Crise faz empresas do exterior transferirem produção ao Brasil
O governo detectou nos últimos meses um movimento de empresas estrangeiras, sobretudo de pequeno e médio porte, que estão transferindo fábricas instaladas em países desenvolvidos para o Brasil, devido aos efeitos da crise econômica global.
Publicado 04/09/2009 15:37
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, como as multinacionais visam mercados consumidores em crescimento e querem criar plataformas exportadoras, trata-se de uma tendência que também beneficia outros países emergentes, principalmente a China. Por isso, a ordem dentro do governo é tentar elevar a atratividade do Brasil.
"Nós sabemos que é uma janela de oportunidade", afirmou o secretário de Comércio Exterior do ministério, Welber Barral. "Temos visto isso de forma bastante positiva. É geração de emprego, renda e diversificação da base produtiva brasileira." De acordo com ele, cerca de 50 empresas de pequeno e médio porte já transferiram fábricas inteiras dos Estados Unidos, Europa e Japão para o Brasil desde agosto de 2008, o que gerou um investimento no país de US$ 60 milhões.
Chamariz
O valor relativamente baixo para os investimentos se explica pelo fato de os maiores dispêndios estarem relacionados ao transporte de equipamentos e à eventual aquisição de componentes nacionais. Os setores que têm liderado a onda são autopeças, fios, produtos químicos e móveis."Em 2008, a gente já sentiu uma certa tendência. Está acontecendo muito mais, e sabemos que está relacionado à crise econômica", comentou Barral.
"O grande chamariz é o mercado consumidor brasileiro em expansão em um momento de crise. Depois, as empresas veem o acesso que o Brasil tem na América Latina", destacou o secretário, acrescentando que há companhias interessadas em usar o país como ponte para a África.
O Sindicato Nacional da Indútria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) também percebeu essa tendência. "As multinacionais têm muitas plantas totalmente paralisadas no exterior esperando o mercado retornar, mas não há nenhuma esperança de as coisas melhorarem significativamente no curto prazo", afirmou o membro do Conselho de Administração do Sindipeças Antonio Carlos Meduna.
"A maior produção hoje fora dos EUA e da Europa está na China. Os holofotes estão voltados para a China, então tudo que a gente puder atrair em detrimento da China é bom", acrescentou Meduna.
Abimaq
O Ministério do Desenvolvimento está reforçando a área responsável pela análise dos pedidos de importação de máquinas e equipamentos. Atualmente, tal trâmite demora cerca de quatro meses, e a meta do governo é reduzir o prazo para 45 dias. Em paralelo, a Rede Nacional de Informações sobre Investimento (Renai), órgão do ministério, está intermediando o contato de empresários e Estados para mostrar os possíveis incentivos fiscais.
Os esforços do governo, entretanto, podem esbarrar nos interesses dos fabricantes locais de bens de capital, já que a legislação dá poder à Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) para dificultar a entrada de produtos importados que tenham similar nacional.
Para o diretor-executivo de Comércio Exterior da entidade, Claus Curt Müller, quando isso ocorrer, a indústria nacional de máquinas e as empresas empenhadas em trazer equipamentos de outros países para o Brasil devem chegar a um acordo.
"A entrada de fábricas completas pode ter o lado positivo quando são inovadoras e com equipamentos que porventura não sejam fabricados no Brasil", disse Curt Müller, lembrando que adaptações e melhorias nessas unidades podem beneficiar a indústria nacional de bens de capital.
Com agências