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Argentina age para frear exploração de petróleo nas Malvinas

O governo da presidenta argentina, Cristina Fernández de Kirchner, advertiu nesta quarta-feira (18) que tomará, pacificamente, as medidas necessárias e adequadas para deter a exploração petroleira de empresas britânicas nas Ilhas Malvinas, em águas da plataforma marítima argentina.

O governo se dispôs a uma forte ação diplomática, que levará o chanceler Jorge Taiana à Organização das Nações Unidas (ONU), enquanto se estende o rechaço à solicitação dos conservadores britânicos, que pressionam o primeiro-ministro Gordon Brown para que envie mais navios da frota ao local, coisa que ele descartou nas últimas horas.

Embora o pedido tenha sido rejeitado, a linguagem bélica dos conservadores britânicos ativou velhas feridas e a demanda de milhares de argentinos pela recuperação da soberania das ilhas, um território tão distante da Grã-Bretanha – que exerce seu colonialismo desde o século XIX – e onde em 1982 se desenvolveu a guerra do Atlântico Sul. Na ocasião, o governo britânico enviou sua frota e, ajudado pelos Estados Unidos, derrotou os militares argentinos que a ditadura de então enviou para recuperar as ilhas.

A Grã-Bretanha pretende "explorar de forma unilateral e ilegítima os recursos naturais que são da república argentina e tomaremos medidas apropriadas para defender os seus interesses e direitos", disse o vice-chanceler argentino Victorio Taccetti a emissoras de rádio. 

A Argentina "defende então os seus direitos, obviamente, por meios pacíficos, tais como a ação bilateral e multilateral em organismos internacionais", assegurou, destacando que viajará para reunir-se com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para apresentar "a posição da Argentina em relação aos atos unilaterais do Reino Unido sobre as Ilhas Malvinas".

O impasse diplomático se intensificou nas últimas horas, quando foi oficializado o decreto presidencial estabelcendo que todos os barcos e navios que quiserem transitar por águas do país devam pedir autorização oficial prévia. O próprio vice-chanceler da Argentina reconheceu que, assim, será mais caro e difícil para as empresas britânicas a exploração de petróleo na área das Malvinas. “O decreto é parte da estratégia de defesa de nossos legítimos direitos (sobre as Malvinas), que são desconhecidos sistematicamente pelo governo britânico”, afirmou.

A resposta britânica a esta decisão veio em uma linguagem dura e, para alguns analistas locais, "desnecessariamente provocativa." Londres autorizou a prospecção de hidrocarbonetos na bacia das Malvinas para várias empresas. Estima-se que nos próximos dias chegará às ilhas a plataforma petroleira britânica Ocean Guardian.

Fontes da chancelaria informaram que foi solicitado ao ministério das Relações Exteriores que seja convocado o embaixador argentino em Londres para expor diretamente seu rechaço ao decreto. Também foi muito divulgada a declaração do presidente do grupo parlamentar responsável pelas Malvinas, Nicholas Winterton, que, ao qualificar como "patético e inútil" o decreto, sustentou que a Argentina não teria jurisdição alguma sobre as ilhas do Atlântico Sul e falou de uma "conduta hostil" por parte dos argentinos contra "um vizinho amigo".

Nesta quinta, a imprensa inglesa publicou que Londres enviou "secretamente" ao arquipélago uma nova força naval composta por embarcações de guerra e um cargueiro de assistência para reforçar a defesa do local. Os tabloides mencionam o navio HMS York como o responsável pela operação. Seria uma resposta ao decreto de Cristina Kirchner. A informação foi negada pelo Ministério da Defesa britânico.

Isso só confirma que os britânicos "se sentem donos das ilhas que estão a tantas milhas de distância porque a usurparam colonialmente em 1833", assinala um comunicado de vários grupos políticos e sociais locais.

Vários analistas estimam que este decreto "é um direito de soberania que a Argentina deve exercer e um sinal justo de que o país não pode permitir que os britânicos tomem um recurso natural que pertence a este país."

Eles também dizem que é grave que a Grã-Bretanha considere a plataforma marítima argentina como "águas internacionais". O governo também avalia as declarações do chanceler britânico, Chris Bryant, que afirmou que "não temos dúvidas da nossa soberania sobre as ilhas Malvinas e temos muito claro que o governo das ilhas tem o direito de desenvolver a indústria de hidrocarbonetos em suas águas", ao garantir que o projeto não será interrompido.

Para alguns analistas argentinos, tais declarações, em período eleitoral britânico, também são perigosas se "levam à uma tentativa de explorar o nacionalismo neste país e aos piores elementos do colonialismo, o que inidicaria um abandono das negociações e um desconhecimento do apoio internacional à luta argentina contra a descolonização".

O governo conseguiu forte apoio regional em sua demanda de soberania sobre as Ilhas Malvinas e poderá pedir explicitamente o apoio do Grupo do Rio e de outras nações. Também partidos políticos e organizações se preparam para responder a nível nacional.

Atualmente, há cerca de 1.600 membros das Forças Armadas do Reino Unido no arquipélago, além de quatro aviões Eurofighter Typhoons, um Hércules, um Vickers VC10 de recarga e dois helicópteros Sea King. Especialistas estimam que nas águas próximas às Ilhas Malvinas haja até 60 mil barris de petróleo.

Com La Jornada