Ação e prestígio: ótimo casamento cinematográfico
O cinema de ação foi um gênero tradicionalmente desprezado pelos críticos, mas amado pelo público, mas o caso atual de "A Origem", protagonizado por Leonardo DiCaprio, lembra que, como em "Bullit" e "Os Infiltrados", a adrenalina e o prestígio podem conviver muito bem.
Por Mateo Sancho Cardiel, em EFE
Publicado 20/07/2010 15:36
O cinema de ação foi um gênero tradicionalmente desprezado pelos críticos, mas amado pelo público, mas o caso atual de "A Origem", protagonizado por Leonardo DiCaprio, lembra que, como em "Bullit" e "Os Infiltrados", a adrenalina e o prestígio podem conviver muito bem.
Com "A Origem", Christopher Nolan repete a façanha conquistada com "Batman: O Cavaleiro das Trevas": demonstrar que manter o espectador cravado na poltrona sem recorrer ao golpe de efeitos especiais requer um fundo dramático, uma construção de personagens e uma artilharia visual digna de elogio.
Ou seja: é possível ser um bom diretor sem que "ação" seja somente a palavra que segue a "luzes" e "câmera".
De fato, após o mega êxito de Batman para o cinema, a Academia de Hollywood se deu conta de que estava deixando de lado um gênero com peças nada desdenháveis, e um ano mais tarde ampliava para dez as finalistas de melhor filme para dar lugar a obras menos "oscarizadas".
No prêmio máximo estavam a frenética invasão extraterrestre de "Distrito 9", e "Bastardos Inglórios" de Quentin Tarantino, que dota da mesma agilidade os diálogos e as metralhadoras, e certamente "Avatar", do guru de massas James Cameron. No entanto, nenhuma foi a vencedora da noite.
Martin Scorsese com "Os Infiltrados" havia quebrado a maldição do gênero em 2006, que desde "Rocky", 30 anos atrás, não tinha tido um expoente tão claro alçado como a melhor produção do ano em prêmios do Oscar, embora a ação tenha colado em forma de thriller com "O Silêncio dos Inocentes" ou recebida pela ambientação histórica em "Coração Valente" e "Gladiador".
"O Fugitivo" ressaltou em 1993 que a antologia do cinema também se escreve com adrenalina, e disso sempre soube Steven Spielberg, que não hesitou em colocar ação em seus filmes de aventuras com Indiana Jones, ou suas ficções científicas com "Jurassic Park" e "Minority Report".
Além de Tarantino, Spielberg, Cameron e Nolan, falou-se de "professores da ação" nos casos de Michael Mann com seu vibrante "Fogo contra Fogo", e Paul Greengrass, com suas contribuições à saga de Jason Bourne.
Nos anos 70, o contexto político favorecia que o cinema de espionagem estivesse em um momento de especial lucidez: não só na irregular série de James Bond, mas com títulos como "Três Dias do Condor" e "Todos os Homens do Presidente".
Sydney Pollack e Alan J. Pakula, respectivos diretores daqueles filmes, ainda seriam nos anos 90 responsáveis pelas melhores adaptações dos best-sellers de John Grisham: o primeiro com "A Firma" e o segundo com "O Dossiê Pelicano".
E um homem, Brian De Palma, dedicou toda sua carreira a explorar a linguagem cinematográfica com espetaculares sequências de ação: de "Os Intocáveis" a "Femme Fatale". Roman Polanski com "Busca Frenética" e inclusive John Cassavetes com "Gloria", souberam pegar o trem da ação suas obsessões pessoais.
E apesar da impressão de que ação implica em meios e que os meios estão concentrados em Hollywood, muitas vezes as melhores mostras do gênero vieram de outras regiões.
A partir de Hong Kong, Johnnie To, com filmes como "Sparrow" e "Election", passou pelos festivais mais importantes da Europa, da mesma forma que Takeshi Kitano, que com "Zatoichi" e "Hana-bi" conseguiu deixar sem fôlego mais à crítica do que ao público. E não se pode esquecer que o próprio "Os Infiltrados" é um remake, embora não declarado, de "Conflitos Internos", de Lau Wai Keung.
Na Europa, também não hesitaram em testar a sorte no ritmo sincopado: Luc Besson, com "Leon", Tom Twyker, com "Corra, Lola Corra", Guy Ritchie, com "Snatch – Porcos e Diamantes", e inclusive o espanhol Daniel Monzón com "Cela 211" deram um toque muito mais "artístico" a este gênero para massas.
E claro, o cinema clássico de Hollywood, com sua capacidade para não confundir discurso direto com a simplicidade, presenteou verdadeiras obras-primas como "Intriga Internacional", de Hitchcock, muitos filmes de John Frankenheimer e "Bullit" e "Fugindo no Inferno", ambas protagonizadas por Steve McQueen.