos''.
Quer dizer, meus amigos, embora a FSP tente simplificar o que fez e restrinja-se a reparar dois dos vários erros contidos no material publicado, ainda que o jornal só tivesse cometido essas duas incorreções, já seria um erro e tanto, de imensa gravidade.
Mas foram mais, e tantos e tamanhos, que inviabilizaram, no momento, a campanha que o jornal programava desfechar contra a candidatura Dilma à presidência da República. E continua a questão que não quer calar: quem está por trás dessa campanha? Seriam as mesmas forças de São Paulo que, na surdina, sem jamais assumir as ''armações'' feitas, liquidaram a pré-candidatura Roseana Sarney ao Planalto em 2002.
Espinosa conta onde jornal pegou ficha da ministra
Em carta enviada hoje à Folha de S.Paulo, o jornalista Antonio Roberto Espinosa diz que o jornal ''mente e tergiversa'' até quando se retrata e é obrigado a reconhecer seus erros, como acontece hoje em relação à reportagem dominical que publicou no último dia 05.04, sobre a luta armada e a ministra-chefe da casa Civil da Presidência Dilma Rousseff. Também o advogado Aton Fon Filho, em comentário enviado a este blog, prova como a ficha policial da ministra Dilma, não só é montada como sua inautenticidade é facilmente provada.
O jornalista denuncia, ainda, que a ficha policial da ministra, que a Folha informou inicialmente ter retirado do DOPS – e no desmentido de hoje afirma ter recebido por e-mail – é, na verdade, ''montada'' no blog ''do coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel, o Dr. Asdrúbal, cúmplice e participante das matanças de Xambioá, e que foi reproduzida pelos blogs de ex-torturadores fascistas como o “Ternuma” e o mentiroso “A verdade sufocada”, de onde chegou à Sucursal de Brasília deste jornal''.
Leia abaixo, a íntegra da carta que o Espinosa enviou para publicação na Folha de S.Paulo:
''Até para se retratar e reconhecer seus erros a Folha de S. Paulo mente e tergiversa. O eufemismo do título “Autenticidade de ficha de Dilma não é provada” causa risos (p. A 12, 25/4/2009). Na verdade, o correto seria dizer que a ficha é falsa, que foi produzida há somente um ano ( e não há 40) e “envelhecida” pelo blog do coronel Lício Augusto Ribeiro Maciel, o Dr. Asdrúbal, cúmplice e participante das matanças de Xambioá, e que foi reproduzida pelos blogs de ex-torturadores fascistas como o “Ternuma” e o mentiroso “A verdade sufocada”, de onde chegou à Sucursal de Brasília deste jornal, que, subserviente aos torturadores de ontem e golpistas em pijamas de hoje, deu a ela foros de verdade inquestionável.
A matéria de retratação à Sucursal de Brasília, feita agora pela Sucursal do Rio, utiliza o termo “terrorista” a propósito da VAR-Palmares no seu lead e diz que a “reportagem” da Folha que envolve Dilma Rousseff no seqüestro que não houve de Delfim Netto “se baseou em entrevista gravada de Antonio Roberto Espinosa”. Por isso sou obrigado a: 1) lembrar aos leitores que “terroristas” são os autores do golpe de Estado que rasgou a constituição e a legitimidade em 1964 e brindaram o país com o famigerado AI-5 em 1968; 2) desafiar novamente o jornal a publicar a íntegra das entrevistas concedidas por mim, para que o próprio eleitor as compare com as imundícies da suposta reportagem. Antonio Roberto Espinosa, jornalista e professor universitário, Osasco/SP''
Destaco também o comentário do advogado Aton Fon Filho enviado a este site a respeito da farsa publicada pela Folha de S. Paulo:
''Há um problema mais grave ainda: A Folha diz que: ''O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada -bem como não pode ser descartada''.
Pois a Folha mentiu, já que a autenticidade pode ser descartada por qualquer um. O arquivo da ficha está em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0504200908.htm. Basta salvar essa imagem e, ampliá-la com um visualizador de imagens. Percebam que em torno de todas as áreas onde há algo escrito, há uma diferença de qualidade da imagem, denunciando a montagem.''
Veja abaixo detalhe da ficha enviada por Aton Fon Filho:
Fonte: Blog do Dirceu
– Matéria modificada dia 27/04/2009 às 22h28min.