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Unasul quer transparência em acordos militares

Encerrar o clima de desconfiança evidenciado na última cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), há pouco mais de duas semanas. Este é o objetivo dos países membros, na nova cúpula que se inicia nesta terça-feira (15), em Quito. A palavra da vez é "transparência".

Desta vez, não só a Colômbia prestará esclarecimentos sobre um recente acordo militar. Governos da região já anunciaram que vão querer mais detalhes sobre as recentes compras militares de Brasil, Venezuela e Chile. Na reunião entre chanceleres e ministros de Defesa dos 12 países que compõem o grupo, Brasil, Equador e Peru apresentarão propostas para monitorar acordos de defesa com países de fora da região.

Segundo o Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, vai sugerir aos colegas tratado que estabeleça a obrigatoriedade de cada país informar as movimentações militares e os acordos fechados com terceiros países.

A ideia é criar um cenário mais "transparente" para evitar conflitos diplomáticos como o gerado pela revelação de que os Estados Unidos passariam a usar sete bases militares no território colombiano. Amorim também insistirá para que sejam colocadas em documento as garantias dadas pelo governo de Álvaro Uribe de que o acordo com Washington visa apenas combater o "terrorismo interno" e o narcotráfico.

Por sua vez, os dois ministros brasileiros levarão a disposição do governo em esclarecer qualquer dúvida dos vizinhos em relação ao acordo com a França para aquisição de 50 helicópteros e cinco submarinos – um deles nuclear.

A posição foi defendida pelo ministro da Defesa boliviano, Wálker San Miguel, há 10 dias. "Certamente, o Conselho de Defesa vai tocar no tema Brasil-França e seguramente o Brasil dará informação adequada", disse o ministro à agência EFE.

O Paraguai deve criticar a que chama de "corrida armamentista" na América do Sul. "Obviamente, o investimento desproporcional (em segurança) tem consequências no bem-estar da população", disse o chanceler Héctor Lacognata. 

Já o embaixador da Venezuela na Colômbia, Gustavo Márquez, revelou em entrevista ao jornal El Tiempo, de Bogotá, qual será a mensagem dos representantes de Hugo Chávez em Quito. "Que todos coloquem as cartas sobre a mesa. Você tem um acordo com a Rússia? Então, coloque sobre a mesa. Você, com os Estados Unidos? Ponha-o sobre a mesa. É uma mostra de confiança", afirmou. A delegação venezuelana também deve detalhar  a compra de 92 tanques, sistemas de mísseis antiaéreos e mísseis terra-terra com alcance de 300km.

O diplomata afirmou que a delegação venezuelana irá ao Equador disposta a promover a recuperação da confiança mútua, e que para isso será importante que os países da região sejam transparentes com os vizinhos.

A cúpula de terça-feira dará continuidade às discussões sobre o novo acordo militar que a Colômbia deve assinar com os Estados Unidos para ceder sete bases em seu território. O tema foi tratado em um encontro de chefes de Estado da Unasul realizado no dia 28 de agosto na Argentina.

Naquela ocasião, porém, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, negou-se a apresentar detalhes do convênio, sob a alegação de que ele já havia sido fechado junto a Washington, faltando apenas sua assinatura.

Referindo-se ao acordo, o embaixador venezuelano reiterou que ele “pode significar uma ameaça real para a soberania” de seu país, posição já manifestada em várias ocasiões pelo presidente Hugo Chávez.

”Aqui está sendo montado um teatro de guerra. Nesta semana, os porta-vozes do Pentágono diziam que a Venezuela tinha fábricas de armamento em parceria com o Irã. Este formato não se parece ao que foi aplicado na guerra do Iraque para justificar a invasão?”, indagou.

“O objetivo dos Estados Unidos é promover o enfrentamento entre Colômbia e Venezuela, como fez com o Panamá. Eles estão fazendo isso para que rompamos nossas relações, para desestabilizar”, argumentou.

Perguntado se achava que os vínculos diplomáticos entre Caracas e Bogotá já estão rompidos, Márquez respondeu negativamente.

Nas últimas semanas, o governo do Equador, país que exerce a presidência rotativa da Unasul, disse que promoveria debates sobre "instrumentos de cooperação e transparência que incluam o compartilhamento de informações sobre estratégias, manobras e capacidade militar, além de orçamentos, equipamentos e instalações".

Em entrevista a O Estado de S. Paulo, o ministro da Defesa equatoriano, Javier Ponce, afirmou que o Conselho de Defesa da Unasul foi idealizado pelo Brasil como um fórum para discutir a modernização das Forças Armadas, o desenvolvimento da indústria bélica, a capacitação e homologação de carreiras militares, mas se transformou em algo de alto conteúdo político.

"Agora, nós já falamos na criação de um mecanismo de confiança mútua que permita ao conselho intervir nos outros países e monitorar suas estratégias militares. São medidas de confiança mútua, tanto no que diz respeito aos planos de desenvolvimento militar quanto aos equipamentos, instalações, convênios militares e manobras conjuntas", disse.

Segundo ele, essas medidads abordam o "fluxo de informação e a possibilidade de visitas de verificação. Contudo, o mais importante é desenvolver programas comuns que criem uma confiança real. Do contrário, tudo isso pode ter um sabor de desconfiança".

Com agências