Ângelo Alves: Salvar quem?
As conclusões das reuniões do Ecofin e do Eurogrupo, o “cenário” que rodeou estas reuniões, a sua agenda de trabalhos e as declarações proferidas à sua margem revelam bem da profundidade da crise estrutural do capitalismo, do aprofundamento da crise econômica e social no “velho continente” e das contradições que, no seu desenvolvimento, se intensificam no espaço da União Europeia e desta com os EUA.
Por Ângelo Alves*
Publicado 19/05/2011 08:32
As conclusões do Ecofin confirmam um cenário de grande instabilidade na Europa. O cenário da generalização das chamadas “crise da dívida soberana” é uma real possibilidade e indissociável das tendências de fundo de aprofundamento da crise na tríade capitalista, como o comprovam as recentes declarações de Obama que, alertando para os riscos de um impasse em torno do teto da dívida norte-americana, afirmou que “poderíamos entrar na pior recessão que já houve. A pior crise financeira pela qual já passamos”.
A aprovação da mal dita “ajuda” a Portugal é um passo mais no acelerado processo de concentração e centralização de poder econômico e político em curso na União Europeia, no construir de um “cordão sanitário” em torno das grandes potências capitalistas da Europa. Se faltassem provas, as situações na Grécia e na Irlanda, e os resultados das intervenções externas nestes países, aí estão a demonstrar que o que está em causa não é o interesse destes povos, mas sim “desconstruir” econômica e socialmente os países da periferia para salvar os grandes grupos econômicos das grandes potências.
E se os fatos não chegassem para provar atente-se então em duas declarações de dois altos responsáveis europeus, bem elucidativas de para que serve, e a quem serve, a União Europeia, o Euro e os seus mecanismos e programas “de estabilização”: Olli Rehn, Comissário Europeu dos Assuntos Econômicos afirmou na segunda-feira que “ajudando Portugal (…) protege-se simultaneamente a retoma econômica na Alemanha”, e Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, vendeu durante uma visita à China a “solidez” do Euro, sustentando essa afirmação na ideia de que o PIB de Portugal, Irlanda e Grécia, “representam apenas 6% do PIB da Zona Euro”.
*Membro da Comissão Política e do Comitê Central do PCP
Fonte: jornal “Avante!”