Jô destaca As Mulheres Médicas
O centenário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, que ora se comemora, foi tema do pronunciamento da deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG) hoje (16), na tribuna da Câmara.
Publicado 16/03/2011 16:52 | Editado 04/03/2020 16:50

Oportunidade em que destacou o lançamento do livro As Mulheres Médicas nas Entrelinhas, que conta a história da doutora Alzira Reis. Trata-se da primeira mulher graduada em Medicina no Estado de Minas Gerais. O livro, das professoras Ismênia Martins, da Universidade Federal Fluminense, e Anayansi Brenes, da UFMG, revela “o tour de force das mulheres para enfrentar o desafio de romper os limites impostos pela tradição e a reprodução familiar, tão característicos das primeiras décadas do século XX”, destacou a parlamentar.
Exceção
O título, As Mulheres Médicas nas Entrelinhas, já revela o quanto foi e continua sendo sofrida a conquista de espaços na vida pública, social e comunitária, pelas mulheres. O livro trata especificamente do ingresso delas na Faculdade de Medicina em meu Estado. E elas estão nas entrelinhas porque “são exceção, são diferenciadas”. E ainda hoje isso ocorre, ressalva Jô Moraes. “Porque, embora apresente um crescimento expressivo – a presença das mulheres na comunidade universitária praticamente dobrou nas últimas quatro décadas – há muito a avançar”.
Eis a íntegra do pronunciamento da deputada Jô Moraes:
Senhor presidente, senhoras e senhores deputados,
Na manhã de ontem, participei de uma pequena, mas importante reunião na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foi a comemoração do Dia Internacional da Mulher com uma homenagem à primeira médica graduada em Minas Gerais, a doutora Alzira Reis. Evento que faz parte das solenidades do centenário da Faculdade de Medicina. Na ocasião, as autoras do livro que retratada a vida de Alzira, “As mulheres médicas nas entrelinhas”, Ismênia de Lima Martins e Anayansi Correa Brenes, falaram sobre a obra. Mais que isso, sobre o tour de force das mulheres para enfrentar o desafio de romper os limites impostos pela tradição e a reprodução familiar, tão característicos das primeiras décadas do século XX .
Ismênia é doutora em História da Universidade Federal de São Paulo (USP) e professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professora emérita. Entre suas várias atividades está, ainda, o trabalho sobre imigração. Ela é coordenadora do Projeto Arquivo Nacional.
Já Anayansi é socióloga, doutora em História pela Universidade Fluminense e professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da UFMG.
O título do livro “As mulheres médicas nas entrelinhas” já revela o quanto foi e continua sendo sofrida a conquista de espaços na vida pública, social, comunitária, pelas mulheres.
O livro trata especificamente do ingresso das mulheres na Faculdade de Medicina. E elas estão nas entrelinhas porque “são exceção, são diferenciadas”. E ainda hoje isso ocorre. Porque, embora apresente um crescimento expressivo – a presença das mulheres na comunidade universitária praticamente dobrou nas últimas quatro décadas – há muito a avançar. Basta dizer que em 100 anos – um século de existência da Faculdade de Medicina da UFMG, apenas uma mulher alcançou o posto de diretora da instituição: a doutora Eleusa Machado de Brito.
E ainda hoje, como mostram as autoras da obra, as mulheres são minoria nos espaços de poder da Faculdade, os homens são ainda maioria esmagadora na classe de carreira. São três mulheres e 70 titulares do sexo masculino.
A questão tanto no livro quanto nas palestras do encontro foram tratadas com um viés surpreendente. Nada de vitimização. São histórias, posturas de mulheres que sabiam o que queriam e enfrentaram as várias barreiras para chegar lá. Sem drama!
Algumas ficaram pelo caminho, cederam ao status quo, outras como Alzira foram “convidadas a deixarem a pensão onde moravam, pois suas condição de estudantes de Medicina “não era desejável para o convívio das demais pensionistas”. Mesmo sendo Alzira neta de um senador mineiro, José Bento Nogueira, e por ele criada, ela teve o tratamento dispensado a outras tantas que ousaram desafiar as normas de então.
“Como lutei contra o preconceito de que é imoral a mulher que estuda medicina”, escreveu ela. Ou ainda, “o destino de uma mulher não pode ser o fogão”.. “deve haver mais mulheres no mundo pensando como eu”…
Senhores, senhores, faço esse registro para lhes aguçar a vontade de conhecer a obra de Ismênia e Anayansi retratando a vida de Alzira Reis e de outras médicas que ousaram ver e ir além do fogão, do ato de gerar e criar filhos.
Quero também registrar a palestra da doutora Leda Caporali, que fez uma singular exposição sobre a questão da visibilidade social da mulher a partir da máxima “À mulher de César não basta ser honesta; é preciso parecer honesta”. Quero destacar ainda a participação, a solidariedade e o apoio do diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, professor Francisco José Penna ao evento. Lá também estavam outros profissionais de destaque em seus setores como o doutor César Vieira, da Organização Pan-americana de Saúde (OPAS); Emely Vieira Salazar, coordenadora da Pastoral de Direitos Humanos da Arquidiocese de Belo Horizonte e Márcia de Cássia Gomes, do Consórcio Mulheres das Gerais; entre outros.
Era o que eu tinha a dizer."