Parlamento grego aprova plano para cortar gastos públicos
A maioria que o governo mantém no Parlamento grego funcionou contra os interesses majoritários da população, que na quarta (5) parou o país num vigoroso protesto contra o pacote negociado com o FMI. Nesta quinta (6), os parlamentares aprovaram o pacote, por maioria absoluta.
Publicado 06/05/2010 15:51
As medidas, supostamente destinadas a reduzir o déficit fiscal nos próximos três anos, foram a condição para que o país tenha acesso ao pacote de ajuda de 110 bilhões de euros patrocinado pelas nações da zona do euro e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).
Arrocho
O programa de austeridade foi aprovado por 172 deputados, enquanto 121 votaram contra e três se abstiveram. Do total de 300 membros do Parlamento (unicameral), quatro faltaram à sessão.
O pacote é cruel com a classe trabalhadora. Busca cortes de 30 bilhões de euros em três anos, abrange duras reduções salariais e de aposentadorias, tanto no setor privado como no público, e vetará novas contratações de funcionários nos próximos três anos.
A aprovação da legislação para obter a ajuda internacional era dada como certa, já que o Movimento Socialista Pan-helênico (Pasok), com 160 deputados, tem maioria absoluta no Parlamento.
Crise
Na Grécia, o primeiro-ministro George Papandreou afirmou que o pacote de ajuda financeira da UE e do FMI é a "única esperança" para evitar a bancarrota do país. Os trabalhadores, os sindicalistas e os comunistas gregos não pensam da mesma forma.
O acordo, que prevê uma ajuda financeira de 110 bilhões de euros ao país até 2012, demanda que a Grécia adote severas medidas para cortar gastos e apresenta a conta ao povo trabalhador, o que despertou justa insatisfação popular. Ontem, três pessoas morreram durante manifestações contra as medidas que o governo pretende adotar para abater o deficit público, e que devem ser votadas nesta quinta-feira pelo parlamento grego.
Evitando a moratória
O primeiro-ministro afirmou ainda que o governo não tem escolhas a não ser a impor as medidas de austeridade, que enfrentam resistência no parlamento local. Ele disse que o pacote de medidas de austeridade fiscal foi apresentado com urgência porque o país tem cerca de 8,5 bilhões de euros em dívidas a vencer no próximo dia 19. Sem dinheiro, a Grécia fatalmente teria que declarar um "default" (suspensão de pagamentos).
"Os cofres do Estado não têm dinheiro. Atualmente, o país não pode emprestar do mercado internacional. E o único jeito de evitar a bancarrota e a suspensão dos pagamentos é tomar dinheiro dos nossos parceiros da Europa e do Fundo Monetário Internacional", declarou.
O argumento de Papandreou é o mesmo do FMI e da cúpula da União Europeia e reflete, no fundo, os interesses da oligarquia financeira, maior responsável pela crise. Tudo que se pretende com o pacote de arrocho é evitar a moratória e assegurar, assim, os interesses dos credores, ainda que à custa dos interesses da nação e, em especial, dos trabalhadores e trabalhadoras. A alternativa da suspensão dos pagamentos é uma saída mais barata, suave e rápida para a crise, conforme sugere, entre outras, a experiência da Argentina depois de 2001.
Riscos
A crise na Grécia ameaça a estabilidade do euro e da Europa. O país tem dívidas na casa dos bilhões de dólares que vencem no curto prazo, o que tem aumentado a desconfiança dos agentes de mercado de que o país mediterrâneo pode entrar em "default" (suspensão de pagamentos).
Os títulos da dívida grega são negociados com juros recordes na praça financeira internacional, o que demonstra o grau de desconfiança entre os tomadores. Nenhuma parcela dos 45 bilhões de euros (cerca de US$ 60 bilhões) já foi liberada, e o plano de socorro (aos bancos) ainda precisa passar pelo crivo de cada um dos países da UE.
A Alemanha, que deve entrar com "a parte do leão" do montante total da ajuda, mostra resistências, e pressiona a Grécia exigindo medidas ainda mais duras para controlar os deficits. O drama grego ainda está muito longe do fim, conforme afirmou o jornalista estadunidense Paul Krugman em matéria reproduzida nesta 5ª pelo nosso portal.
Da redação, com agências