Lecticia Cavalcanti: Vida longa ao Museu do Queijo de Coalho
O Museu do Queijo de Coalho nasce em bom tempo. E que tenha longa vida. Certamente não será nunca o mais pomposo, nem o mais luxuoso dos museus. Nem talvez tão conhecido como os outros. Mas será, com toda certeza, o mais saboroso de todos.
por Lecticia Cavalcanti, para o Terra Magazine
Publicado 23/01/2010 19:22
Na Grécia antiga "Museîon" era o templo das musas – daí vindo a origem do próprio nome, museu. Depois, no Egito, esse museu passou a ser lugar onde se promovia o desenvolvimento das ciências. Já em Roma, era gruta de meditação; ou lugar onde se exercitava a poesia. E assim a palavra foi mudando de sentido, dependendo do tempo e do lugar, até findar hoje como espaço onde estão guardados objetos de valor artístico, cultural ou histórico. Os museus importantes todo mundo conhece: o do Louvre (França), o do Prado (Espanha), o de Arte Moderna (Estados Unidos), o British Museum (Inglaterra), a Galleria degli Uffizi (Itália), o Museu Histórico Nacional (Brasil).
Agora, nasce outro, o Museu do Queijo de Coalho criado pelo governo de Pernambuco. Com sede em Garanhuns, junto de Bom Conselho, Jucati, Pedra, Sairé, São Bento do Una e Venturosa, importantes fabricantes desse queijo. Nessa região do agreste setentrional, chega-se a produzir cerca de 1,3 milhões de litros de leite/dia, com 800 fabricantes informais desse queijo. Para orientar o processo de fabricação, e conseguir melhorar a qualidade do produto, vai ser criado também o Centro Vocacional Tecnológico (CVT), o Centro de Ciências do Agreste Meridional (CECIAM) e um Centro Tecnológico de Laticínios. Já era tempo. Louvemos, pois, o governador.
Queijo de Coalho é presença obrigatória em todas as mesas nordestinas. Na literatura também. "Concordei gravemente, enquanto ele gritava pelo garçom, encomendando doce de jaca com queijo de coalho. O café grosso e amargo, com gosto de chaleira, servido em xícaras grandes e grossas, completou a refeição" escreveu Hermilo Borba Filho, em "A Porteira do Mundo". Está em todas as refeições – no café, no almoço e no jantar. Pode ser servido assado, derretido no forno ou grelhado. Acompanhando bolo, cuscuz, doce, baião-de-dois ou charque. O grande Mário Souto Maior em "Comes e Bebes do Nordeste", documentou seu preparo:
* mergulhe o coalho (formado pela "renina") na água, para fazer o soro;
coloque o leite cru (recém-ordenhado) numa vasilha e despeje nele o soro de coalho;
* deixe o leite em repouso por duas horas, para que haja coagulação (isso ocorre porque o coalho atua sobre a caseína, uma das proteínas do leite, fazendo com que o soro se separe da coalhada). Depois, com uma concha, retire o soro;
* coloque a coalhada em camadas, entremeadas com sal, no "cincho" – um molde vazado de madeira, vime ou metal, em que se aperta a massa do queijo para lhe dar forma e retirar o soro excedente;
* coloque por cima um pano e, com as mãos, faça pressão;
* retire do cincho e despeje sobre ele água fervendo;
* deixe sobre uma tábua polvilhada com sal. Vire o queijo de vez em quando, até sair o excesso de umidade.
O Museu do Queijo de Coalho nasce em bom tempo. E que tenha longa vida. Certamente não será nunca o mais pomposo, nem o mais luxuoso dos museus. Nem talvez tão conhecido como os outros. Mas será, com toda certeza, o mais saboroso de todos.
INGREDIENTES:
2 kg de charque (dessalgado, cozido e desfiado)
3 colheres (de sopa) de azeite
2 dentes de alho amassado
1 cebola bem picada
1 pimentão bem picado
2 tomates bem picados
2 kg de macaxeira
Sal
2 xícaras de leite
1 xícara de leite de coco
2 colheres (de sopa) de manteiga
3 gemas
1 colher (de café) de fermento em pó
3 claras em neve
Queijo de coalho ralado
Coco ralado
PREPARO:
Em uma panela, aqueça o azeite e junte alho, cebola, pimentão e tomates. Junte também o charque desfiado. Mexa bem. Reserve.
Descasque a macaxeira, lave e corte em pedaços e cozinhe em água e sal. Deixe até que fique bem macia. Esprema, quente ainda, em um espremedor de batatas. Junte o leite, o leite de coco, a manteiga, as gemas, o fermento, o sal, as claras em neve. Misture delicadamente. Reserve.
Em um pirex untado com manteiga, espalhe metade do creme de mandioca; sobre ele, o charque refogado e o restante do creme. Polvilhe com o queijo de coalho e o coco (ralados).
Asse em forno preaquecido, até que fique dourado.