Concentração: Pão de Açúcar e Casas Bahia selam acordo
Depois de seis meses de negociação, a Casas Bahia e o Pão de Açúcar finalmente selaram um acordo que retoma o processo de fusão entre as redes. Composto por mais de dez contratos, o acordo final foi assinado no início da noite de quinta (1) pelos representantes da família Klein, dona da Casas Bahia. Já Abilio Diniz, controlador do grupo Pão de Açúcar, era aguardado para a assinatura dos termos por volta das 23 horas.
Publicado 02/07/2010 19:17
Cerca de 200 assessores, entre advogados, analistas financeiros e consultores, acompanharam o caso. Os principais pontos reclamados pela Casas Bahia, que em janeiro pediu a suspensão da fusão para renegociar os termos, teriam sido atendidos. Segundo as fontes, foram definidas "regras equilibradas e eficientes de participação da família Klein na gestão da nova empresa". Os ativos das redes Ponto Frio e Casas Bahia foram reunidos sob a Globex.
Outra reclamação dos Klein dizia respeito à liquidez da Globex, que tem só 4,5% das ações em bolsa. Para eles, que ficaram com 49% da empresa, a situação limitava a autonomia. "O novo acordo prevê mecanismos de retirada da família quando acharem conveniente".
“Cadê o dinheiro?”
A principal questão pendente dizia respeito ao valor dos ativos das companhias. A Casas Bahia defende que seu valor contábil é de R$ 2,7 bilhões, mas a rede havia sido equiparada ao valor de mercado do Ponto Frio na bolsa, ao redor de R$ 1,3 bilhão. "Houve um equilíbrio do patrimônio investido pelas partes", diz a fonte. Para isso, foi preciso melhorar as condições de locação das lojas. O valor inicial estava previsto em R$ 130 milhões, mas os Klein queriam mais. Diniz chegou a propor injeção de R$ 1 bilhão na nova empresa.
"Na época do primeiro acordo, em dezembro, o fundador da Casas Bahia, Samuel Klein, reclamava em voz alta enquanto assinava os acordos: ' Cadê o dinheiro? Cadê o dinheiro? ' ", diz uma fonte que acompanhou a negociação. Isso porque houve apenas troca de ações entre as duas redes.
Em dezembro, Pão de Açúcar e Casas Bahia se uniram, criando a maior varejista de eletromóvel do país, com faturamento de R$ 18 bilhões. Mas em seguida a Casas Bahia pediu a revisão do contrato, alegando que muito do que havia sido negociado verbalmente não foi escrito. "Os Klein acreditavam que tudo continuaria como estava, iriam mandar e desmandar na rede, sem interferência do Pão de Açúcar", diz uma fonte.
A negociação reflete uma tendência objetiva do desenvolvimento da economia nas condições históricas atuais, que é a crescente concentração e centralização do capital, processo que se intensificou no ramo do comércio varejista ao longo dos últimos anos.
Fonte: Daniele Madureira, do Valor