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'Estadão' blinda senador tucano: como manipular a edição

Rui Nogueira vai levar na biografia o fato de — por amizade — ter indicado o livro de um ex-sócio para a cadeira de ética das faculdades de jornalismo. Imperdoável, conhecendo-se o teor do livro e o tipo de jornalismo praticado.


 


Mas não tira seu mérito de ter se tornado um jornalista exigente, a ponto de assumir o comando da sucursal do Estadão em Brasília.


 


Por isso mesmo, duvido que a reportagem do Estadão —  que parecia o último baluarte do jornalismo objetivo —  sobre Arthur Virgilio tenha saído da sucursal no formato em que foi editado.


 


Arthur Virgilio vai à Tribuna para se defender de acusações. Não explicou coisa nenhuma:


 


1. Disse que os US$ 10 mil que pegou emprestado de Agaciel foram pagos por três funcionários do seu gabinete, que se cotizaram. Agaciel diz que não. Ou Virgilio não pagou ou apropriou-se de salários de contratados do seu gabinete.


 


2. Não explicou os R$ 723 mil que o Senado bancou do tratamento de saúde de sua mãe.


 


3. Apesar do tom contrito, não explicou a nomeação de parentes e apadrinhados de assessores seus (matéria de hoje na Folha).


 


4. Travestiu uma mamata —  o filho de um amigo recebendo do seu gabinete e trabalhando na Europa —  em denúncia sobre quem teria vazado a informação.


 


O que faz o Estadão? Os seis primeiros parágrafos da matéria —  que, lembre-se, é sobre as explicações de Virgilio para suas lambanças —  são dedicados a ataques aos adversários do catão. O penúltimo a explicações —  incompletas —  sobre as acusações de que é alvo. O último, em Virgilio acusando quem vazou a informação sobre a mamata com o filho do amigo. A reportagem não cobra explicação de Virgilio para a mamata e ainda coloca o acusado de vazamento se explicando.


 


Título da matéria: “Virgílio faz denúncia contra senador ao Conselho de Ética”. Dá para levar o jornal a sério?


 


Como disse o diretor de redação do Estadão: a edição é um dos pressupostos da liberdade de imprensa. Pergunto: como o Manual de Redação do jornal trataria essa manipulação óbvia da edição?