Os "golden boys" continuam atacando a economia mundial
Pânico, especulação e ganho de dinheiro fácil são as metas das grandes agências internacionais de avaliação de risco com as sucessivas ameaças que "lançam" de reavaliação (para baixo) da capacidade de endividamento de vários países.
Mary Stassinákis, no Monitor Mercantil
Publicado 19/02/2010 14:14
E isto apesar dos fortes sinais de recuperação detectados na Zona do Euro e no resto do mundo, tanto pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), quanto pela Organização para a Cooperação de Desenvolvimento (OCDE).
O "dinheiro esperto" (smart money), contudo, tem ponto de vista diferente. Graças à famigerada ferramenta da especulação de "preço baixo" (shorting) – isto é, vender algum papel hoje, para comprá-lo mais tarde a preço mais baixo, obtendo lucro pela queda – derrubaram as bolsas de valores, enquanto reconduziram a novas e históricas alturas tanto os spreads dos bônus, quanto as apólices de risco para o pagamento de dívidas (CDS).
A ameaça de uma segunda queda econômica está cada vez mais perto, enquanto a persistência dos alemães ao fiel cumprimento dos princípios do Acordo de Estabilidade e Desenvolvimento – famigerado "garrote vil" asfixiando os países-membros da União Européia (UE) – em sintonia com o dilema de Bruxelas, isto é, se devem primeiro asfixiar a Grécia para obrigá-la a adequar-se aos "fundamentos" e, assim, não encorajando os demais estados "libertinos" – resultou em barragem de declarações contraditórias e ações espasmódicas dos "empoados" lideres europeus e das igualmente "empoadas" autoridades da UE.
Incêndio se espalha
O resultado foi que, enquanto, a crise se desenvolvia, revelou-se que na Zona do Euro não existem soluções de "urgência urgentíssima" e sequer postura comum para enfrentamento e solução de problemas econômicos.
Em outras palavras, as "empoadas" autoridades do Banco Central Europeu (BCE) e da Comissão Européia (CE) – órgão executivo da UE – assobiavam modinhas em voga nos cabarés de Frankfurt e de Bruxelas, indiferentes, deixando o incêndio se espalhar por toda Europa.
A Europa não reage, enquanto o insaciável apetite dos especuladores aumenta. Fato ocorrido na última semana de forma mais dramática nas bolsas de valores, que mergulharam em profundidades de bimestre, mas, também, no mercado de câmbio. O euro despencou em profundidade de oito meses contra o dólar, enquanto indicativo dos "desejos selvagens" foi o fato de que executivos do Morgan Stanley aconselhavam seus clientes a apostar contra a moeda da Zona do Euro.
Alguns analistas confiáveis destacam que as instituições de investimentos e financeiras agem sem controle oficial e sem alguma barreira pelos fortes do planeta, os quais, muito em breve, serão atacados pelos especuladores, porque como se sabe "o dinheiro não tem pátria".
E não é por acaso que o último relatório do Deutsche Bank, abordando o problema, está bem claro: "Os problemas atuais que enfrenta a Europa periférica poderão representar prova sobre aquilo que poderão enfrentar mais tarde os EUA e a Grã-Bretanha."
Efeito Bumerangue
O dinheiro barato não foi utilizado para tonificar a economia, mas para gerar lucros aos mercados. E o curioso é que a especulação foi realizada com os recursos dos pacotes estatais de ajuda, isto é, o dinheiro barato que os grupo financeiros embolsaram oferecidos pelos bancos centrais não foi utilizado – em grande parte – para tonificação das economias, mas para cobrir os próprios "buracos negros" dos destinatários e, garantir-lhes lucros polpudos.
Com a "prática" adquirida os colossos financeiros estão, essencialmente, minando os esforços envidados durante os últimos dois anos por todos os países a fim de saírem da pior crise vivida desde o Crash de 1929, criando terreno promissor para a eclosão de uma nova e ainda pior crise mundial, que será acompanhada por fortes convulsões políticas, sociais e institucionais.
Constitui segredo comum o fato de que por trás dos negativos relatórios das agências internacionais de avaliação de risco durante os últimos quatro meses escondem-se mandantes, os países fortes do planeta, isto é, EUA (principalmente), Grã-Bretanha, Alemanha e França – quatro dos sete países-membros do G7+1 (do qual participam ainda a Itália – que dissimula sua própria grave crise, Canadá, Rússia e Japão – cuja crise crônica é de domínio público).
Países europeus cairão um após o outro
"Com as dívidas estatais e as dificuldades fiscais permanecendo fontes de preocupações permanentes, a volatilidade nos spreads não deverá desaparecer rapidamente", dizem analistas confiáveis, enquanto executivos do Royal Bank of Scotland avaliam que "a crise das dívidas estatais da Zona do Euro atinge novos níveis e o caso de epidemia torna-se cada vez mais sério".
Anotem que, o tema não apavora somente o Velho Continente, mas, também, os EUA e a Grã-Bretanha, que registram gigantescas dívidas estatais e déficits escritos em percentuais de dois dígitos.
Aqui, na Europa, o custo de endividamento dos estados, as taxas de juros dos bônus, os spreads e o custo de seguro (CDS) explodiram às alturas, não só na Grécia, na Península Ibérica e na Irlanda, países considerados "elos fracos" da Zona do Euro, mas também nos fortes do euro (Alemanha e França).
Corridas semelhantes registram os spreads da Itália, Espanha, Portugal e Irlanda. Não são poucos os que acusam os "empoados" líderes europeus de "miopia" e "paralisia", avaliando que, para a "reversão das expectativas", deverá haver uma estratégia única da UE. Caso contrário, os mercados despedaçarão como galhos um a um os países europeus.