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Celso Amorim compara Rodada de Doha a final de jogo de xadrez

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, se mostrou pessimista sobre as possibilidades de revitalizar a Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), objetivo de uma reunião ministerial que acontece em Nova Délhi desde quinta-feira.

Amorim aludiu a uma metáfora empregada pelo diretor da OMC, Pascal Lamy, que disse confiar que a conferência de Nova Délhi seja o "princípio do final de jogo" nas longas negociações da rodada de comércio aberta em 2001. "Às vezes, o final do jogo é muito mais longo que a abertura e o meio, de modo que o fato de que estejamos no final do jogo não significa que tenhamos acabado", especificou, aludindo ao jogo de xadrez.

Cerca de 30 ministros participam da reunião convocada pela Índia, entre eles, Amorim e representantes da União Europeia (UE). O objetivo é salvar a estagnada Rodada de Doha, após o fracasso das negociações de julho de 2008 em Genebra. O ministro brasileiro somou sua voz à do titular indiano de Comércio, Anand Sharma, ao apostar por manter a multilateralidade do processo negociador frente à proposta de organizar processos bilaterais, como fez a nova Administração americana.

"Neste processo há a necessidade de acordos bilaterais, mas estes não podem substituir aos multilaterais. Se queremos modificar o processo multilateral, será muito pior do ponto de vista dos países em desenvolvimento", disse. "Se quiser substituir e transformar a essência desta rodada, uma rodada focada na agricultura, para algo que implica conseguir mais dos países emergentes no setor manufatureiro, aí ela não irá acontecer, é isso", disse.

Novas oportunidades

Amorim recusou pronunciar-se sobre as possibilidades de fechar a Rodada de Doha em 2010, como se comprometeram os principais atores da OMC, e observou que já se "perderam muitos objetivos realistas". "Tudo depende de algo muito simples, na minha opinião, simples em termos técnicos mas talvez politicamente complexo: depende que todos os jogadores desejem finalizar", manifestou.

Concretizou que os países industrializados desejam concluir a rodada mas, quando se trata de concordar "aspectos concretos, sua atitude é diferente". Amorim foi menos crítico com a postura da UE, ao assegurar que não tem dúvidas que se mantêm no "comum denominador" alcançado em julho passado, nas fracassadas reuniões de Genebra.

As discussões de Doha, que estão em seu oitavo ano, podem gerar um acordo que impulsione a economia global em US$ 300 bilhões a US$ 700 bilhões por ano, segundo um estudo recente, apesar de haver outras estimativas mais baixas sobre os benefícios.
As negociações começaram na capital do Catar no final de 2001, com a intenção de criar novas oportunidades de comércio e remover desequilíbrios no comércio global que deixam os países “em desenvolvimento” em desvantagem.

Textos preliminares

Os ministros concordaram em relançar as discussões da Rodada de Doha com negociações intensificadas neste mês, afirmou Anand Sharma, o ministro de Comércio indiano, Anand Sharma. Os negociadores chefes dos países da OMC se encontrarão em Genebra a partir de 14 de setembro, antes do encontro do G-20 em Pittsburgh, para enfrentarem questões importantes nas conversas, agora em seu oitavo ano, com objetivo de completar a rodada até 2010, explicou ele.

"Chegamos a um acordo para intensificar as negociações", afirmou Sharma em conferência de imprensa depois de dois dias de conversas na Índia. "Ocorreram avanços nesse encontro… O impasse sobre a retomada das negociações foi quebrado". Líderes políticos pediram repetidamente nos últimos meses a conclusão da Rodada de Doha, iniciada em 2001, para ajudar os países em desenvolvimento a crescerem através da abertura do comércio, para ajudar o mundo a superar a crise econômica e combater o protecionismo.

O encontro em Délhi não se focou em nenhuma questão específica que continua aberta, como uma salvaguaarda para ajudar os produtores de países pobres a lidarem com uma inundação de importações, ou propostas para eliminar os impostos em alguns setores industriais. Isso ficará a cargo dos negociadores, mas Sharma se mostrou confiante que tais pontos serão resolvidos na mesa de negociação se assim os países desejarem.

As conversas serão retomadas a partir dos textos preliminares publicados em dezembro de 2008. Isso deve oferecer um certo conforto aos membros da OMC, desde o Brasil até a União Europeia, que temiam que os Estados Unidos quisessem se desfazer do que já foi estipulado nos últimos sete anos, ameaçando o acordo.

Com agências