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Ipea: desemprego aumentou para os mais pobres entre 2005 e 2010

A economia nacional gerou milhões de postos de trabalho ao longo dos últimos anos, o que elevou a taxa de ocupação e reduziu em 31,4% o número de desempregados. Observadores afoitos chegaram a falar em “pleno emprego”, mas isto está longe de corresponder à realidade para muitos brasileiros, especialmente os mais pobres.

Comunicado divulgado nesta quinta-feira (10) pelo Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada, o Ipea, indica que a redução do desemprego não se distribuiu de forma homogênea para as diversas faixas de renda da população ocupada. Para os mais pobres, situados no primeiro decil da classificação feita pelo órgão (correspondente aos 10% com menor rendimento), o índice de desocupados avançou de 23,1% em 2005 para 33,3% em 2010, quando se verificou uma redução em relação ao ano anterior, quando a taxa ficou em 37,9%.

O estudo realizado pelo instituto é baseado nos números sobre emprego e desemprego do IBGE, que pesquisa as seis principais regiões metropolitanas do país (Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador e Recife).

Pleno emprego no andar superior

Conforme revela o gráfico do Ipea, reproduzido abaixo, o nível de desemprego evolui na proporção inversa da renda, ou seja, quanto maior a renda menor o desemprego, a tal ponto que não é exagero falar em pleno emprego para os que ocupam o andar superior do leque salarial.

No décimo ou último decil (os 10% com maior rendimento), a taxa de desocupação é de desprezíveis 0,9%; no penúltimo (nono), de 1,4%; no oitavo, 1,4% e assim por diante, até os 15,8% do segundo decil e 37,9% do primeiro.



Maior desigualdade

Assim, constata o Ipea, “se percebe que a taxa de desemprego, que tende a ser mais elevada entre os trabalhadores de menor rendimento, tornou-se ainda mais um elemento de maior desigualdade no mercado de trabalho. Diante de comportamentos distintos na evolução da taxa de desemprego entre 2005 e 2010, a desigualdade aumentou. A taxa de desemprego do primeiro decil em relação à do décimo decil, que era 11 vezes maior em 2005, passou a ser 37 vezes superior em 2010”.

Em função disto, o peso relativo dos mais pobres no exército de desempregados aumentou enquanto decrescia o número de desempregados nas seis regiões metropolitanas. “No caso dos trabalhadores situados entre os 20% de menor rendimento [primeiro e segundo decis] houve aumento da participação relativa. Em 2010, representavam 45,2% do total de desempregados, enquanto em 2005 eram 37,4% dos sem ocupação nas seis regiões metropolitanas do Brasil. Ou seja, um acréscimo de 20,9%”.

“No que concerne à situação de pobreza”, agrega o Comunicado, “constata-se que no Brasil metropolitano a desigualdade terminou sendo amplificada entre o conjunto de desempregados. No ano de 2010, a taxa de desemprego dos trabalhadores não pobres foi de 2,8%, enquanto em 2005 era de 4,5%. Para os trabalhadores pobres, a taxa de desemprego passou de 14,4% para 18,5% no mesmo período de tempo.”

Constata-se aumento de 28,5% na taxa de desemprego dos trabalhadores pobres entre 2005 e 2010. O resultado foi o aumento da desigualdade entre trabalhador pobre e não pobre. Em 2010, por exemplo, a taxa de desemprego do trabalhador pobre foi 6,6 vezes maior, enquanto em 2005 era 3,2 superior. Quase 55% dos desempregados nas regiões pesquisadas eram pobres em 2010.

Aparente contradição

Contraditoriamente, o tempo médio de procura por trabalho aumentou para os que ganham mais e reduziu para os mais pobres. Em dezembro de 2010 o desempregado pobre ficava em média 248,3 dias procurando emprego contra 341,4 dias em 2005, uma queda de 27,3%. Já no décimo decil o tempo médio de procura por trabalho, no mesmo período, subiu 15,7%, passando de 277 dias em dezembro de 2005 para 320,6 no mesmo mês do ano passado.

“A interpretação dessa situação parece ambígua”, pondera o Comunicado. “Por um lado, sugere que o desemprego, ao longo dos últimos cinco anos, se tornou menos duradouro, particularmente entre os mais pobres. O aumento do tempo de procura entre os desempregados de maior rendimento familiar per capita sugere que estes podem estar sendo mais seletivos em relação à aceitação de novos empregos. Por outro lado, a diminuição do tempo de procura entre os mais pobres também é indicativo de que estes acessam principalmente trabalhos precários e de curta duração, retornando rapidamente à condição de desemprego. Ou mesmo, a expressão direta da intensa rotatividade na ocupação de baixa renda.”

Desafio e oportunidade

Nas considerações finais do documento, o Ipea conclui que na segunda metade da década iniciada em 2000 “o Brasil registrou avanços socioeconômicos importantes, com queda nas taxas de pobreza, desigualdade e desemprego aberto. Além do comportamento positivo da economia, se destaca o papel fortalecido da política social em favor dos mais pobres.”

“Apesar disto”, continua, “o país ainda registra situações de desigualdade inaceitáveis, como as observadas entre os desempregados com maior e menor rendimento. Não obstante a queda significativa na taxa total de desemprego entre 2005 e 2010 nas seis regiões metropolitanas do Brasil, houve situações inversas entre os mais pobres”.

O país, no julgamento do Ipea, tem o desafio e a oportunidade de “avançar mais em suas políticas públicas, objetivando melhor desenvolver o mercado de trabalho. Especialmente entre os desempregados há possibilidades de atuação pública mais avançada, visando a reduzir as desigualdades de rendimento e de condição de pobreza”.

Da Redação, Umberto Martins, com Ipea