Letônia: Cidadãos de Jelgava pedem homenagem a soviéticos

Os habitantes da cidade de Jelgava (pronuncia-se Ielgava) na Letônia, querem solicitar ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, que confira à localidade o título da “Cidade da Glória Militar”, atual versão da distinção "Cidade-Heroi" soviética, que homenageava cidades que tiveram grandes perdas na Segunda Guerra Mundial.

Ao mesmo tempo, as autoridades da cidade fazem propaganda das idéias do neonazismo. Os peritos afirmam que este é um sintoma alarmante da cisão cada vez maior entre a sociedade e o Estado.

Foi a Associação da Cultura Russa Veche que publicou na imprensa o apelo a Vladimir Putin de incluir Jelgava na lista de cidades da glória militar. Os militantes deste movimento estão convencidos de que apenas o reconhecimento oficial pode ajudar a restabelecer a justiça.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Jelgava – a quarta maior cidade da Letônia em habitantes – foi ocupada pelos nazistas e no período de 1941 a 1945 foi palco de massacres de civis.

Milhares de soldados e oficiais soviéticos pagaram com as suas vidas a libertação desta cidade. Mas as autoridades letãs preferem elevar à categoria de herois os policiais letões que serviram o regime nazista.

Por isso, o pedido de atribuir a Jelgava o título honorífico de Cidade da Glória Militar foi endereçado ao presidente da Rússia – sucessora da União Soviética – revela Anton Bukhvalov, membro da direção da associação Veche.

"No período de 28 de julho a 10 de outubro de 1944 na cidade de Jelgava tombaram mais de 2,3 mil soldados do Exército Vermelho, mais de 12 mil foram feridos. 72 militares foram agraciados com o título de Heroi da União Soviética – 16 deles postumamento", descreve.

"É este o resultado da libertação da nossa cidade dos invasores nazifascistas. Pode-se afirmar com toda a razão que Jelgava foi a pequena Stalingrado do litoral báltico. A nossa iniciativa deve imortalizar a memória dos que libertaram a nossa cidade e dos que a restabeleceram – de todos os militares do Exército Vermelho e da Marinha de Guerra. Foi uma vitória comum", relata.

"Acreditamos que a justiça histórica deve acabar por triunfar. O fato de nós estarmos fora dos limites da Federação Russa não deve servir de obstáculo, pois a Rússia é sucessora da União Soviética", julga.

O título de Cidade da Gloria Militar permitirá erigir em Jelgava uma estrela em homenagem aos soldados soviéticos e cidadãos pacíficos que tombaram aí. Por enquanto, na cidade existe um único memorial militar – o monumento em homenagem aos soldados nazifascistas alemães.

Quanto aos seus crimes, cuida-se de passá-los em silêncio e banir dos livros de História. "As autoridades da Letônia tratam de elevar à categoria de heróis os hitleristas que eliminaram centenas de milhares de letões", relata o cientista político letão Vladimir Simindei, representante do fundo Memória Histórica.

"É um sintoma muito alarmante. Por um lado, a Letônia é, aparentemente, um Estado ocidental democrático, por outro, assistimos a manifestações abertas do neonazismo. Recordem o recente escândalo: certos indivíduos, trajando o uniforme das tropas e SS, chegaram a um jardim de infância e permitiram a crianças brincar com armas alemãs", relata Simindei.

"Os soldados da coalizão anti-hitlerista não têm até hoje nenhum estatuto oficial. Naquela época não existia um Estado letão que fosse independente de fato. A Letônia não participava da guerra. Mas as autoridades portam-se como se a Letônia estivesse ao lado de Hitler e esteja ofendida até agora com Moscou pela derrota do Terceiro Reich", revolta-se.

"Não é de surpreender-se com o fato de que Hitler não tinha prometido nada aos letões. Não houve nenhuma tentativa de criar uma Letônia independente, enquanto que no quadro da União Soviética existia a República Soviética Socialista da Letônia, em que se mantinha a sua cultura nacional, seu idioma e seus costumes", compara Simindei.

"É pouco provável que as autoridades russas atribuam a Jelgava este título honorífico, pois este ato será interpretado como intromissão nos assuntos internos de um Estado soberano. No entanto, este apelo ao presidente da Rússia é mais um pretexto para recordar a história do país e os seus verdadeiros heróis", afirma convicto Vladimir Simindei.

Cerca de mil cidadãos locais já assinaram o apelo ao presidente da Rússia, pois é precisamente ele quem pode incluir a cidade na lista da glória militar. Muitos deles são letões que preferem não falar russo mas recordam quem lutou contra quem naquela guerra. Eles são contra a atual lavagem da história para beneficiar o nazismo.

Com informações da Voz da Rússia