Férias coletivas nas montadoras preocupam os trabalhadores
Com o pátio abarrotado, a produção de veículos na fábrica da Ford, em Camaçari, vai parar por quase um mês. A partir da próxima segunda-feira, os cerca de 11 mil funcionários do complexo entrarão em férias coletivas e só retornarão ao trabalho em 10 de outubro. Com isso, cerca de 30 mil carros (Fiesta e Eco Sport) deixarão de ser produzidos no estado. A montadora não é a única a recorrer ao expediente, que amedontra os operários.
Publicado 06/09/2011 19:46
A categoria está apreensiva com a possibilidade de que as férias coletivas antecipem medidas mais drásticas de contenção da folha de pagamento, ou seja, demissões em massa. A Ford confirmou a suspensão da atividade na fábrica baiana. Numa nota breve, enviada pela assessoria de imprensa, a empresa alegou que a medida foi tomada “a fim de ajustar os estoques à demanda do mercado”, um lugar comum das montadoras em tais períodos.
Na semana passada, o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Sérgio Reze, já havia demonstrado preocupação em relação aos estoques de veículos nas concessionárias em todo o país. Em agosto, eles já representavam 40 dias de venda, enquanto o normal seria entre 21 e 22 dias. “Depois desse limite, a saúde financeira da concessionária pode ser afetada devido ao custo elevado de se manter os estoques”. Quem perde mais é a classe trabalhadora, já que os operários não dispõem de estabilidade no emprego e podem ser dispensados sem justa causa.
Volks e Fiat
A Volkswagen aproveitou feriados locais e da Independência, nesta quarta, para suspender a produção na fábrica de São José dos Pinhais (PR). Segundo o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Jamil D?Ávila, a montadora tem cerca de dez mil carros no pátio, quando o normal é um volume de quatro mil a cinco mil unidades.
Enquanto isso, na Fiat, parte dos trabalhadores da fábrica de Betim (MG) vai emendar o feriado da Independência e voltar ao trabalho na próxima quinta-feira. Segundo a montadora italiana, a parada se deve "a ajuste de mix" de produtos em estoque e manutenção da fábrica. A empresa não soube precisar o número de funcionários envolvidos. No mês passado, a empresa paralisou toda a produção da fábrica da Argentina pelo mesmo período.
Taubaté
Além de Camaçari, a Ford anunciou férias coletivas de dez dias a 1,3 mil dos 1,6 mil funcionários da fábrica de motores de Taubaté (São Paulo, a 130 quilômetros da capital). As paradas ocorrerão em datas distintas, começando no próximo dia 19. Em São Bernardo, no ABC, a produção de caminhões para entre os 8 e 16 deste mês. A produção de carros será interrompida de 5 a 9 deste mês e a de estamparia, da mesma forma que Camaçari, não funcionará da próxima segunda até 7 de outubro.
Na General Motors, 300 funcionários voltaram ontem de 15 dias de férias pontuais na fábrica de São José dos Campos, a 94 quilômetros da capita. Neste período, a unidade fabril deixou de produzir 1,5 mil veículos.
Os ajustes na produção são feitos após forte ritmo de produção no primeiro semestre, quando as montadoras chegaram a abrir turnos extras para dar conta da demanda por veículos do Brasil.
Estoques em alta
Os estoques de veículos subiram. No fim de julho, havia 367,1 mil unidades nos pátios das revendas e das fábricas, suficientes para 36 dias de vendas. No mês anterior, havia 341,9 mil carros parados, equivalentes a 33 dias de vendas. Na ocasião, o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, disse que 35 dias de estoques seria considerado crítico, pois começa a pesar significativamente nos custos das empresas.
Ontem, porém, ele afirmou ver os números com normalidade. “Para quem já viu 60 dias de estoque em 2009 é uma maravilha”, disse. Em junho, a Fiat chegou a dar férias coletivas de uma semana para parte dos seus funcionários para baixar estoques.
Nos sete meses deste ano, a indústria automobilística vendeu 2,043 milhões de veículos, 8,6% a mais que em igual período de 2010. Já a produção somou 2,017 milhões de unidades, alta de 4,3% ante o ano anterior. A diferença foi coberta pelas importações, que cresceram 35,8% no período, para 457,3 mil veículos. A maior parte é de carros trazidos pelas próprias montadoras da Argentina e do México, países para os quais elas também exportam.
Recorde
A Anfavea projeta vendas recorde para este ano, de 3,7 milhões de veículos, uma alta de 5% em relação a 2010, o que significa uma desaceleração no ritmo de crescimento nos próximos meses. “Existe uma conjuntura internacional desfavorável que não sabemos ainda as consequências, por isso nossa aposta é de que o mercado brasileiro vai crescer no mínimo 5% este ano”, disse Belini.
Os resultados de vendas no mês passado, de 306,2 mil veículos, e da produção, de 307,2 mil unidades, foram os melhores da história para meses de julho. O setor encerrou o mês com 143,7 mil empregados, o maior contingente em 25 anos.
As exportações somaram 46,5 mil unidades e, no ano, acumulam 296,4 mil veículos, alta de 5,3% ante 2010. Belini ressaltou que a balança comercial do setor já contabiliza déficit de 160,9 mil veículos, um dos argumentos usados pela Anfavea para pedir ao governo medidas de proteção à indústria nacional.
Estímulo fiscal
“O plano de competitividade anunciado pelo governo é extremamente oportuno porque o Brasil precisa recuperar a capacidade de se desenvolver do ponto de vista manufatureiro”, disse Belini. Com isso, disse, o País poderá atrair novos investimentos.
Além da redução do IPI, as montadoras serão beneficiadas, dentro do Plano Brasil Maior, com a prorrogação até o fim de 2012 da desoneração de impostos para caminhões e comerciais leves (antes prevista para terminar em dezembro), pela prorrogação dos programas Finame e PSI e pelo Reintegra, que prevê a compensação de até 3% do faturamento com exportações.
Com agências